Alta das importações de leite incomoda produção nacional
jul, 31, 2023 Postado porSylvia SchandertSemana202332
O aumento de importações de leite vem acentuando a falta de estímulo à produção nacional, com risco de encolhimento da cadeia produtiva e desabastecimento. O alerta é da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), que informa que, no decorrer do ano, a importação de leite triplicou, impactando diretamente na definição do preço ao produtor. “Só em maio, as importações saíram de um patamar histórico de 3% para 10% do consumo de leite do Brasil”, diz Geraldo Borges, presidente da Abraleite. Em 2022, o consumo doméstico chegou a 34 bilhões de litros, volume que inclui leite para a produção também de derivados.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), disponibilizados pela plataforma oficial Comex Stat, mostram que a importação de leite em pó, creme de leite e laticínios dos países parceiros do Brasil no Mercosul (Argentina e Uruguai) bateu recorde entre janeiro e maio deste ano. Nesses cinco primeiros meses, o país importou o equivalente a US$ 350,5 milhões, quase 293% a mais em relação ao mesmo período de 2022. A Argentina é a maior fornecedora desses produtos (56%), seguida pelo Uruguai (34%), que, sozinho, enviou para o Brasil cerca de 498% a mais no mesmo intervalo.
“Nesse contexto, o forte aumento das importações leva ao incremento artificial da disponibilidade de leite e derivados, sem perspectivas concretas de aumento no consumo”, diz Borges. Para ele, o quadro atual agrava o cenário de incertezas para a retomada do crescimento e competitividade da pecuária leiteira brasileira. “Enquanto a produção brasileira recua em volume de leite, aumenta a saída de produtores da atividade”, destaca. Números da entidade apontam que a produção de leite caiu 1,3% no primeiro semestre deste ano ante igual período de 2022, embora projeções preliminares indiquem crescimento de 1,5% para o acumulado de 2023.
Importações Brasileiras de Leite | Jan 2019 a Maio 2023 | TEU
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“Precisará acontecer uma boa recuperação neste semestre. Mas isso só será possível com uma redução dos custos de produção dos principais insumos utilizados na produção de leite e com a redução dos preços, exigindo maior produção e produtividade das fazendas”, afirma Borges. Ele espera que as importações recuem para a casa dos 5% do consumo total.
Estudo recente sobre o setor, conduzido pela empresa de consultoria Alvarez & Marsal (A&M), corrobora em parte essa preocupação. O levantamento, com o objetivo de traçar as principais tendências e desafios da indústria leiteira, aponta crescentes necessidades de auxílio na consolidação de players nesse mercado, tradicionalmente fragmentado e em constante amadurecimento. Segundo Maurício Pela, diretor da área de transformação corporativa da A&M, o Brasil não é reconhecido como um exportador referência de produtos lácteos e, embora suas importações sejam específicas e menores que 6% do consumo, o país apresenta balança comercial negativa na área.
“O setor é de importância estratégica para o país, empregando perto de 4 milhões de pessoas relacionadas a 1 milhão de unidades produtoras. O total da produção de leite no tempo é constante e parecido com a taxa de crescimento orgânico da população [média anual de 0,5%]”, afirma Pela. Ele lembra que o consumo per capita do brasileiro é de 149 kg/ano, quantidade inferior quando comparada a economias desenvolvidas (G-7 acima de 200 kg/ano) e alguns vizinhos (Uruguai com 211 kg/ano e Argentina com 195 kg/ano).
Segundo ele, devido à forte correlação entre renda e consumo per capita, a tendência de alta da produção parou em 2014/2015 e está estagnada desde então, caindo em 2022. “É provável que, em 2023, recupere o território perdido no ano passado, mas permaneça em linha com a média total de produção recente”, afirma. Pela lembra que a produção de leite no Brasil é de 36 bilhões de litros por ano, com um valor de mercado de US$ 20 bilhões (dólar a R$ 4,85), sendo o terceiro maior produtor do mundo.
“Os motivos da queda na produção de leite se devem ao desestímulo do setor produtivo devido aos altos custos de produção, à volatilidade de preços, à redução do consumo de produtos lácteos e à competição com outras atividades do agronegócio, como grãos e pecuária de corte”, explica Borges. Para ele, esse cenário se agravou em 2022, quando a produção caiu cerca de 5%. Este ano, porém, o agronegócio já mostra retração dos preços no mercado nacional e internacional, provocando uma restruturação de custos de produção para adequação aos novos mercados e preços.
Borges diz que os custos vêm variando entre R$ 1,75 e R$ 2,20 por litro, patamar abaixo do verificado em 2022 (entre R$ 2 e R$ 2,75). Dados do ICP da Embrapa, que mede a variação do custo de produção de leite no Brasil, acumula queda de 5,8% nos últimos 12 meses, e os principais responsáveis por essa retração são os concentrados/rações (-15,9% de janeiro a junho). E, apesar do cenário um tanto desfavorável no momento, produtores de leite acreditam numa recuperação.
Fonte: Valor Econômico
Para ler a matéria original, acesse: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/revista-agronegocio/noticia/2023/07/31/alta-das-importacoes-de-leite-incomoda-producao-nacional.ghtml
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