China avança e ‘toma’ espaço do Brasil nas exportações para América do Sul
out, 23, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202441
A exportação do Brasil neste ano perdeu fatia de mercado nos países vizinhos, enquanto as exportações da China para a América do Sul avançaram sobre o espaço cedido. A participação brasileira nas importações de um grupo de oito dos principais destinos na América do Sul – Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai – caiu de 13,2% para 11% de janeiro a agosto deste ano contra iguais meses do ano passado. A fatia chinesa avançou de 22,1% para 23,4%. Os EUA também perderam mercado, de 18,8% para 18,2%. Os dados foram levantados pelo Valor com base na divulgação oficial de cada um dos países observados.
Dentre os oito países o Brasil só não perdeu espaço este ano nas vendas aos uruguaios. Em sentido contrário e buscando desovar produtos em locais que não impõem medidas de defesa comercial tão intensas quanto os EUA e países europeus, a China só não avançou na Argentina e no Paraguai. No mercado argentino, a fatia dos chineses caiu, mas menos que a do Brasil. Somente no Paraguai a China perdeu mais participação que o Brasil. Os americanos também reduziram sua fatia de mercado nesse grupo de países, com exceção somente da Bolívia. As comparações de fatia de mercado por país consideraram os números mais recentes divulgados em cada destino. Os dados vão de janeiro a agosto e até setembro para Argentina, Uruguai e Paraguai.
O levantamento mostra que a fatia brasileira na importação total de bens do Chilec aiu para 9,2% de janeiro a agosto deste ano ante 10,6% em igual período de 2023. A China, fornecedor externo líder para o Chile, avançou de 23% para 23,9% de janeiro a agosto de 2023 para mesmos meses deste ano. O quinhão americano caiulevemente, de 20,2% para 20%. No Peru, Brasil e EUA também perderam mercado enquanto a China avançou. Nos mesmos oito meses, a fatia brasileira caiu de 7,5% para 5,6% e a dos americanos, de 21% para 18,7%. A China reforçou a liderança avançando de 25,2% para 27,4%.
Na Colômbia os EUA permaneceram como os maiores fornecedores externos, mas a fatia caiu de 25,6% para 25% de janeiro a agosto. A China continuou em segundo e avançou, com alta de 2,8 pontos percentuais, chegando a 24% em 2024, nos mesmos oito meses. A fatia brasileira caiu de 7,1% para 5,3%. O Brasil é o quarto no ranking de países fornecedores à Colômbia, atrás também do México.
No mercado argentino, o Brasil ainda é líder, com 22,8% de participação de janeiro a setembro de 2024, 1,5 ponto a menos que em igual período de 2023. A China caiu de 19% em 2023 para 17,9% em 2024 e os EUA, de 12% para 11,1%, nos mesmos nove meses.
O gráfico abaixo foi elaborado usando dados do DataLiner, um produto de inteligência marítima da Datamar. Ele compara embarques de contêineres do Brasil para a Argentina entre janeiro de 2021 e agosto de 2024 com importações de contêineres vindos da Argentina com destino aos portos brasileiros. Veja mais detalhes abaixo.
Comércio de contêineres Brasil-Argentina | Jan 2021 – Ago 2024 | TEUs
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Na América do Norte, a China avançou no México e tirou espaço dos EUA.
Para Silvio Campos Neto, economista da Tendências, os dados refletem a estratégia chinesa de ampliar exportações ante o excesso de capacidade em vários segmentos.“Com demanda doméstica mais fraca, a China tenta acessar com um pouco mais de agressividade mercados externos. Isso vale também para a América do Sul.”
Segundo a Alfândega Geral da China, as exportações chinesas para o Brasil, junto com os oito dos principais destinos da América do Sul, somaram de janeiro a setembro US$ 106,3 bilhões. Trata-se de apenas 4,1% da receita total de embarques chineses no período, mas mostra em relação a mesmos meses de 2023 alta de 11%, taxa bem superior aos 4,3% de crescimento no total de exportações da China nos mesmos meses. O comércio sino-brasileiro puxou o desempenho aos sul-americanos. A exportação chinesa ao Brasil somou US$ 55,1 bilhões, alta de 24,9%.
Tirando o Brasil da conta e considerando somente as exportações ao conjunto dos demais oito mercados sul-americanos observados, o embarque chinês somou US$ 51,2 bilhões de janeiro a setembro, com redução de 0,8% contra igual período de 2023. A queda de 29,8% nas vendas de bens chineses aos argentinos pesou. O país asiático, porém, elevou embarques em quatro dos oito destinos da região: Colômbia, Peru, Uruguai e Paraguai. No Chile houve queda de 1,2%. As exportações da China para Equador e Bolívia também caíram, com quedas de 2,4% e 14%, nessa ordem, nos mesmos nove meses.
