China desbanca Argentina e já detém quase 40% da venda de carro importado ao Brasil
abr, 08, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202415
No primeiro trimestre do ano a China acelerou a exportação de automóveis e liderou com folga o fornecimento externo de carros aos brasileiros. O país asiático, que hoje é o maior produtor global de automóveis, foi a origem de 39% do total de veículos para passageiros importados pelo Brasil de janeiro a março de 2024. Em igual período do ano passado a fatia foi de 10,3%. A Argentina, historicamente o maior fornecedor externo de automóveis ao Brasil, teve 16% de participação este ano contra 40,2% em 2023. Em terceiro lugar vieram os mexicanos, com fatia de 12,1% em 2024, participação ligeiramente menor que os 13,6% de 2023, sempre considerando o primeiro trimestre.
No ano todo de 2023 os argentinos ficaram na primeira posição de vendas de carros ao Brasil, com total de US$ 2,24 bilhões, crescimento de 9,8% contra o ano anterior. Os chineses aceleram a venda de veículos ao Brasil principalmente no decorrer do segundo semestre e terminaram 2023 em segundo lugar, com total de US$ 1,09 bilhão, com crescimento significativo frente aos US$ 186,7 milhões de 2022.
De janeiro a março de 2024, do US$ 1,46 bilhão em compras externas brasileiras de automóveis, US$ 569,9 milhões vieram da China. O valor é mais de cinco vezes os US$ 102,9 milhões de igual período de 2023 e mais da metade do que o Brasil comprou em automóveis dos chineses em todo o ano passado. O ritmo acelerado dos chineses também impulsionou a importação total de automóveis para passageiros pelo Brasil, que cresceu 46,4% de janeiro a março contra iguais meses de 2023.
Da Argentina, foram desembarcados US$ 234,6 milhões no primeiro trimestre, 42% a menos que os US$ 401,3 milhões de iguais meses de 2023. Do México vieram US$ 176,3 milhões em automóveis de janeiro a março deste ano.
Os números oficiais de exportação do governo chinês também mostram que o Brasil ganhou importância no mapa de exportação de automóveis do país asiático. O Brasil, que era o décimo nono maior destino dos veículos para passageiros embarcados pela China no primeiro bimestre de 2023, ficou em quinto lugar no mesmo período deste ano, atrás da Rússia, Bélgica, Reino Unido e México.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a importação de carros chineses impressiona porque vem em ritmo muito mais acelerado que o do mercado doméstico. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), mais de 60% dos carros importados da China no primeiro trimestre do ano são com motor exclusivamente elétrico. “Os dados mostram uma estratégia para um novo cenário, com a antecipação da China para ocupar espaço nesse mercado”, diz.
Davi Gonçalves, analista responsável pelo setor automotivo da Tendências, lembra que já no ano passado, principalmente no último trimestre, houve crescimento de importações de veículos elétricos e híbridos de origem chinesa.
“Os dados seguiram aquecidos, apesar do início da taxação pelo imposto de importação em janeiro, e devem continuar elevados no curto prazo. Entre os fatores conjunturais que favorecem o quadro está o aumento de interesse dos consumidores brasileiros por carros tecnológicos e movidos a energias renováveis, em contexto mais favorável ao consumo de alta renda”, afirma.
Além disso, aponta Gonçalves, os preços competitivos das montadoras chinesas e a baixa produção doméstica brasileira desses veículos também devem ajudar.
Com o desempenho de janeiro a março, os veículos passaram a ser o segundo item mais importado da China pelo Brasil e ajudaram a impulsionar o total das compras externas vindas do país asiático. Enquanto o valor da importação total brasileira caiu 1,8% de janeiro a março contra iguais meses de 2023, os desembarques de produtos made in China cresceram 14% em valor, segundo a Secex. O aumento foi puxado por alta de 40,2% no volume. Houve queda de 17,6% nos preços médios de importação.
Gabriela Faria, economista da Tendências, lembra que a redução de preços nos importados chineses alia um cenário mais geral, de redução de preços após os choques que pressionaram a inflação global, a uma situação específica da China, que tem experimentado uma “deflação”. “A China passou por período de expansão da capacidade produtiva, mas não houve demanda local para absorver a oferta, o que leva à queda de preços que também se reflete nos produtos que o país exporta”, diz.
No caso dos veículos, a crescente participação chinesa nas importações é um fenômeno observado em vários países, observa Gonçalves. “De toda forma, apesar dos níveis permanecerem em níveis historicamente elevados no decorrer do ano, haverá entraves que limitam o ritmo de expansão”, diz. Gonçalves cita, além do aumento do imposto de importação, o esperado aumento da produção nacional, o que considera o início das operações de montadoras chinesas no Brasil entre o fim deste ano e início do próximo. Pelo cronograma estabelecido pelo governo, os carros elétricos passaram a pagar 10% de Imposto de Importação desde janeiro de 2024. A alíquota deve subir gradativamente e chegar a 35% em julho de 2026.
A China elevou o nível de exportação de vários itens e um deles é o automóvel, o que vem suscitando políticas de proteção nos diversos destinos, avalia Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). No caso do Brasil, a proteção foi feita via aumento do imposto de importação.
“No caso específico do Brasil há um elemento que parece um pouco diferente. Ao mesmo tempo em que existe a indústria automotiva brasileira, esse bebê de 60 anos que sempre que precisa de proteção vai a Brasília, o governo tem interesse em absorver as empresas chinesas. Então, ao mesmo tempo em que impõe o imposto sobre importação, abre a possibilidade dessas empresas internalizarem parte da produção, o que não é um processo imediato”, afirma.
A maior importação de automóveis no Brasil, diz Ribeiro, reflete uma das diretrizes de Pequim de elevar a posição chinesa nas cadeias de valor.
“É um movimento que a China está fazendo no mundo inteiro, de adensamento tecnológico das exportações, e os veículos não poderiam ficar de fora”, observa.
“A questão é que a China já está num ponto de exportar também as fábricas, seguindo a experiência de outros países asiáticos, mas de maneira muito mais rápida.”
A Hyundai coreana é um exemplo de sucesso nesse sentido, cita. “Creio que os chineses querem fazer algo parecido. Uma das diferenças é que o carro elétrico atende a uma demanda de nicho enquanto as experiências anteriores partiram para massificação”, acrescenta.
Já a perda de terreno argentino nas importações brasileiras de carros, diz Ribeiro, deve considerar que não devemos tratar os parques fabris automotivos entre Brasil e Argentina de forma separada.
“Na verdade é um parque fabril único espalhado nos dois países. Com a crise argentina, há um movimento de internalizar a produção no Brasil versus produzir na Argentina, e isso parece estar um pouco mais evidente nos automóveis de massa, com maior volume de produção”, diz.
Isso acontece, avalia o economista, não só em razão da perda de fôlego da demanda doméstica do país vizinho, como também pela insegurança causada durante a transição em algumas condições, como a das negociações trabalhistas sindicais.
Fonte: Valor Econômico
Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/04/08/china-desbanca-argentina-e-ja-detem-quase-40-da-venda-de-carro-importado-ao-brasil.ghtml
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