Plano dos EUA para Gaza mantém a tensão no Mar Vermelho

A proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de assumir o controle da Faixa de Gaza frustrou as esperanças de um retorno à rota do Mar Vermelho após mais de um ano de interrupção, de acordo com executivos do setor de transporte marítimo.

O anúncio chocante de Trump na semana passada levantou temores de que o grupo militante houthi do Iêmen possa renovar suas ameaças contra os navios comerciais que cruzam o Mar Vermelho, após o grupo ter declarado no mês passado que deixaria de atacar a maioria das embarcações depois do cessar-fogo firmado entre Israel e o Hamas.

Jan Rindbo, CEO do grupo de transporte de commodities Norden, disse que o plano de Trump contribui “para esse cenário de turbulência e tensão no Oriente Médio e que isso poderá prolongar o problema no Mar Vermelho”. O anúncio aumentou “o risco de os houthis não ficarem parados”, acrescentou.

A proposta de Trump para a Faixa de Gaza aumentou as incertezas que seu comportamento imprevisível tem criado para o comércio e o setor de transporte marítimo. As ameaças de tarifas do presidente contra vários parceiros comerciais, feitas em seus primeiros dias no cargo, reacenderam os temores de guerras comerciais e declínio econômico global, o que poderia afetar os lucros dos armadores.

O anúncio feito pelos houthis em 19 de janeiro, de que suspenderiam os ataques contra navios, exceto aqueles registrados em Israel ou totalmente pertencentes a organizações israelenses, foi seguido de um pequeno aumento nas remessas que passam pelo Iêmen. Desde o início da campanha em apoio aos palestinos de Gaza,no fim de 2023, os houthis têm ameaçado todos os navios com destino a portos israelenses, bem como aqueles pertencentes a organizações do Reino Unido e dos EUA.

O número de travessias pelo estreito de Bab-el-Mandeb, que entra no Mar Vermelho passando pelo Iêmen, aumentou 4% para 223 na semana seguinte ao anúncio dos houthis, segundo a Lloyd’s List Intelligence, de serviço de informação. Desses navios,25 vinham evitando a área desde 2023, de acordo com a empresa.

Um transportador de gás natural liquefeito (GNL) que recentemente deixou Omã está pronto para transportar a primeira carga não russa de GNL pelo Mar Vermelho em mais de um ano, segundo a empresa de dados de commodities ICI. O Shalalah LNG indicou, a um porto turco, que chegará em 16 de fevereiro, sugerindo que teria que pegar a rota do Mar Vermelho para chegar a tempo.

Bridget Diakun, analista de risco marítimo da Lloyd’s List, disse que enquanto “um pequeno número de embarcações está retornando”, outras ainda “aguardam provas de estabilidade”. Mas mais armadores estão agora se preparando para uma escalada das tensões no Oriente Médio e um recuo na promessa dos houthis delimitar os ataques, disseram executivos.

Lars Jensen, CEO da consultoria Vespucci Maritime, disse que as primeiras esperanças de um retorno à passagem pelo Mar Vermelho foram frustradas. “Uma semana atrás havia uma luz no fim do túnel”, afirmou. “Mas, agora, a probabilidade de um retorno ao Mar Vermelho foi reduzida.”

Fonte: Valor 

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