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Argentina favorece o yuan, mas preferência é por dólar e real

jul, 06, 2023 Postado porGabriel Malheiros

Semana202326

Com a escassez de reservas internacionais, a Argentina tem recorrido mais à China e ao uso do yuan como alternativa ao dólar. Mas as medidas, que na prática atendem a interesses de Pequim, não aliviam os problemas argentinos, dizem analistas. As empresas continuam sem acesso a financiamento, mesmo em yuans, e, nas ruas, a preferência é por transações em dólar, seguido pelo real e o peso. A moeda chinesa não é opção.

Na sexta-feira, o BC argentino liberou a abertura de contas em yuans no sistema bancário. A medida visa estimular o uso da moeda chinesa pelas empresas para pagar as importações vindas da China. “A proposta tem como objetivo substituir parte do saldo comercial negativo que a Argentina tem em dólares por yuans. E, assim, aliviar as pressões cambiais”, diz Letcher.

A ampliação do uso de yuans permite ao governo argentino reduzir a pressão sobre a balança de pagamentos, mas amplia a dependência da China, alertam analistas.

“Há 15 anos, a balança comercial com a China é deficitária. O déficit acumulado nesse período superou os US$ 70 bilhões. Essa dependência se aprofunda agora e pode passar para outras áreas, como telecomunicações ou defesa. A importância econômica [dessas novas medidas] se traduzem diretamente em influência política”, afirma o economista Mariano Turzi, professor na Universidade Austral de Buenos Aires.

O gráfico abaixo mostra as importações de contêineres da Argentina medidas em TEUs de janeiro de 2019 a maio de 2023. Os dados são do DataLiner.

Importações argentinas da China | jan 2019 – maio 2023 | TEU

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

Segundo Turzi, o uso do yuan na Argentina pode até levar a algum ganho, considerando que “facilidades na importação de insumos leva a benefícios que recaem sobre a população. Mas é preciso balancear isso com os custos de diminuir as produções locais”. Recentemente mais de 500 empresas argentinas pediram para pagar em yuans importações de produtos como eletrônicos, autopeças e equipamentos têxteis, segundo a agência alfandegária do país.

O agravamento da crise econômica, com a seca histórica reduzindo ainda mais o ingresso de dólares, levou o governo do presidente Alberto Fernández a recorrer à China como tábua de salvação. Em maio, a China renovou por mais três anos uma linha de swap cambial de US$ 18 bilhões com a Argentina para apoiar o comércio bilateral.

Com isso, Buenos Aires autorizou o pagamento de importações em yuans equivalentes a US$ 2,9 bilhões, segundo informou o banco central. Mas a forma como esse dinheiro será liberado não foi detalhada e tem causado a preocupação de grandes empresas, de acordo com uma fonte ligada ao setor de comércio exterior.

Nesse contexto, o pagamento de parte dos US$ 2,7 bilhões que a Argentina devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI) usando yuans frustrou ainda mais os grandes empresários, que, em alguns casos precisaram interromper a linha de produção por falta de dólares e viam, na liberação dos yuans, a possibilidade de contornar as dificuldades.

Fonte: Valor Econômico

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