Aço chinês pode levar Usiminas a desligar alto-forno
nov, 22, 2023 Postado porSylvia SchandertSemana202343
A Usiminas se prepara para acompanhar o movimento de outras siderúrgicas instaladas no Brasil e reduzir produção, em meio à crescente entrada de aço importado. A companhia, que acaba de investir R$ 2,7 bilhões para modernizar o alto-forno 3 em Ipatinga (MG), estuda paralisar as operações de outro alto-forno da usina, em medida atribuída ao forte avanço das importações, sobretudo a partir da China, e à queda das vendas internas da indústria brasileira.
De acordo com o vice-presidente de Assuntos Estratégicos da siderúrgica, Sergio Leite, o alto-forno 1 poderá ser desligado ainda este ano, se não houver alguma medida efetiva para conter a entrada de aço importado. “A situação é delicada. Estamos muito preocupados com o futuro”, disse o executivo.
As siderúrgicas instaladas no país têm pressionado o governo a elevar de 9,6% para 25% a alíquota de importação do aço, equiparando as tarifas praticadas por Estados Unidos e União Europeia, mas o pleito enfrenta forte resistência de setores consumidores e em Brasília. Antes da Usiminas, a Gerdau demitiu 700 trabalhadores e a ArcelorMittal executou paradas técnicas em fábricas, colocando 400 empregados em férias coletivas.
Questionado ontem sobre a possibilidade da elevação da tarifa, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que “isso já foi feito”, lembrando que a Câmara de Comércio Exterior (Camex), durante este primeiro ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reverteu corte de 10% da tarifa realizado durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O problema de competitividade é um problema de vários setores”, disse, citando como exemplo também a indústria química. A afirmação foi feita a jornalistas depois de evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI). Alckmin ainda destacou que os Estados Unidos revogaram, no começo deste ano, a cobrança de taxas de 74,52% sobre chapas de aço carbono originárias do Brasil. “Também ajuda [o setor no Brasil]”, afirmou.
Conforme Leite, a Usiminas já reduziu o ritmo de produção em Cubatão (SP) e fez uma parada no centro de serviços em São Paulo, na esteira da “tempestade perfeita” que atinge o setor – vendas internas e exportações em queda de até 8% em 10 meses, enquanto as importações saltaram cerca de 60%. Esse descolamento resultou em aumento da participação das importações no consumo aparente de 12%, na média dos últimos dez anos, para 24% em 2023. Além disso, levou a ociosidade na indústria para cerca de 40%.
Somente a China, comentou o executivo, deve vender 3 milhões de toneladas de aço ao mercado brasileiro em 2023, “a preços abaixo do custo de produção”, o mesmo volume que pode produzir o alto-forno 3 da Usiminas, que acaba de ser religado após os investimentos na reforma. No início dos anos 2000, o país asiático exportava 12 mil toneladas ao Brasil.
“De janeiro a outubro, as importações cresceram 60% e ainda não sabemos onde isso vai parar. Essa é a grande questão”, ressaltou. A leitura no setor é que a China seguirá firme em sua estratégia de ser grande exportadora de aço, chegando a embarques de 100 milhões de toneladas neste ano. Somente em outubro, 80% do aço importado que chegou ao mercado brasileiro era chinês.
O gráfico abaixo – desenvolvido com dados do DataLiner – mostra as importações brasileiras de aço (sh 7326) de janeiro de 2020 e setembro de 2023.
Importações de aço da China | Jan 2020 – Set 2023 | TEUs
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Conforme Leite, a decisão sobre o potencial desligamento deve ser tomada ainda este ano e afetará o alto-forno 1 de Ipatinga, que tem capacidade de produção de 600 mil toneladas por ano de ferro-gusa, que será transformado em aço. A Usiminas tem outro alto-forno, o 2, com capacidade similar e, no início da pandemia, também recorreu ao desligamento do alto-forno 1 diante da retração da demanda.
A decisão sobre o desligamento, diz o executivo, já deveria ter sido tomada, mas a empresa preferiu aguardar os resultados das conversas da indústria com o governo federal. O avanço das importações se agravou a partir de maio, quando o alto-forno 3 não estava em operação. “Procuramos manter o ritmo de produção, mas com a volta do alto-forno, a situação muda”.
O avanço dos importados, segundo as siderúrgicas, põe em risco planos de investimento. Em média, os desembolsos giraram em torno de R$ 12 bilhões por ano e o plano é manter esse ritmo. Mantido o cenário atual, ponderou Leite, essa meta pode não ser perseguida. “A indústria do aço no Brasil é competitiva e está atualizada tecnologicamente. O que não pode haver é um mercado em que o importado entre com tanta facilidade, sem proteção”, afirmou Leite.
Fonte: Valor Econômico
Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/11/22/aco-chines-pode-levar-usiminas-a-desligar-alto-forno.ghtml
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