Argentina e Chile impulsionam corredor bioceânico para o Pacífico
out, 04, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202439
Por sua localização geográfica, as províncias do noroeste da Argentina (NOA) têm claro interesse em exportar seus produtos pelo Oceano Pacífico, uma vez que isso representa uma economia de 30% a 40% nos custos estimados. A passagem internacional de São Francisco, localizada a 200 quilômetros da cidade de Fiambalá, em Catamarca, conecta o noroeste argentino com a cidade chilena de Copiapó, na região de Atacama. Essa rota é considerada estratégica para ambos os países, destaca Roberto Alegría, presidente do Conselho Regional da Terceira Região Trasandina.
“Estamos comprometidos em fortalecer o complexo fronteiriço, oferecendo melhores condições e tecnologia, além de serviços portuários multipropósito, gerando benefícios econômicos para as duas partes”, afirmou Alegría. Sobre as obras no trecho chileno, ele acrescenta que “estamos pavimentando os 70 quilômetros restantes até a cidade de Chañaral. A expectativa é começar os primeiros 35 quilômetros ainda este ano e finalizar a obra nos primeiros meses de 2026.”
Além disso, está previsto a construção de um novo complexo no controle fronteiriço de Maricunga, próximo ao Paso San Francisco, com estrutura adequada para as exigências do corredor bioceânico, projeto que atualmente se encontra na fase de desenvolvimento.
Apoio regional e nacional
As obras pendentes ganharam força após o respaldo da Chancelaria argentina, dado em fevereiro, quando representantes de Catamarca obtiveram do governo federal o compromisso de apoiar o potencial exportador da província. Nessa conversa, foi discutida a necessidade de melhorar o Paso San Francisco e o projeto do corredor bioceânico, detalhou Herrera.
Durante uma visita ao Chile, nos primeiros dias de agosto, a ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, e seu homólogo Alberto van Klaveren concordaram em redobrar os esforços para promover a integração e a facilitação das fronteiras, incluindo o uso de novas tecnologias e portos.
Na ocasião, o governo argentino destacou, em reuniões com empresários e autoridades chilenas, a necessidade de impulsionar projetos conjuntos de infraestrutura para melhorar a conectividade com mercados internacionais, além de enfatizar a importância dos corredores bioceânicos para facilitar o comércio com a Ásia e a simplificação dos trâmites para o fluxo de bens.
Serviços e logística
Ao longo deste ano, foram realizadas diversas reuniões nos dois lados da Cordilheira, com a participação de empresas privadas e autoridades do governo regional de Atacama e das províncias de Catamarca, La Rioja, Tucumán, Santiago del Estero, Córdoba, Entre Ríos e Santa Fé. Esse bloco integra a macro-organização Atacalar, criado em 1996 com o objetivo de promover a cooperação regional e a integração dos dois países.
O primeiro desses encontros, promovido pela Atacalar, ocorreu em abril, em Copiapó, e teve como foco uma mesa de trabalho sobre portos, cujo objetivo era conhecer a oferta de serviços portuários nas províncias do NOA argentino. Para dar seguimento às ações, a Direção Geral de Promoção de Exportações-ProChile apoiou uma missão comercial que veio a Buenos Aires em 8 de agosto, conforme destacou Claudia Pradenas Muñoz, diretora da instituição, que ressaltou o diálogo com setores de serviços e logística.
Em Buenos Aires, a delegação chilena participou do evento “Conectando rotas e oportunidades”, organizado por Catamarca, que promoveu o relacionamento entre empresas de serviços e logística locais e os portos chilenos de Atacama, além de discutir a promoção do Paso San Francisco. Também se reuniu com representantes da embaixada do Chile na Argentina, da ProChile Buenos Aires, da Associação de Importadores e Exportadores (Aiera) e da Câmara Argentina de Empresas Minerais (Caem). “Recebemos informações valiosas sobre as possibilidades comerciais com empresas chilenas”, destacou Ingrid Aguad Manríquez, responsável pela Unidade de Relações Internacionais do governo de Atacama.
Oferta portuária
Durante essa rodada de encontros, a delegação chilena se reuniu com gestores portuários do Atacama. “A região possui calados naturais profundos, a poucos metros da costa, o que constitui uma vantagem competitiva importante para o desenvolvimento portuário e logístico de exportação”, afirmou Aníbal Ramos, gerente de Desenvolvimento do Terminal Guacolda I, que atualmente movimenta, em média, um milhão de toneladas de granéis por ano.
Ao destacar os benefícios para os exportadores do NOA, Giovanni Bonilla Pedemonte, chefe de Segurança e Meio Ambiente do porto polivalente de Las Losas, ressaltou que o Chile conta com diferentes tipos de portos públicos e privados com grande capacidade para atender às necessidades da indústria mineradora e agrícola. Ele também destacou que o acesso aos mercados asiáticos pelo Pacífico, em vez do Atlântico, resulta em uma economia de até 15 dias de navegação.
Em 2023, Las Losas movimentou aproximadamente 1,3 milhão de toneladas de cargas e prevê ampliações, como a adaptação para receber cargas IMO (produtos perigosos), entre outras melhorias. O porto de Guacolda I também está investindo em novas infraestruturas e tecnologias para atender à crescente demanda do mercado regional e internacional.
No entanto, Herrera destacou que, por enquanto, os serviços portuários da região não oferecem uma estrutura completa para cargas gerais ou refrigeradas, que são necessárias para atender à demanda do NOA. Ele estima que, a médio prazo, os portos irão considerar investimentos para ampliar a oferta, especialmente devido ao aumento das exportações de lítio das mineradoras e de produtos agroindustriais como frutas cítricas, nozes, azeite e vinhos, destinados principalmente ao mercado da Ásia-Pacífico.
Comércio
O comércio com o Chile se destacou pelo sétimo ano consecutivo como o maior superávit comercial da Argentina. Em 2023, o superávit foi de 4,2 bilhões de dólares, com exportações de 4,95 bilhões e importações de 733 milhões. O principal item exportado para o Chile naquele ano foram os combustíveis e óleos minerais, com o gás natural liderando, somando 753 milhões de dólares.
Nos primeiros seis meses de 2024, o superávit comercial foi de 2,55 bilhões de dólares, resultado de exportações no valor de 2,835 bilhões e importações de 285 milhões de dólares.
Em relação às exportações das províncias do noroeste do país, em 2023 totalizaram 4,293 bilhões de dólares, ocupando o terceiro lugar nas exportações totais do país, com uma participação de 6,4%. A região teve destaque nos setores de mineração de metais e lítio e de frutas, respondendo por 23,2% das exportações nacionais de metais, 100% da produção nacional de lítio, avaliada em 846 milhões de dólares, além de 97,1% das vendas externas de limão e 31,4% das de mirtilo. A região também teve um papel relevante nos complexos do tabaco e do açúcar, com 89,5% e 50,7% das exportações nacionais, respectivamente, conforme dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).
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