Economia

Argentina: Javier Milei vence a disputa presidencial. Como fica a relação do Brasil com o país vizinho?

nov, 20, 2023 Postado porSylvia Schandert

Semana202342

Após a vitória do candidato de extrema-direita Javier Milei nas eleições da Argentina, acompanhadas de perto pelos brasileiros, que têm no país vizinho um grande parceiro comercial, como será a relação dos dois países daqui para frente?

Apesar de Javier Milei ter mantido publicamente um discurso agressivo em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e prometido retirar a Argentina do Mercosul, nos bastidores seus representantes tem enviado recados aos diplomatas brasileiros de que essa postura foi parte de uma estratégia de campanha e que o rompimento com o bloco não deve ocorrer de fato.

De acordo com um documento interno que circula na cúpula do Itamaraty, a vice de Milei, Victoria Villarruel, e a economista Diana Mondino, deputada nacional eleita e provável chanceler, fizeram contatos reservados com a embaixada do Brasil em Buenos Aires para reafirmaram “a importância central das relações com o Brasil”.

“A propósito do Mercosul, indicaram a intenção de atualizá-lo e de modernizá-lo, e não necessariamente de denunciá-lo ou de retirar a Argentina do grupamento”, diz o documento intitulado “Perspectivas de eventual governo de Javier Milei para as relações bilaterais”.

A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás de China e Estados Unidos. Já o Brasil é o maior destino das exportações argentinas – com superávit comercial de US$ 2,2 bilhões em 2022 e de US$ 4,5 bilhões neste ano.

Confira no gráfico a seguir a evolução das exportações brasileiras via contêineres para a Argentina até setembro deste ano. Os dados foram elaborados a partir dos dados do DataLiner, plataforma de inteligência de mercado da Datamar:

Exportações Brasileiras via contêineres para a Argentina | Jan 2019 – Set 2023 | TEU

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

Já abaixo estão as importações via contêineres da Argentina. Os dados também são do DataLiner:

Importações Brasileiras via contêineres da Argentina| Jan 2019 – Set 2023 | TEU

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)

De acordo com a análise que os diplomatas fizeram para subsidiar o chanceler Mauro Vieira e o próprio presidente Lula, “mesmo na hipótese de que Milei busque levar adiante a ameaça de retirar a Argentina do Mercosul (que embora improvável não pode ser totalmente descartada, dada a personalidade de Milei), haveria requisitos parlamentares difíceis de serem cumpridos em um quadro parlamentar dominado pela oposição”.

Milei passou boa parte da campanha afirmando que ia retirar a Argentina do Mercosul caso vencesse as eleições. “É uma união aduaneira que favorece os empresários que não querem competir. Quero estar alinhado com o Ocidente, meus sócios serão os Estados Unidos e Israel”, disse. O ultradireitista também costuma afirmar que o bloco está “parado” e “não vai para nenhum lado”.

Mas, no último debate na TV, no domingo (12), quando Sergio Massa perguntou se Milei mantinha a intenção de sair do bloco, ele respondeu: “É uma questão do mercado privado e o Estado não tem por que se meter, porque cada vez que se mete gera corrupção”, afirmou. Trata-se de um recuo em relação à postura anterior, ainda que o ultradireitista tenha se referido ao Mercosul como um “estorvo”.

Mesmo assim, no informe do Itamaraty, os diplomatas reconhecem que a postura do ultradireitista pode, sim, levar à redução das agendas bilaterais entre Brasil e a Argentina e ao esvaziamento da cooperação no âmbito do Mercosul.

Para tentar diminuir o impacto negativo, a recomendação do Itamaraty ao governo é “evitar polêmicas desnecessárias, sobretudo pela imprensa e redes sociais, preservar a agenda bilateral e manter permanentemente abertos canais de diálogo.”

Fonte: O Globo

Para ler a reportagem original, acesse: https://oglobo.globo.com/blogs/malu-gaspar/post/2023/11/na-reta-final-campanha-de-milei-faz-acenos-de-paz-ao-governo-lula.ghtml

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