ArcelorMittal vai parar fábricas e dar férias coletivas
nov, 17, 2023 Postado porSylvia SchandertSemana202342
Maior produtora de aço no Brasil, a ArcelorMittal vai conceder férias coletivas a cerca de 400 funcionários da usina de Resende (RJ) e suspender temporariamente as operações em diferentes unidades, com a execução de paradas técnicas, em meio ao aumento acelerado das importações de produtos siderúrgicos.
Em entrevista ao Valor, o presidente da ArcelorMittal Brasil, Jefferson De Paula, disse que o momento é crítico, que há risco iminente de demissões e que essa situação na indústria pode afetar o crescimento econômico. “O Brasil ficou completamente desprotegido quando há sobrecapacidade [no mercado global] de aço”, afirmou.
Frente ao ano passado, as importações de aço, que chegam sobretudo da China e outros países asiáticos, Rússia e Turquia, devem crescer 50%. A indústria brasileira já pediu ao governo federal a adoção de alíquota de importação de 25%, em caráter emergencial. A percepção é que o governo está sensível ao tema, mas uma medida nesse sentido não foi anunciada até agora.
Representantes do setor já se reuniram duas vezes com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, e, há três semanas, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para tratar sobre o assunto.
Estados Unidos, Europa e México já impuseram tarifa de 25% sobre as importações de aço, para conter seu avanço sobre a demanda interna – no México, a fatia chegou a 40%. No Brasil, a participação dos importados no consumo aparente, que era de 12%, saltou a 23% e chegou a 30% nos últimos meses. O setor espera novo avanço se não houver alguma medida de proteção.
Diante da piora das condições de mercado, a Gerdau já demitiu 700 trabalhadores e reduziu a produção em diferentes unidades. Na ArcelorMittal, afirmou De Paula, a produção no quarto trimestre ficará 30% abaixo da capacidade e, no ano, 1,3 milhão de toneladas deixarão de ser produzidas pela multinacional. Em Resende, dos cerca de 400 trabalhadores afetados pela paralisação de 45 dias, 320 farão compensação de banco de horas e 87 serão colocados em férias coletivas, entre novembro e dezembro.
“Estamos muito preocupados porque o ritmo de importação está aumentando. Acredito no livre comércio, mas não da forma como está acontecendo. A concorrência não é leal”, afirmou De Paula. Segundo o executivo, mantido o cenário atual, o plano de investimento de US$ 2,4 bilhões ao ano anunciado pelo setor, entre 2023 e 2027, está em risco.
Dentro das usinas brasileiras, avalia, há condições de competitividade. Na ArcelorMittal, que trabalha com indicadores mensais de performance e custos internos, a operação brasileira aparece como a melhor em 75% deles, à frente de Europa e dos Estados Unidos. “Então, eu diria que a siderurgia brasileira é competitiva”.
Para a economista Lia Valls Pereira, pesquisadora da área de Economia Aplicada da FGV/IBRE e professora da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, em termos de política comercial, se a indústria se sente ameaçada e a ameaça é real, o governo poderia conceder algum tipo de proteção, mas de caráter temporário.
“A proteção não vai resolver questões de competitividade. Se há uma mudança estrutural, poderia haver medida permanente, mas é um custo para a sociedade proteger um setor que é menos competitivo que o de outros países”, ponderou, acrescentando que essa é uma questão de política de governo.
Lia lembra que, há anos, o governo americano vem protegendo a indústria siderúrgica local, que executou investimentos elevados nas décadas de 70 e de 80 e, já há algum tempo, enfrenta novos competidores. “Setores que usam o aço não vão gostar da proteção. A solução final é sempre a de equilíbrio, de interesse de todos. Mas sabemos que não é fácil alcançar isso”, afirmou.
Fonte: Valor Econômico
Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/11/17/arcelormittal-vai-parar-fabricas-e-dar-ferias-coletivas.ghtml
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