
O que está por trás das ideias conflitantes sobre os estoques de milho em queda no Brasil?
mar, 14, 2025 Postado porSylvia SchandertSemana202511
De acordo com sua própria agência de estatísticas, os estoques de milho do Brasil atingiram, há algumas semanas, os níveis mais baixos em pelo menos um quarto de século.
Mas o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) não espera que esse cenário se concretize até o início do próximo ano.
Então, qual é a verdade?
A divergência entre o USDA e a Conab não é novidade. No ano passado, houve controvérsias sobre as estimativas altamente divergentes das duas agências para as safras de soja e milho no Brasil.
De forma mais ampla, a explicação é simples. O USDA e sua equivalente brasileira, a Conab, apresentam diferenças em seus balanços, abrangendo tanto a produção quanto a demanda. Isso significa que provavelmente não existe uma resposta “certa”.
No entanto, com a oferta mundial de milho prevista para cair, ainda este ano, para níveis próximos aos mínimos de três décadas em comparação com a demanda, as tendências no Brasil merecem ser analisadas.
REVISÃO VITAL
Antes de discutir as previsões, é fundamental entender os períodos de análise. Para a Conab, o ano comercial de milho 2024-25 no Brasil termina em 31 de janeiro de 2026, enquanto para o USDA ele termina um mês depois.
Esse ciclo de março a fevereiro do mercado brasileiro de milho é refletido no balanço mundial de milho do USDA, que considera um agregado dos anos comerciais locais. Portanto, as estimativas de estoques globais de milho do USDA não são pontuais, mas abrangem um período de vários meses.
Isso difere da forma como o USDA trata seu balanço global de soja, em que o Brasil e a Argentina são ajustados para um ano comercial de outubro a setembro.
PRODUÇÃO DIVERGENTE
Na terça-feira, o USDA manteve a estimativa da safra de milho brasileira de 2024-25 em 126 milhões de toneladas métricas, embora tenha reduzido a colheita de 2023-24 em 3 milhões, para 119 milhões de toneladas.
Na quinta-feira, a Conab aumentou a projeção para a safra de 2024-25 em menos de um milhão de toneladas, para 122,76 milhões, e manteve inalterada a estimativa do ano passado em 115,7 milhões.
Essas mudanças aproximaram um pouco as estimativas das agências. No total das duas safras, o USDA agora projeta uma produção de milho 6,5 milhões de toneladas maior que a Conab, ante 10,3 milhões no mês passado.
No entanto, os números não precisam convergir. Nos últimos quatro anos, as projeções de produção do USDA permaneceram pelo menos 2,5% acima das da Conab. A diferença para a safra de 2022-23, que ambas as agências concordam ter sido a maior da história do Brasil, ainda é de 3,9%.
PELOS NÚMEROS
A Conab afirma que os estoques estão apertados agora, enquanto o USDA espera que fiquem apertados daqui a um ano.
Os dados da Conab mostram os estoques brasileiros de milho em cerca de 2 milhões de toneladas para 2023-24, que terminou há seis semanas. Tanto esse número quanto a relação estoque/uso de 1,7% são os mais baixos da história da Conab, que remonta a 1999-00.
A agência brasileira prevê uma recuperação até janeiro próximo, para 5,5 milhões de toneladas e 4,6%. Isso se compara com médias de cerca de 10,5 milhões de toneladas e 11% na última década.
No fim de fevereiro, o USDA estimava que os estoques de milho do Brasil totalizavam 7,5 milhões de toneladas, abaixo dos 10 milhões em 2022-23 e semelhantes à média da última década. Mas projeta que os estoques de 2024-25 despencarão para um mínimo de 23 anos, ficando pouco abaixo de 3 milhões de toneladas.
Isso corresponde a uma relação estoque/uso de 2,2%, que seria a mais baixa em 42 anos no banco de dados do USDA. A média dos últimos 10 anos é de 7,8%.
A diferença de um mês entre os anos comerciais das duas agências pode explicar parte das discrepâncias. O Brasil normalmente exporta no máximo 4% de seu volume anual em fevereiro, o mês em questão, embora o consumo doméstico represente uma parcela maior do uso.
O USDA está mais otimista em relação às exportações de milho do Brasil do que a Conab. Em média, nos ciclos 2023-24 e 2024-25, a agência norte-americana projeta que o Brasil exportará cerca de um terço de sua produção, acima da suposição da Conab, que gira em torno de 30%.
As exportações recentes não sugerem uma oferta abundante, já que os embarques mensais brasileiros têm ficado um pouco abaixo da média. O potencial de exportação futura depende da safra recém-plantada do Brasil, bem como da próxima colheita de milho nos Estados Unidos, o maior exportador.
Embora o timing seja um pouco diferente, as previsões de ambas as agências para estoques de milho brasileiros bem abaixo da média em algum momento do próximo ano certamente destacam as preocupações recentes do mercado com a queda dos estoques, colocando pressão sobre o desempenho das safras deste ano.
Karen Braun é analista de mercado da Reuters
Redação de Karen Braun
Edição de Matthew Lewis
Fonte: Reuters
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