Navegação

Canal de Suez: congestionamento de embarcações segue em grandes proporções

abr, 01, 2021 Postado porSylvia Schandert

Semana202114

Alguns dias após a liberação da circulação de embarcações no Canal de Suez, após o encalhe do navio Ever Given, no dia 23 de março, o congestionamento de embarcações segue em grandes proporções. No dia 1 de abril, cerca de 250 embarcações aguardavam para fazer a passagem pelo local. No Canal de Suez passa cerca de 10% do comércio marítimo mundial e 25% dos navios cargueiros do planeta.

Para Andrew Lorimer, CEO da Datamar, deve levar cerca de um mês para que se tenha a regularização dos problemas gerados pelo bloqueio do canal. Segundo ele, para o Brasil, a principal rota afetada são as viagens até o Oriente Médio e Extremo Oriente (Mid and Far East). Com isso, a commodity mais afetada foi a carne brasileira exportada para os países do Oriente Médio.

Para se ter uma dimensão desse volume confira no gráfico a seguir  a quantidade de carga reefer do Brasil que passou pelo Canal de Suez em 2020:

Importações e Exportações Brasileiras  que passam pelo Canal de Suez / Volume Carga Reefer | Jan a Dez 2020 | TEU

 

Já globalmente. segundo o presidente da Autoridade do Canal de Suez, Osama Rabie, a estimativa é de que tenham sido registrados prejuízos diários de cerca de US$ 14 milhões a US$ 15 milhões por dia de bloqueio do canal.

Por sua vez, dados da Lloyd’s List indicam que o navio encalhado estava segurando cerca de US$ 9,6 bilhões em comércio ao longo da hidrovia a cada dia. Isso equivale a US$ 400 milhões e 3,3 milhões de toneladas de carga por hora, ou US$ 6,7 milhões por minuto.

A seguradora alemã Allianz disse que o bloqueio poderia custar ao comércio global entre US$ 6 bilhões a US$ 10 bilhões por semana e reduzir o crescimento anual do comércio em 0,2 a 0,4 pontos percentuais.

Corrida por seguros

Diante desses números, outro problema será a busca por indenizações de seguros.

De acordo com a Lloyd’s List, 90% das cargas marítimas não estão seguradas em caso de atraso. Segundo o sócio do Kincaid Mendes Vianna Advogados, Lucas Leite Marques, existem tipos de seguros diferentes, e a luta das partes para conseguir o ressarcimento deve se prolongar.

No mercado de navegação, normalmente, os navios pertencem a uma empresa e são alugados para outros usuários utilizarem. É o caso do navio que encalhou, que é japonês mas está alugado para uma empresa de Taiwan.

Quem aluga paga uma taxa diária pelo uso da embarcação e, com o atraso gerado pela obstrução, esse valor irá aumentar. Além disso, mesmo com o problema em Suez resolvido, muitos desses navios irão para os mesmos portos na Ásia, levando, portanto, o congestionamento de um lugar para o outro.

Um seguro contra atrasos poderia atender aqueles que serão prejudicados nesses casos. “Atrasos podem acontecer em casos de guerra, bloqueios de porto e obstrução. Esse tipo de seguro é menos comum nesse mercado, podendo deixar vários prejudicados  sem indenização”,  destaca o sócio do Kincaid Mendes Vianna Advogados, Lucas Leite Marques.

Marques prevê o início de uma corrida para diminuir as perdas. Os prejudicados irão procurar suas seguradoras que, por sua vez, também vão buscar o causador do problema para reverter o prejuízo.

A partir deste momento, uma investigação deve ser conduzida pela autoridade que controla o Canal de Suez e pela autoridade marítima local. Mas, como alerta o especialista, não é improvável que novos pleitos sejam feitos em diferentes cortes e jurisdições na busca por encontrar o responsável e obter compensação pelos prejuízos.

Ele ainda destaca que, uma vez encontrado, o responsável pelo dano em Suez também pode estar segurado de alguma forma, o que o levá-lo a buscar ressarcimento pelas suas perdas. “Pela relevância do evento, não é improvável que ocorra uma investigação de cunho internacional, para que se tenha um efeito não só punitivo, como pedagógico.  Tudo isso terá reflexos no mercado de seguros”, afirma.

Fontes: O Globo, UOL e BBC

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