Os dados brasileiros, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), mostram que a exportação brasileira para a Argentina, principal parceiro comercial na América do Sul, também desabou, com queda de 29,2% de janeiro a setembro de 2024 contra igual período de 2023, de US$ 13,6 bilhões no ano passado para US$ 9,7 bilhões este ano. Diferentemente do que aconteceu com os embarques chineses, porém, a queda das exportações brasileiras foi mais generalizada e atingiu sete do universo dos oito países. As quedas também foram maiores.
Os embarques brasileiros para Colômbia, Bolívia e Peru recuaram 21,6%, 25% e de 17,9%, nessa ordem. No agregado dos oito países as exportações brasileiras somaram este ano US$ 25,6 bilhões, 20,5% a menos que em 2023, de janeiro a setembro. A exceção foi o Paraguai, destino para o qual as exportações do Brasil cresceram 1,9%. No mesmo período, a exportação total brasileira cresceu 0,8%.
No caso da Argentina, é preciso considerar a recessão econômica no país, que afeta todos os fornecedores, diz Campos Neto. A importação total argentina caiu 24,2% de janeiro a setembro, segundo dados oficiais do próprio país. O economista também lembra que houve exportação atípica de soja do Brasil ao país vizinho em 2023, em razão de quebra de safra argentina, o que elevou a base de comparação. “Mas isso não muda a análise de que os embarques passam pelo contexto da China ampliando exportações na região.”
Outra questão é a do setor automotivo, diz. “Uma parcela não pequena das exportações do Brasil aos países sul-americanos é ligada ao automotivo, setor em grande mudança global com a entrada em larga escala dos veículos elétricos chineses, o que explica parte dessa dinâmica. O Brasil perde participação nesses mercados em relação a esse setor. Há particularidades, mas de forma geral o quadro também reflete diferenças de competitividade. Estamos ao lado desses países [geograficamente] e a China, do outro lado do mundo, vem com competitividade maior.”
Segundo a Secex, 91,6% das exportações brasileiras à Argentina de janeiro a setembro deste ano foram de bens da indústria de transformação. Para Paraguai,Colômbia e Peru a taxa foi de 97%, 94,5% e 98,3%, respectivamente. Para o Chile a fatia foi menor, de 64,7%.
A Argentina continua como terceiro principal destino da exportação brasileira, atrás de China e EUA. Entre os vizinhos da América do Sul, absorveu 37,7% do total embarcado no grupo dos oito países, de janeiro a setembro deste ano. O Chile vem depois, com 20,2%, seguido por Paraguai e Colômbia, com 10,6% e 9,3%, nessa ordem. Os oito países absorveram 10% de tudo o que o Brasil exportou em 2024. Os automóveis foram 14% do que o Brasil embarcou à Argentina, igual percentual para a Colômbia. Para o Peru a fatia foi de 10%, nos mesmos nove meses.
O Brasil acelerou este ano a importação de veículos elétricos chineses, o que ajudou a alavancar as vendas externas do país asiático à região, lembra Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). O movimento foi impulsionado pela alta do imposto de importação para carros elétricos e eletrificados. O Brasil passou a cobrar o imposto desde janeiro deste ano e as importações se aceleraram para aproveitar uma tarifa mais benéfica que vigorou até fim de junho. A alta de tarifa foi uma reação à importação de carros elétricos chineses, que se acelerou em 2023.
“Há algum tempo a China vem avançando no nosso mercado cativo de exportação. No último ano e meio o avanço chinês em mercados brasileiros mais tradicionais em produtos manufaturados vem aumentando e em diversos pontos da cadeia. Faz parte do processo de expansão consistente da China tentando exportar para crescerem algum nível e aproveitando margens de manobra onde há espaço para andar e que não está sendo influenciado por imposição de medidas de defesa comercial. E principalmente em países da América Latina, com exceção de México e Brasil, temos isso”, diz Ribeiro.
Welber Barral, sócio da BMJ, diz que o quadro reflete também os acordos de comércio que a China firmou com países da região. “A China também tem mecanismos como financiamento e seguro de exportação, que o Brasil não tem mais. O investimento e os empréstimos chineses nesses países também contribuem para carregar a exportação de itens”, diz.
Fonte: Valor Econômico
Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/10/23/china-avanca-e-toma-espaco-do-brasil-nas-exportacoes-para-america-do-sul.ghtml
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