O estado do Ceará está projetando um polo com capacidade para produzir pelo menos 500 mil toneladas de hidrogênio verde por ano, que equivalem a cerca de 2,5 milhões de toneladas de amônia verde, e exportar para a Europa pelos portos do Pecém e de Roterdã, na Holanda, que são parceiros comerciais.
O hidrogênio verde (H2V) é visto pelo governo do estado como o combustível do futuro. Para ser considerado ‘verde’, o produto é obtido através de fontes renováveis, como energia eólica ou solar e, mesmo durante seu uso, não gera gases causadores do efeito estufa, como o carbônico.
Batizado de Hub de Hidrogênio Verde do Ceará, o espaço instalado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, foi lançado neste ano em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec). A ideia é buscar novos investimentos e ampliar as oportunidades de negócios e geração de empregos no Ceará.
Até o momento já foram assinados 18 memorandos de entendimento com empresas nacionais e internacionais para implantação de projetos no hub.
Hidrogênio verde
O uso do hidrogênio verde se estende de carros até indústrias. “Há possibilidade de se ter veículos carregados com o hidrogênio, ou fazer o aquecimento de residências e até mesmo utilizá-lo em indústrias que hoje usam carvão”, explicou o professor Fernando Melo Nunes, do Parque Tecnológico da UFC e que coordena a equipe de pesquisadores da universidade envolvidos no projeto.
Em entrevista, Nunes explicou que a produção do hidrogênio é feita, principalmente, pela eletrólise, processo que retira o elemento da água. “Gasta-se energia para separar o hidrogênio do oxigênio, em formato de água, nesse processo da eletrólise. Para que seja ‘verde’, usamos principalmente energia eólica e solar. No Ceará ambas são bem abundantes”, explicou Nunes.
Já a água é um recurso mais escasso no estado. “Por isso, a ideia é usar água de dessalinização ou de reuso. Essa última pode ser água do esgoto, após ser tratada”, acrescentou o professor.
Já na hora de transportar o hidrogênio obtido, Nunes conta que é possível fazer isso através da sua forma gasosa, liquefeita, ou convertendo o elemento em amônia. A primeira e a segunda forma são menos utilizadas e a expectativa é que o produto cearense seja transportado em forma de amônia.
O professor explica que a exigência da Zona de Processamento de Exportações (ZPE), que controla o Porto do Pecém, é que 20% da produção de hidrogênio seja utilizada internamente. “A universidade já pesquisa hidrogênio há muito tempo. Apenas agora se viu que ele sendo verde, ou seja, feito sem carbono e sem gerar carbono, é o fator que vai descarbonizar o planeta. Até 2030, a Europa quer que não se produzam mais carros a hidrocarboneto, por exemplo”, disse ele.
As empresas já confirmadas no projeto devem utilizar no processo produtivo uma energia que corresponde ao consumo brasileiro ao longo de um ano. “Somando, pode chegar a 17 gigawatts, muito próximo do consumo brasileiro. Eles não começam produzindo tudo isso, claro, mas cada planta deve ter potencial para ter de 2 a 3 gigas. As empresas que estão mais avançadas são as da Engie e Fortescue”, disse Nunes, citando as companhias brasileira e australiana.
O pesquisador lembra que, para gerar esse volume energético as empresas podem recorrer a possibilidades como produção de energia eólica no mar e usinas fotovoltaicas nos espelhos dos açudes. “Tem, inclusive, uma experiência como essa feita em Sobradinho, colocando as placas flutuando. E isso aumenta o rendimento. São coisas bem no sentido da melhora do meio ambiente e do mundo”, concluiu.
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