Aumento nos custos de transporte atinge duramente comércio global – DW
jul, 12, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202427
A importância do Mar Vermelho para o comércio global é enorme. Há mais de seis meses, as milícias formados pelos Houthi com apoio do Iémen têm atacado navios na região devido à conexões com Israel. Esses ataques ocorrem em meio ao combate contra o grupo Hamas, em Gaza, após o massacre de cidadãos israelitas em 7 de outubro do ano passado.
Para dar mais um exemplo, os Houthis, que defendem a causa palestina, afundaram um navio de carvão utilizando um drone de combate em 20 de junho.
Em resposta a estes ataques, navios militares dos EUA e do Reino Unido têm repetidamente mantido operações militares na região nos últimos meses. Além disso, navios de guerra de duas coligações internacionais foram destacados para garantir o tráfego marítimo ao longo da costa do Iémen. A Marinha Alemã, por exemplo, participa da missão naval Aspides da UE.
Custos crescentes
O comércio global tem estado sob imensa pressão desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro. O conflito no Mar Vermelho aumentou as taxas de frete a nível global, assim como as despesas relacionadas a contratação de seguros.
Os armadores lidam agora com prêmios de seguro mais altos, considerando que o risco da perda de um navio aumentou significativamente, especialmente no Mar Vermelho. Além disso, medidas de segurança para evitar o Canal de Suez e, em vez disso, circunvagar o Cabo da Boa Esperança aumentaram muito os tempos de viagem e o consumo de combustível.
O Drewry World Container Index, que monitora o mercado de transporte de mercadorias, informou que, só na terceira semana de junho, as taxas de frete de um contêiner padrão de 40 pés aumentaram 7% – um aumento surpreendente de 233% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Procurando rotas mais seguras
Simon MacAdam, analista da empresa de consultoria financeira Capital Economics, com sede em Londres, afirma que as empresas de transporte marítimo estão sendo forçadas a se tornar mais flexíveis.
“Os armadores aparentemente se adaptaram muito bem à situação, considerando as limitações no uso do Canal de Suez”, disse ele à DW, acrescentando que os custos caíram brevemente nesta primavera “depois de dispararem em janeiro”.
No entanto, eles “estão começando a subir novamente”, sugerindo que não há razão para esperar qualquer redução de custos.
“Outro fator a ser levado em consideração reside na estratégia adotada pelos importadores de aumentar o rol de pedido para garantir estoques o suficiente durante todo o ano. Mas, com os navios sendo levados a contornar o Cabo da Boa Esperança, é bem provável que vejamos novos aumentos de preços”, disse o especialista da Capital Economics.
Mais navios são necessários
Jan Hoffmann, especialista em comércio da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), também culpa as viagens mais longas ao redor da África pelo aumento dos custos.
“O desvio ao redor da África do Sul exige mais navios para manter o abastecimento. A distância média de viagem de um contêiner em 2024 é 9% maior do que em 2022”, disse ele à DW.
À medida que os navios passam mais tempo no mar, é necessário mais espaço para transporte. Isso significa que as companhias marítimas precisam fretar ou comprar mais navios e contratar mais pessoal. “E como esses navios ainda não existem, os preços do frete vão subir”.
Hoffmann também apontou outro efeito indesejado do alongamento das rotas marítimas: o aumento das emissões de gases de efeito estufa. “Os navios estão viajando com maior velocidade, levando ao aumento das emissões em, por exemplo, 70% na rota Singapura-Roterdã.”
Problemas na América Central
Além das preocupações com a segurança no Oriente Médio, o comércio global também é prejudicado pelos baixos níveis de água no Canal do Panamá, disse Hoffmann. Isso significa que a hidrovia não pode ser totalmente utilizada. Como resultado, os transportadores dos EUA tiveram de adotar o que ele chama de “ponte terrestre” em suas rotas marítimas com a Ásia Oriental. Isso implica no maior uso das ferrovias e rodovias que ligam os portos da Costa Oeste para os da Costa Leste.
O transporte de mercadorias a granel, como trigo ou gás natural liquefeito (GNL), é economicamente inviável para viagens de ponta a ponta nos EUA, deixando os transportadores sem melhores opções do que tomar a longa e perigosa rota ao redor do Cabo Horn, no extremo sul da América do Sul.
Mas Simon MacAdam vê alguma luz no fim do túnel no que diz respeito ao retorno ao transporte normal no Canal do Panamá. Os níveis de água no canal, disse ele à DW, “se recuperaram um pouco” nos últimos meses, e o fenômeno climático La Niña deverá “aliviar ainda mais a situação em breve”. Um ligeiro aumento nos níveis de água no Canal do Panamá já aumentou o transporte de mercadorias ali, acrescentou MacAdam.
Segundo a Bloomberg, cerca de 70% do comércio do Mar Vermelho ainda está sendo redirecionado ao redor da África.
Simon MacAdam acredita que uma crise prolongada poderá sobrecarregar as empresas de transporte marítimo e aumentar ainda mais significativamente as taxas de frete.
“Construir navios leva muitos anos e 90% dos novos contêineres são construídos na China. Capacidades mais elevadas não podem ser alcançadas da noite para o dia”, disse o especialista da Capital Economics à DW, alertando que a crise na indústria pode ficar “ainda pior”.
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