Outras Cargas

Brasil mira a expansão das exportações de algodão para o mercado indiano

set, 19, 2024 Postado porSylvia Schandert

Semana202438

A Índia, com uma produção anual de 5,33 milhões de toneladas, é o segundo maior produtor de algodão no mundo, atrás da China. Enquanto isso, o Brasil, o terceiro maior produtor, gera 3,64 milhões de toneladas. No entanto, ao contrário da Índia, o Brasil tem um consumo doméstico mínimo, tornando-se o maior exportador de algodão do mundo, enviando 2,72 milhões de toneladas anualmente. Em contraste, a Índia importa 0,44 milhão de toneladas de algodão para atender à sua demanda interna, apresentando ao Brasil uma oportunidade significativa para expandir sua participação de mercado na Índia.

O gráfico a seguir mostra as exportações de algodão do Brasil em contêineres de janeiro de 2022 a junho de 2024, de acordo com informações derivadas do DataLiner, o principal serviço de inteligência marítima da Datamar.

Exportações de Algodão do Brasil | Jan 2022 – Jun 2024 | TEUs

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)

Como parte de seus esforços para explorar o mercado de algodão indiano, Marcelo Duarte Monteiro, Diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (ABRAPA), compartilhou insights sobre o cenário do algodão no Brasil e o potencial das exportações.

Trechos:

O mercado de algodão brasileiro enfrenta forte concorrência nas exportações dos EUA e da Austrália, com as fibras sintéticas sendo outro desafio significativo. Como você posiciona suas exportações de algodão globalmente à luz desses obstáculos?

Embora os EUA e a Austrália sejam grandes players no mercado global de algodão, o Brasil também experimentou um crescimento significativo. No entanto, consideramos as fibras sintéticas como nossos principais concorrentes. A competição entre Brasil, EUA e Austrália é saudável — aprendemos uns com os outros. Por exemplo, adotamos as melhores práticas da Austrália e dos EUA, e esse aprendizado mútuo beneficia a todos nós.

Nossa principal preocupação é o aumento das fibras sintéticas, que são derivadas de combustíveis fósseis e contribuem para a poluição plástica, particularmente microplásticos nos oceanos. Pesquisas mostram que a média de uma pessoa ingere o equivalente a um cartão de crédito em plástico a cada semana, devido aos microplásticos em nossas águas e alimentos. Essa questão destaca a importância das fibras naturais, como o algodão. Seja algodão dos EUA, brasileiro, australiano ou indiano, o uso de fibras naturais se alinha com os objetivos de sustentabilidade, tornando-nos confiantes de que o algodão é a escolha certa para o futuro.

Na Índia, as fibras sintéticas dominam o mercado de baixa renda. Como você planeja competir com as fibras sintéticas e aumentar a conscientização sobre os benefícios do algodão?

Competir com fibras sintéticas em preço é desafiador, mesmo que busquemos melhorar a produtividade, eficiência e custo-benefício. As fibras sintéticas sempre terão uma vantagem de preço, mas o algodão oferece qualidade incomparável. O impacto ambiental das fibras sintéticas, especialmente o desperdício de plástico, é um problema significativo, especialmente em países com grandes populações, como Índia e Brasil, onde a gestão de resíduos é um desafio.

Como indústria do algodão, precisamos destacar a sustentabilidade do algodão. O algodão é biodegradável e proporciona meios de subsistência para milhões de agricultores em todo o mundo. Além disso, o conforto e a qualidade que o algodão oferece são incomparáveis. Ao enfatizar esses aspectos, podemos educar os consumidores sobre os benefícios de escolher fibras naturais em vez de sintéticas.

Desde a introdução do algodão Bt, a produção de algodão na Índia disparou nas últimas duas décadas. À medida que a Índia continua a melhorar a produtividade por meio de novas políticas e tecnologias, como você vê o futuro da participação de mercado na Índia?

A Índia tem um enorme potencial para aumentar sua produção de algodão. Atualmente, a Índia cultiva cerca de 12,5 milhões de hectares de algodão, mas sua produtividade é apenas uma fração do que o Brasil ou a Austrália alcançam. Com esforços focados, a Índia pode melhorar significativamente sua produtividade, o que também liberaria terras para outras culturas.

Esta é uma oportunidade, não uma ameaça, para o Brasil. Nossa competição é com fibras sintéticas, não com outros produtores de algodão. Se a Índia conseguir aumentar sua produtividade, vemos isso como um desenvolvimento positivo para a indústria global do algodão.

Transportar algodão do Brasil para a Índia, uma distância de 18.000 quilômetros, eleva os custos. Considerando os interesses dos agricultores, é improvável que a Índia veja importações sem impostos tão cedo. Como você planeja manter preços competitivos nesse cenário?

Logística e distância são, de fato, desafios, mas à medida que o comércio entre Brasil e Índia aumenta, poderíamos explorar rotas de envio mais diretas, o que reduziria os custos. Por exemplo, o Brasil exportou um milhão de toneladas de algodão para a China no ano passado. Se conseguirmos exportar mesmo uma fração disso para a Índia, isso poderia abrir oportunidades para outros produtos também.

Em termos de impostos, o Brasil deve se concentrar em fornecer grades específicas de algodão livre de contaminação, grãos superiores a 29 ou 30 milímetros. Esse nicho poderia preencher lacunas na indústria têxtil da Índia sem competir diretamente com os agricultores locais. Vemos isso como uma relação complementar, não competitiva.

A mudança climática é uma grande ameaça ao cultivo de algodão em todo o mundo. Como o Brasil está abordando a sustentabilidade na produção de algodão?

A mudança climática é um desafio global e seus efeitos são imprevisíveis. Embora o algodão seja uma cultura resiliente, sofre quando as condições climáticas são desfavoráveis. Para combater isso, estamos investindo em pesquisa para desenvolver novas variedades de algodão com melhor resistência ao estresse climático.

A irrigação é outra solução chave. Atualmente, 92% do algodão brasileiro é cultivado com água da chuva, mas temos um enorme potencial para irrigação de águas subterrâneas. Expandir a irrigação ajudaria a mitigar os efeitos da mudança climática na produção de algodão.

Como o Brasil garante a qualidade de suas exportações de algodão?

No Brasil, realizamos testes de Instrumento de Alto Volume (HVI) em cada fardo de algodão. Pegamos duas amostras de cada lado do fardo, combinamos para uniformidade e realizamos testes visuais e de HVI. Os resultados são armazenados em um banco de dados, que nos permite acompanhar o desempenho de diferentes variedades e regiões.

Esse sistema nos permite entregar o produto certo aos nossos clientes, além de fornecer feedback valioso para pesquisa. Ao analisar os dados, podemos continuamente melhorar nossas variedades de algodão, aumentando tanto o rendimento quanto a qualidade ao longo do tempo. Esse compromisso com a qualidade tem sido fundamental para nosso sucesso no mercado global.

Fonte: Agriculture Report

Clique aqui para ler o texto original: https://agriculturepost.com/interviews/brazil-sets-sights-on-expanding-cotton-exports-to-the-indian-market/

Sharing is caring!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


O período de verificação do reCAPTCHA expirou. Por favor, recarregue a página.