Cargill dobra lucro no Brasil e atinge recorde
abr, 30, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202418
“Em 2023, nós [Brasil] não vimos concorrência. Em vez disso, tínhamos uma fila de clientes querendo comprar produtos brasileiros, os únicos disponíveis [no mercado internacional].” Foi assim que Paulo Sousa, CEO da Cargill no Brasil, descreveu o cenário do mercado de soja no ano passado, que levou a empresa a registrar resultados recordes.
O lucro líquido da maior empresa do agronegócio do Brasil dobrou e atingiu o recorde de R$ 2,5 bilhões em 2023. O lucro operacional líquido aumentou ligeiramente e totalizou R$ 126,4 bilhões, também um valor recorde, como resultado das vendas de 51 milhões de toneladas, quase 25% superior ao de 2022.
O número inclui todos os produtos originados, processados e vendidos pela Cargill, mas a soja e o milho representam os maiores volumes. O forte desempenho foi impulsionado pelo aumento nas vendas de soja e milho, segundo Sousa.
A colheita recorde de soja no Brasil em 2022/23, de 154,6 milhões de toneladas, é um dos motivos do resultado do ano passado. Não é o único. A elevação dos preços dos grãos no mercado internacional, diante das incertezas causadas pela guerra Rússia-Ucrânia e pelo fracasso da colheita de soja na Argentina, completaram o cenário e levaram a Cargill a registrar margens recordes de moagem de soja, em média anual.
Enquanto a Argentina viveu uma “tragédia climática”, com uma quebra de colheita superior a 50%, “o Brasil se beneficiou”, segundo Sousa. O clima favoreceu a colheita recorde e levou o Brasil a ocupar o espaço deixado pela Argentina. O país vizinho oferece grãos para todo o mundo ao mesmo tempo que os agricultores brasileiros.
No Brasil, os agricultores, que já estavam satisfeitos com os preços internacionais, ficaram ainda mais felizes com um grande e inesperado volume de soja e milho por hectare, como resultado de um clima que ajudou as colheitas, segundo Sousa. Nesse ambiente, o Brasil tornou-se mais competitivo no mercado global e vendeu soja até para a Argentina, principal concorrente do país em farelo e óleo de soja.
O executivo não faz projeções para este ano, mas diz não esperar que a Cargill repita tal desempenho, pois os fundamentos mudaram, principalmente com a normalização da colheita na Argentina. Mesmo assim, ele não espera que a safra brasileira decepcione.
Neste cenário, as atuais margens de esmagamento da Cargill são metade das do ano anterior. Além do aumento da oferta, que fez com que os preços caíssem no mercado internacional, a China, principal importador da soja brasileira, agora compra “de mão em boca”, segundo Sousa. Este é um cenário muito diferente do ano passado, quando a China antecipou as compras para garantir a disponibilidade.
Os investimentos representaram outro valor inédito para a Cargill no Brasil em 2023, com R$ 2,6 bilhões, 116% a mais que um ano antes.
Segundo o CEO, a maior parte dos recursos foi destinada à aquisição de processadores de soja, fábricas de biodiesel e armazéns da Granol em agosto de 2023. Também houve investimentos em melhorias de eficiência nas fábricas, portos e armazéns existentes, bem como no segmento de nutrição animal.
Com as novas unidades de britagem, a Cargill passou a estar entre as maiores produtoras de biodiesel do Brasil, afirma o executivo. Para 2024, a empresa prevê investimentos acima da média dos últimos cinco anos, embora abaixo de 2023. Parte dos investimentos terá como foco o aumento de capacidade e a melhoria da eficiência das fábricas adquiridas com a Granol, afirma Sousa.
Mas não só. A empresa deverá investir em infraestrutura e logística, incluindo um porto em Porto Velho (Rondônia) que deverá começar a transportar grãos.
Tais investimentos revelam o otimismo da empresa na agricultura brasileira, mas Paulo Sousa vê desafios para o setor. Uma delas é a questão ambiental. Embora considere que “muita coisa melhorou […] e o governo Lula tem feito um excelente trabalho no combate ao desmatamento ilegal”, o CEO acrescenta: “O meio ambiente continua sendo o maior desafio da agricultura brasileira globalmente, no que diz respeito à aceitação e risco real, mesmo com a nossa marca.”
Em relação à lei antidesmatamento da União Europeia contra a importação de produtos provenientes de áreas desmatadas, ele diz que o Brasil terá que se adaptar para manter seus mercados. No entanto, Sousa diz que a regra cria um problema para a UE. A lei “levará a um reposicionamento do fluxo de produtos, muitas vezes antieconómico e ineficiente, criando mais emissões [de carbono] para cumprir uma meta definida”, salienta.
O executivo diz ainda ver os fornecedores da empresa muito preocupados com os direitos de propriedade no Brasil, devido ao risco de invasão de terras, que “voltou a ser um problema”.
Outro desafio, na sua opinião, é o crédito para o setor. Como os fundos disponíveis – tanto públicos como privados – são insuficientes, a agricultura depende do mercado financeiro, que ganhou importância nos últimos anos na oferta de crédito. Sousa, que criticou a onda de recuperações judiciais no setor, alerta que “se o capital entrante enfrentar desafios, a torneira secará”.
Fonte: Valor Internacional
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