Corrida por commodities globais propulsiona alta do frete marítimo

A alta dos preços das commodities levou o frete marítimo do mercado tramp a ficar mais caro do que em qualquer outro momento da última década, ressuscitando uma indústria que estava de joelhos apenas um ano atrás.

A escala do boom, com a demanda em alta em quase todos os lugares por causa de uma ampla recuperação econômica e vastos programas de estímulo, apertou o transporte marítimo global, já que produtos como soja e toras competem com cargas tradicionais como carvão e minério de ferro. O aumento também destaca as pressões que a indústria de commodities sofre para atender a esse crescimento.

“As indústrias estão reabastecendo tanto produtos acabados quanto matérias-primas, o que está impulsionando a movimentação de cargas. Os volumes estão acima dos níveis pré-pandêmicos”, disse Burak Cetinok, chefe de pesquisa da Arrow Shipping Group Ltd. “Nos últimos 12 meses, a demanda por graneleiros foi impulsionada principalmente pela China, mas agora o resto do mundo aderiu com uma forte recuperação na demanda por commodities industriais.”

O Baltic Dry Index, uma medida do custo de transporte para tudo, desde safras até matérias-primas, subiu para 3.240 pontos nesta segunda-feira, logo abaixo de sua maior alta de quase 11 anos, estabelecida semana passada no dia 5 de maio.

Minério e Grãos

As exportações de minério de ferro da Austrália, um fluxo vital para exportadores de cargas granel, devem aumentar em maio-junho, com os exportadores buscando atingir suas metas de final de ano financeiro, disse Abhinav Gupta, analista de pesquisa da Braemar ACM Shipbroking.

O crescimento nos negócios de bauxita, carvão e grãos, apoiado pela aceleração da demanda global e chinesa por minérios menores e outros granéis, manterá o fornecimento de navios apertado e vai empurrar o frete para cima no curto prazo, disse ele.

Isso aumentou o frete cobrado por armadores menores e com isso aumentou o Baltic Dry Index, que abrange as principais classes de transporte de frete de mercadorias.

“O índice melhorou notavelmente, apoiado pelo crescimento do comércio marítimo de commodities, que impulsionou a alta nas taxas de frete para todos os segmentos de granéis sólidos, especialmente para navios maiores”, disse Gupta. “Acreditamos que as taxas de frete para navios Capesize subam ainda mais ou se mantenham firmes nas próximas semanas, o que empurrará o Baltic Dry Index ainda mais para cima”.

Reversão Total

Os navios Capesize, com 1.100 pés de comprimento e construídos para transportar centenas de milhares de toneladas de matéria-prima, estão ganhando mais de US$ 42.000 por dia, de acordo com o Baltic Exchange, em Londres. As taxas caíram um pouco na terça-feira, mas ainda estão perto das mais altas desde pelo menos 2013 e quase certamente por mais tempo. O Baltic Exchange ajustou a forma como formula alguns de seus preços nos últimos anos, tornando as comparações históricas imperfeitas.

O minério de ferro subiu para cerca de US$ 230 a tonelada esta semana, quebrando seu recorde anterior, com as usinas chinesas aumentando a produção para obter margens de lucro crescentes.

A Sanford C Bernstein, que rastreia as cargas de minério de ferro navio a navio, disse que espera que 5,1% a mais da matéria-prima seja transportada pelos mares no segundo trimestre em comparação com o primeiro.

Ainda assim, o aumento nos custos das commodities está alimentando temores de inflação, e perguntas estão sendo feitas em torno da necessidade de uma resposta dos bancos centrais. A alta também é uma ameaça ao crescimento econômico da China, que como maior consumidor de commodities do mundo já se moveu para tentar moderar os preços.

Se as commodities começarem a esfriar, os preços do frete podem ser um dos primeiros indicadores, de acordo com Colin Hamilton, analista da BMO Capital Markets.

“Vemos o frete como um mercado importante para observar qualquer sinal de destruição da demanda em meio a preços altos”, disse Hamilton.

A recuperação marca uma reversão total na sorte de um setor da indústria naval que viu as taxas de frete caírem para o menor nível em quatro anos, há menos de 12 meses. Os donos dos navios testemunharam um vasto excesso de capacidade acumular na crise financeira e isso levou anos para dissipar mantendo os fretes baixos.

O mercado está tão forte agora que os proprietários estão usando navios mais antigos que teriam sido demolidos em mercados mais fracos, disse Peter Sand, analista-chefe de transporte marítimo da Bimco, a maior associação internacional de transporte marítimo do mundo.

“Tudo está indo na direção certa para os graneleiros agora”, disse Sand, acrescentando que o apetite da China determinará quanto tempo durará o boom.

Fonte: Bloomberg

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