Diante dessa percepção, trigo e milho, dos quais Ucrânia e Rússia são grandes exportadores, recuaram na bolsa de Chicago. Os contratos de trigo para setembro, os mais negociados, caíram 1,17%, para US$ 6,5375 por bushel, e os de milho para dezembro recuaram 1,51%, para US$ 5,06 por bushel.
A guerra na Ucrânia começou com a invasão russa em 24 de fevereiro do ano passado. Quase cinco meses depois, em 22 de julho, os países assinaram o pacto que criou um corredor seguro para as exportações nos portos do Mar Negro. Desde a assinatura do acordo, a Ucrânia exportou 32,9 milhões de toneladas de produtos agrícolas pelos portos de Odessa. A maior parte foi de milho (16,9 milhões) e trigo (8,9 milhões de toneladas).
Na avaliação de Luiz Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica, a Rússia pode ter anunciado sua saída do acordo para pressionar o Ocidente. Para ele, os russos serão os principais prejudicados com o fim do pacto, porque precisam exportar trigo para gerar divisas. “São eles que vão ficar fora do sistema financeiro internacional e com ainda mais dificuldade para exportar”, afirmou.
A Rússia é a maior exportadora de trigo do mundo, com embarques previstos de 47,5 milhões de toneladas em 2023/24, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Sozinha, a Rússia embarca mais do que toda a União Europeia, o segundo maior exportador, com 38,5 milhões de toneladas. Já a Ucrânia figura em sexto lugar, com 10,5 milhões de toneladas de trigo. No caso do milho, os ucranianos seriam o quarto maior exportador na safra global 2023/24, com 19,5 milhões de toneladas.
O analista em gestão de risco em trigo da StoneX, Jonathan Pinheiro, disse que os operadores de mercado estão céticos quanto ao fim do pacto. “Tivemos três renovações do acordo, mesmo com a Rússia falando que não ia negociar sua extensão. Esta semana vai servir para os agentes de mercado entenderem o que está acontecendo com tudo que envolve esse acordo. Só depois disso eles devem se posicionar de forma mais clara na bolsa de Chicago”, afirmou.
Além disso, o avanço da colheita em outros grandes produtores globais amenizou as preocupações com a oferta, o que também explicou a queda das cotações ontem em Chicago. “Como a Rússia foi um dos principais fornecedores mundiais de trigo nos últimos meses, existe a possibilidade de outras regiões estarem com estoques para ofertar”, acrescentou.
De qualquer modo, a confirmação do fim do acordo não deverá causar uma forte queda na oferta mundial de trigo, segundo Carlos Mera, analista sênior de commodities do Rabobank. Mas pode prejudicar os agricultores ucranianos, que enfrentarão custos mais altos para exportar por outros modais. “Isso pode resultar em menos área plantada para a próxima temporada”, estimou.
O efeito sobre o mercado de milho deve ser ainda mais fraco, ao menos no curto prazo, afirmou Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. “Neste momento, os ucranianos não têm muito milho para exportar”. Os embarques de milho da Ucrânia ocorrem tradicionalmente entre outubro e janeiro.
Em seu site, a UGA, associação que reúne indústrias de grãos da Ucrânia informou que o presidente Volodymyr Zelenskyy disse, em entrevista, que o país vai trabalhar para manter a operação no Mar Negro mesmo sem a Rússia.
Analistas de mercado também estão atentos ao impacto da decisão russa sobre os preços globais dos fertilizantes. A guerra na Ucrânia afetou o comércio do insumo e provocou um forte solavanco nas cotações internacionais no ano passado. Para a StoneX, só haverá um problema significativo caso os grãos se valorizem. “Pode haver aumento de demanda de adubo para safra de verão”, afirmou.
Na leitura do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos), a revogação do acordo do Mar Negro não deve impactar a comercialização de fertilizantes do Brasil, e, caso aconteça, será uma oscilação pequena.
No acumulado deste ano, a plataforma ComexStat estima que as importações de fertilizantes e adubos químicos russos pelo Brasil alcançaram 4,26 milhões de toneladas. Esse volume representa 25% do total importado pelo país.
Fonte: Globo Rural
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