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Grãos

China investe em milho e pode frustrar exportador brasileiro

dez, 12, 2022 Postado porGabriel Malheiros

Semana202249

Segunda cultura agrícola mais importante do Brasil em valor bruto da produção, o milho vem ganhando espaço no país. A cadeia se fortalece à medida que empresas investem em melhoramento genético de sementes, a área cultivada avança e novos mercados são abertos. O mais recente é a China, que este ano liberou licenças para exportações do cereal brasileiro, gerando euforia entre agricultores. A primeira carga, com quase 70 mil toneladas, foi enviada em novembro.

Mas, se por um lado os exportadores olham com apetite para o mercado chinês – são 1,5 bilhão de pessoas -, por outro os planos de Pequim para garantir segurança alimentar continuam vivos, e podem frustrar os brasileiros no longo prazo. O governo do presidente Xi Jinping quer depender cada vez menos de importações de alimentos.

Brasileiros que lidam com o mercado internacional de grãos lembram que o objetivo chinês não é novo. “Há pelo menos uma década eu ouço falar na intenção da China de elevar a produtividade”, diz Glauber Silveira, diretor-executivo da Abramilho, que reúne produtores no Brasil. “Até agora, não conseguiu”.

Seja a primeira ou a décima tentativa, a China conhece o tamanho do desafio – e traçou metas para persegui-lo nesta década. O país quer ampliar a produção de milho em cerca de 2% ao ano, o que resultaria em 324 milhões de toneladas em 2031.

Com o consumo crescendo perto de 1,5% ao ano no período, para 328 milhões de toneladas, os chineses projetam importar 7,5 milhões de toneladas de milho em 2031. Até lá, o plano é reduzir a importação de milho a cada ano. Soja e trigo também estão no foco.

“Eles estão super focados em sementes, buscando elevar a produtividade em 30% ou mais. Há estudos envolvendo milho resistente à seca na Universidade de Sichuan”, diz José Mario Antunes, COO da InvestSP em Xangai. Sichuan é uma Província no sudoeste do país. A China tem produtividade cerca de 40% mais baixa que a dos EUA, por exemplo.

Além do rendimento, ponto-chave para o agro chinês, há outros desafios, como a própria implantação das políticas traçadas. É que a China não tem muitos grandes latifúndios, como o Brasil. A atividade é bem mais fragmentada, familiar e com o custo quase todo formado por mão de obra e preço da terra – e há menos uso de maquinários.

Grande produtora, a China passou a importar milho no passado recente porque o consumo avançou rápido, e houve um pico de compras há poucos anos. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na safra 2017/18 o país comprou perto de 4 milhões de toneladas do cereal de outros países. Desde então começou uma escalada que culminou nas 29,5 milhões de toneladas registradas no ciclo 2020/21. Para a 2022/23, o órgão prevê cerca de 18 milhões.

A China gosta de manter seus estoques de grãos elevados. “É parte da obsessão chinesa”, explicou uma fonte próxima a negociadores locais. “Eles têm três obsessões por lá: segurança alimentar, energética e tecnológica”, completou.

O país costuma ter estoques de milho para 200 dias, e de trigo para 500 dias. Os de soja são mais baixos devido à uma rotatividade mais alta, disse a fonte. O plano é ter estoques para entre seis meses e um ano, e essas informações são tratadas quase como segredo de Estado, continuou.

O incremento acelerado do consumo chinês enquanto a produtividade local demora a reagir leva brasileiros a duvidarem da redução das importações chinesas, mesmo no longo prazo.

Fonte: Valor Econômico 

Para ler a matéria original, acesse: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/12/09/china-investe-em-milho-e-pode-frustrar-exportador-brasileiro.ghtml

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