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China, a grande freguesa da celulose brasileira

nov, 29, 2024 Postado porSylvia Schandert

Semana202445

A China é o principal mercado de celulose do mundo, com 42% do consumo global, e foi destino de 43% das exportações brasileiras da commodity de janeiro a setembro, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvore (Ibá), associação que reúne empresas do setor. Essa venda externa somou US$ 4,97 bilhões. Mais importante ainda do que o belo resultado é a belíssima perspectiva.

“O país não só é o principal destino, como também o mercado que mais cresce quando se olha para frente”, diz Leonardo Grimaldi, vice-presidente-executivo comercial, de logística e de celulose da Suzano, principal produtor e exportador brasileiro do produto, com cerca de 40% das vendas externas destinadas à China.

“Nos Estados Unidos e na Europa o aumento médio da demanda é inferior a 1% ao ano, enquanto na China tem crescido em média mais de 5% na última década”, afirma o executivo, referindo-se à chamada celulose de fibra curta, da qual o Brasil é o maior produtor mundial. “O mercado chinês é o motor do crescimento”, diz Rodrigo Libaber, diretor comercial e de logística da Eldorado Brasil Celulose , que destina ao mercado chinês cerca de 45% da sua produção.

Segundo ele, a demanda crescente chinesa é em grande parte impulsionada pelas vendas de papéis para higiene pessoal e limpeza doméstica, que crescem com a urbanização e o Produto Interno Bruto (PIB) do país.

O gráfico abaixo ilustra a crescente demanda por exportações de pasta de celulose vista nos  portos marítimos brasileiros para a China no período que vai de janeiro a outubro de 2021 aos seus meses correspondentes nos anos seguintes. Os dados vêm do DataLiner, um produto de inteligência da Datamar.

Pasta de celulose para a China | Jan-Out 2021 vs Jan-Out 2024 | WTMT

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

Por isso, o mercado chinês é fator decisivo nas decisões de investimento do setor. “Não existe um player que faça um novo projeto sem olhar para a China de forma profunda”, diz Grimaldi. E explica: a demanda da China tem “correlação gigantesca” com o investimento de R$ 22,2 bilhões da Suzano na expansão de 20% da capacidade produtiva, para 13,5 milhões de toneladas. O projeto incluiu a construção de uma nova planta em Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul, inaugurada em julho, e também recursos para logística e formação de área de plantio.

O mesmo raciocínio está por trás do investimento de cerca de R$ 500 milhões na inauguração, em 2023, do novo terminal da Eldorado no porto de Santos, que escoará a celulose produzida na fábrica de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul. “O novo terminal nos habilita para um novo ciclo de crescimento, que tem a China como o principal mercado”, afirma Libaber. Na próxima etapa, a empresa deve expandir a capacidade produtiva, atualmente de 1,8 milhão de toneladas anuais, com um projeto ainda não divulgado.

Com o olho no mercado chinês, ambas as empresas têm escritórios próprios em Xangai. “A gente tem uma estratégia de ser percebido e prestar um serviço para os clientes como um player local, com funcionários chineses que compartilham a língua, a cultura e o fuso horário dos clientes”, declara Libaber.

No caso da Suzano, além do escritório, a companhia mantém na cidade um centro tecnológico com laboratórios para testes e desenvolvimento de tecnologias e produtos. Lá foram realizados os testes para que clientes possam fabricar papel higiênico com 100% de celulose de fibras curtas, como ocorre no Brasil. Isso dispensa o uso das chamadas fibras longas, cerca de 35% mais caras no mercado local.

A empresa também fechou parceria com a chinesa Ningbo Actmix Rubber Chemicals, fabricante de aditivos de borracha, que deve passar a usar a biomassa de eucalipto da brasileira como alternativa a aditivos químicos e antioxidantes de origem fóssil. É uma amostra de que a preocupação com a sustentabilidade começa a ganhar espaço no mercado chinês. “O governo intensificou muito o discurso de redução de pegada de carbono”, conta Grimaldi.

“De forma geral, a China hoje não é tão exigente quanto a Europa em relação à sustentabilidade, mas existe no mundo uma pressão para que todos os  compromissos. Isso vai atingir o mercado chinês”, analisa o assessor de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Pedro Henrique Rodrigues.

Libaber, da Eldorado, pensa parecido. Para ele, a pressão de consumidores mais sensíveis a questões socioambientais, como os europeus, deve pesar. O cenário também deve mudar conforme uma nova geração de herdeiros assumir os negócios da família. “Muitas grandes empresas chinesas são geridas pelos fundadores, na faixa dos 70 anos de idade”, diz. “Essa segunda geração, que estudou na Europa e nos Estados Unidos, vem com uma carga positiva de sustentabilidade.” Essa  nova visão de negócios na China – e mais um fator a favor da produção brasileira, já que os grandes exportadores de celulose no Brasil não plantam em áreas desmatadas desde 1995 e preservam quase 7 milhões de hectares de mata nativa.

Fonte: Valor Econômico

Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/revista-brasil-china/noticia/2024/11/29/china-a-grande-freguesa-da-celulose-brasileira.ghtml

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