Açúcar do porto de Santos vira ecoálcool e Coreia transforma garrafas PET em cobertor
ago, 25, 2023 Postado porSylvia SchandertSemana202335
Pelos menos duas vezes por semana, equipamentos de sucção percorrem os armazéns da Copersucar, uma das maiores comercializadoras globais de açúcar, no porto de Santos (SP), em operação especial de limpeza.
A iniciativa vai de encontro a tendência crescente na cadeia da produção de alimentos e exportação, a sustentabilidade. No caso do programa implementado no porto de Santos, o objetivo é oferecer destinação mais nobre aos resíduos.
Ao invés de seguirem para aterros sanitários, jogando fermento em importante questão ambiental, os rejeitos são recolhidos e seguem de caminhão até Nova Odessa, no interior de São Paulo, onde são transformados em ecoálcool. A tecnologia é a mesma utilizada para produzir etanol.
Ao chegar na fábrica no interior de São Paulo, os resíduos passam por processo de diluição em água, hidrólise, fermentação e destilação. É então obtido álcool 46% ou 70%.
Neste ano, a produção deve chegar a 13 mil litros, diante de dez mil no ano passado. Hoje, a maior parte é doada para funcionários da Copersucar e o restante é destinado para comercialização. O potencial pode ser quatro vezes maior.
Por enquanto, o terminal da Copersucar é o único com essa iniciativa. Se todos os terminais que movimentam açúcar e grãos no porto de Santos adotassem essa prática, o volume de álcool produzido seria de cerca de 40 mil litros, o suficiente para disponibilizar quase 62 mil frascos de 1 litro de álcool em gel em um ano ou 5,2 mil frascos por mês.
De qualquer forma, não deve faltar matéria-prima para alavancar a fabricação do produto. Só no ano passado, o porto de Santos gerou 102,6 mil toneladas de resíduos, 10,3% a mais do que em 2021, acompanhando o crescimento da própria atividade portuária.
Em 2022, foram movimentadas 162,4 milhões de toneladas de carga, volume 10,5% superior ao registrado em 2021, segundo o porto de Santos. A equação é simples. Quantos mais navios e movimentação de carga, maior a quantidade de resíduos.
Trata-se de questão global. Mais de 80% de todos os bens comercializados no mundo são transportados via marítima, segundo o Banco Mundial. As embarcações são responsáveis por cerca de 20% do lixo despejado nos oceanos. Os navios geram até 300 mil toneladas por ano de resíduos que vão parar no mar, segundo estimativas da Comissão Europeia.
Não é pouca coisa. Por isso, iniciativas de reciclagem, em linha com princípios de sustentabilidade, vêm sendo implementadas em alguns dos mais importantes portos do mundo.
Com o aumento do transporte marítimo, mais portos devem adotar programas de reciclagem de resíduos. O comércio marítimo deve crescer 2,1% nos próximos quatro anos, de acordo com a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). Ao mesmo tempo, o setor deve continuar a investir em iniciativas verdes para atingir metas de compliance e ESG. Alguns portos estão mostrando o caminho.
O porto de Saint John, o maior da costa do Atlântico no Canadá, lançou iniciativa para reciclar cordas marítimas. Em parceria com ONGs, o material é transformado em tapetes e cestos. Desde 2021, já foram reaproveitados mais de três mil quilos de cordas – o material normalmente era descartado em aterros sanitários ou no mar.
O complexo portuário de Busan, na Coreia do Sul, por sua vez, criou programa de reciclagem de embalagens PET. Em menos de dois anos, foram recolhidas 14 mil garrafas PET. O material é decomposto e transformado em bolsas e cobertores, doados para ONGs ou comunidades carentes. Já foram produzidas mais de dez mil bolsas, de acordo com a autoridade portuária de Busan.
O porto de Busan, que movimentou 22 milhões de TEUs de contêineres no ano passado, lançou ambicioso plano de expansão que prevê investimentos da ordem de US$ 32 bilhões (R$ 155,97 bilhões) até 2050. A maioria dos recursos deverá ser utilizada para criação de novos berços e terminais automatizados de contêineres, mas haverá espaço também para investimentos em reciclagem e metas ESG.
Uma das ideias é implementar sistema de geração de energia alternativa inovador por meio de tecnologia baseada na transformação da energia eletromecânica gerada pela passagem de caminhões no porto em eletricidade. O custo desses projetos, no entanto, muitas vezes representa empecilho.
Na Holanda, o porto de Amsterdã avaliou processo para transformar plástico em diesel. A fabricação aconteceria em usina especialmente criada para essa finalidade. O projeto, no entanto, esbarrou no volume de investimento necessário, estimado em dezenas de milhões de dólares e não foi adiante.
Na reciclagem em portos, o futuro parece estar destinado, ao menos no curto e médio prazo, a programas de alcance socioambiental que podem ser implementados rapidamente e não estressam as finanças.
Fonte: Olhar Digital
Para ler a reportagem original completa, acesse: https://olhardigital.com.br/2023/08/24/colunistas/acucar-do-porto-de-santos-vira-ecoalcool-e-coreia-transforma-garrafas-pet-em-cobertor/
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