Após doença de Newcastle, governo suspende exportações de carne de frango

O governo brasileiro suspendeu preventivamente as vendas de carne de frango, ovos e outros produtos avícolas para alguns países importadores após a confirmação de um surto da doença de Newcastle em uma fazenda comercial em Anta Gorda (Rio Grande do Sul).

As vendas de aves e produtos avícolas de todo o Brasil para a Argentina e países da União Europeia foram temporariamente suspensas. O auto-embargo de vendas para outros 32 mercados, incluindo a China, é válido apenas para produtos avícolas específicos do Rio Grande do Sul.

O gráfico a seguir fornece uma visão geral das exportações brasileiras de carne de frango (medidas em TEUs) entre janeiro de 2021 e maio de 2024. Os dados são do DataLiner.

Exportações de carne de aves | Jan 2021 – Mai 2024 | TEUs

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

Há também países para os quais estão suspensas as exportações de carne de frango e outras mercadorias produzidas em regiões até 50 km do local do surto. As restrições seguem os requisitos pré-estabelecidos nos Certificados Sanitários Internacionais (ISC), acordados com cada país importador. O Valor apurou que pode haver mudanças.

Antecipando esse cenário de restrições às exportações, investidores derrubaram as ações dos frigoríficos na bolsa B3 na quinta-feira (18 de julho) e levaram BRF, JBS, Marfrig e Minerva a perderem juntas R$ 6 bilhões em capitalização de mercado

O surto da doença foi confirmado na quarta-feira (17) em uma fazenda comercial. Segundo fonte do mercado, o avicultor faz parte da cadeia integrada da BRF, que possui frigoríficos em Marau e Lajeado (Rio Grande do Sul)

Após reunião com agricultores em Porto Alegre, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o foco parecia ser um “caso isolado”, mas admitiu existir o risco de restrições por parte dos importadores.

“Como a doença precisa ser notificada à Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), isso pode levar a restrições e embargos comerciais”, disse o ministro. Segundo Fávaro, o governo já entrou em contato com todos os mercados compradores para relatar a situação.

A última vez que o Brasil teve um surto da doença, causada por um vírus, foi em 2006.

A JBS, dona da Seara, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. A BRF disse que a posição seria tomada pelo setor, pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). As duas empresas são as maiores exportadoras de frango do país.

A ABPA e a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) afirmaram em nota que as autoridades federais e estaduais agiram rapidamente para identificar o caso e paralisar as atividades da granja, garantindo que nenhuma ave saísse do local. “Os protocolos oficiais estabelecidos para mitigar a situação específica foram ativados e o entorno está sendo monitorado”, afirmaram.

Na bolsa, a BRF foi a empresa mais afetada do setor, perdendo R$ 3 bilhões em uma sessão. Com isso, o valor de mercado da empresa caiu para R$ 35 bilhões. A JBS perdeu então R$ 1,8 bilhão e seu valor de mercado atingiu R$ 69,8 bilhões.

Considerando um cenário de restrições às exportações, Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, do Itaú BBA, afirmaram em relatório que “as operações da BRF e da Seara provavelmente serão afetadas por um cenário de excesso de oferta nos mercados domésticos”.

As duas empresas teriam que redirecionar os embarques, aumentando o mix de produtos das unidades gaúchas para o mercado interno, afirmaram os analistas do Citi Renata Cabral e Tiago Harduim.

A XP Investimentos destacou que nem a BRF nem a Seara possuem plantas em Anta Gorda. A BRF possui três unidades produtoras de produtos avícolas no Rio Grande do Sul, enquanto a Seara possui apenas uma. A fábrica da BRF mais próxima está localizada a aproximadamente 55 km do município foco, enquanto a fábrica da Seara fica a cerca de 80 km. Assim, os impactos seriam indiretos e relacionados ao mercado.

A controladora da BRF, Marfrig, também perdeu R$ 1 bilhão na B3, e seu valor de mercado caiu para R$ 10,5 bilhões.

Apesar de não ter exposição ao segmento de aves, a Minerva sentiu o mau humor do mercado. A empresa perdeu R$ 190 milhões em capitalização de mercado, atingindo R$ 4 bilhões.

O ministro Fávaro disse que o surto da doença de Newcastle foi identificado em apenas uma ave de uma planta comercial com 14 mil animais em Anta Gorda.

Após reunião com agricultores em Porto Alegre realizada para discutir a situação dos atingidos pelas enchentes de maio, ele disse que as demais aves da propriedade não apresentavam sintomas e estavam sendo monitoradas. “Achamos que é um caso isolado. Houve chuva de granizo na propriedade, o telhado da fazenda desabou e 7 mil animais morreram. Os demais animais não apresentam sintomas da doença”, afirmou.

Segundo Fávaro, a área de ocorrência é isolada e não foi identificada nenhuma propagação do vírus na propriedade ou no seu entorno. “É importante ressaltar que ainda não avaliamos como epidemia porque o vírus foi encontrado em apenas um dentre 14 mil animais”, disse.

Os protocolos de biossegurança preveem o sacrifício de outras aves em caso de contaminação. Ainda assim, ao fazer as declarações, o ministro referiu que só haveria abate caso o vírus se espalhasse, o que não teria acontecido.

O Valor apurou, no entanto, que o abate dos animais da quinta de Anta Gorda terá início em breve. A medida é indenizável pelo Fundo de Defesa e Desenvolvimento Sanitário (Fundesa) do estado, mas existe a possibilidade de a BRF assumir os custos para agilizar o processo. A medida poderá acelerar a extinção de qualquer possível vestígio do surto nos animais restantes.

Fonte: Valor International

Clique aqui para ler a matéria original: https://valorinternational.globo.com/agribusiness/news/2024/07/19/newcastle-disease-causes-brazil-to-suspend-chicken-exports.ghtml

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