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A velha estratégia brasileira que, se aplicada pela Argentina, pode dar impulso ao Mercosul

jun, 24, 2024 Postado porGabriel Malheiros

Semana202426

Em 1995, durante a primeira presidência de Fernando Henrique Cardoso, dois engenheiros portuários brasileiros lhe apresentaram um projeto inovador chamado “Corredor Atlântico do Mercosul”. Eles alertaram o presidente que, se o Brasil não integrasse o Norte e o Nordeste do país com os principais centros produtores e consumidores existentes em São Paulo, essas regiões atrairiam apenas capital americano em infraestrutura, logística e produção industrial, enfraquecendo o poder integrador que o Mercosul tentava alcançar.

Em resposta, Fernando Henrique lançou o projeto, que inicialmente visava conectar um número de pontos estratégicos, chamado “Mesas Redondas de Integração”, tanto no interior do Brasil quanto ao longo da costa, de norte a sul.

Essa iniciativa conectou portos como os de Manaus, Belém, Itaqui, Recife, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Santos, São Francisco do Sul, Itajaí e Rio Grande, além de cidades do interior como Cuiabá, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, entre outras.

As “Mesas de Integração” eram formadas por atores locais interessados no desenvolvimento econômico de suas regiões, incluindo armadores marítimos e fluviais, operadores portuários, terminais de carga aérea, transportadores rodoviários e ferroviários, despachantes aduaneiros, exportadores, importadores, operadores logísticos, comerciantes, corretores, entre outros. Essas mesas se conectavam online simultaneamente a cada 15 dias, discutindo problemas, limitações e propostas de soluções para os obstáculos que afetavam as operações comerciais intra-Mercosul.

O sucesso foi tanto que agências governamentais, bancos de investimento, organizações multilaterais, consultorias, empresas de engenharia, universidades, ambientalistas, ONGs, entre outros, também começaram a participar. Houve até discussões sobre exportar o modelo para a Austrália e a Nova Zelândia, visando o Sudeste Asiático devido às semelhanças operacionais.

Com o tempo, as “Mesas de Integração” se expandiram para a Argentina, Paraguai e Uruguai, envolvendo não apenas terminais portuários, mas também cidades do interior como Córdoba, Mendoza, Neuquén e Terra do Fogo. Após cada sessão online, uma ata era gerada e discutida na reunião seguinte, com potenciais soluções para melhorar a produtividade e a competitividade. Isso resultou em várias alianças estratégicas e contratos que, de outra forma, não teriam sido realizados.

Na época, o Brasil visava aumentar a participação do transporte ferroviário para 21%, complementando com o transporte rodoviário, que representava 63%, além de melhorar a eficiência no consumo de combustíveis e promover maior intercâmbio comercial intra-Mercosul.

Considerando as tecnologias de informação disponíveis hoje e a possível reavaliação da União Europeia sobre os benefícios do bloco comercial Mercosul, seria uma boa oportunidade para relançar esse projeto, interrompido por várias crises macroeconômicas na Argentina. Isso poderia ajudar a identificar problemas estruturais e obstáculos ao comércio, além de fomentar intercâmbios e alianças estratégicas. Seria um excelente trabalho para o Itamaraty e o Parlasul, desde que os participantes sejam adequados e que se construam redes de conhecimento baseadas em tecnologia.

Por Alejandro Arroyo Welbers para La Nación

Texto original disponível em: https://www.lanacion.com.ar/economia/comercio-exterior/la-vieja-estrategia-brasilera-que-si-la-aplica-la-argentina-podria-darle-impulso-al-mercosur-nid20062024/

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