Aço e Alumínio

Com Trump, aço chinês pode ser direcionado ao mercado brasileiro

fev, 05, 2025 Postado porSylvia Schandert

Semana202506

As recentes políticas protecionistas adotadas pelo governo do presidente Donald Trump, que incluem a imposição de tarifas adicionais de 10% sobre produtos chineses, têm gerado preocupações no setor siderúrgico brasileiro. Com as restrições ao aço chinês no mercado americano, cresce o receio entre executivos de que o excedente da produção asiática seja redirecionado para outros mercados, incluindo o Brasil.

A entrada do aço chinês nos mercados latino-americanos já é motivo de preocupação – o setor se queixa de que isso estagnou a indústria local e provocou a desindustrialização na região. O setor afirma, ainda, que a ampliação desse fluxo, impulsionada pelas barreiras comerciais dos Estados Unidos, pode intensificar a competição desleal, pressionar os preços e comprometer a sustentabilidade da siderurgia nacional.

O gráfico abaixo revela o influxo de importações de produtos siderúrgicos da China para os portos brasileiros entre janeiro de 2021 e dezembro de 2024. Os dados vêm do DataLiner da Datamar.

Importações de produtos siderúrgicos da China | Jan 2021 – Dez 2024 | TEUs

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

A presidente da Aço Verde Brasil, Silvia Nascimento, afirma que a intensificação das tarifas pelos Estados Unidos pode resultar em um desvio significativo do aço chinês para o mercado brasileiro. Segundo a executiva, a China é estratégica e está atenta ao movimento global contra suas exportações.

Para ela, basta observar os investimentos crescentes no Vietnã, na Indonésia e em outros países do Sudeste Asiático – em grande parte, financiados pelo próprio capital chinês. Essa seria uma forma de contornar barreiras comerciais e manter sua influência no mercado global.

“Há uma questão de preço e uma necessidade de exportação. Diante disso, eles [os chineses] reduzem os valores para se tornarem mais competitivos. Como o governo brasileiro nos envolve nessas negociações? Quer dialogar? Quer discutir a descarbonização da indústria nacional? Estamos falando de aproximadamente 10 milhões de toneladas de aço chinês entrando no mercado, considerando tanto o direto quanto o indireto – um dos mais poluentes do mundo.

Como é possível exigir padrões ambientais elevados da indústria nacional enquanto se permite a entrada de um aço altamente poluente no Brasil?”, questiona.

O setor acusa Pequim de “inundar” a região com aço barato por conta do subsídio estatal e da produção em excesso. Em resposta a essas preocupações, o governo brasileiro anunciou a implementação de cotas para importação de aço e o aumento do Imposto de Importação para 25% sobre os volumes que excedam essas cotas.Essa medida visou conter a “invasão” do aço chinês e proteger as siderúrgicas locais.

Mesmo assim, a expectativa é que a escalada do aço chinês entrando no mercado nacional deve se manter firme em 2025, já que as medidas para frear as importações do país asiático ainda não surtiram o efeito desejado pelas siderúrgicas locais, segundo o Instituto Aço Brasil.

Trump também reforçou sua política comercial protecionista ao impor tarifas sobre produtos importados do México e do Canadá. Essas tarifas estão suspensas temporariamente. A União Europeia pode ser o próximo alvo. Em resposta, esses países ameaçam retaliar com a aplicação de tarifas adicionais sobre produtos dos Estados Unidos.

“Com a implementação de barreiras comerciais pelos Estados Unidos e as medidas de defesa adotadas pela Europa, a gente percebe claramente que o excedente de aço chinês acaba sendo redirecionado para outros mercados. A China, com sua capacidade produtiva excedente, busca novos destinos para escoar sua produção.Nesse cenário geopolítico, o Brasil precisa ficar em alerta, disse o presidente da Aperam América do Sul, Frederico Ayres, durante o Forest Leaders Forum, evento promovido pela Associação Mineira da Indústria Florestal (Amif) que discutiu a siderurgia verde no Brasil.

A China produz mais aço do que o restante do mundo combinado. Diante das barreiras impostas pelo protecionismo dos EUA, o vice-presidente sênior da Vallourec América do Sul, André Lacerda, questiona o destino desse excedente de produção. Ele diz que, embora o Brasil possua alguns mecanismos de proteção para a indústria siderúrgica, eles estão longe de ser plenamente eficazes.

“A gente viu o aumento da importação chinesa no Brasil. Entre 2022 e 2023, o aumento foi superior a 40%, seguido por um acréscimo adicional de 20% entre 2023 e 2024. Esse avanço contínuo tem gerado preocupações no mercado, especialmente sobre até que ponto esse crescimento pode se sustentar e quais serão os impactos para a economia brasileira.

Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), enfatiza que a guerra tarifária desorganiza a corrente de comércio mundial e há a necessidade de aprimorar o sistema de cotas e tarifas para proteger a indústria nacional da concorrência desleal.

Maior fabricante de aço no Brasil, a Arcelor Mittal responde por mais de 40% da produção nacional, o que equivale a 15,5 milhões de toneladas de aço bruto. A empresa acompanha o cenário, mas, segundo o CEO Arcelor Mittal Aços Longos Brasil, Everton Negresiolo, ainda é difícil prever os desdobramentos, embora seja certo que trará instabilidade ao mercado.

Do ponto de vista ambiental, a saída dos EUA do Acordo de Paris deve reacender debates globais, enquanto a COP30, que será realizada no Brasil, pode destacar as vantagens de uma produção siderúrgica mais sustentável.

O repórter viajou a convite da Associação Mineira da Indústria Florestal (Amif)

Fonte: Valor Econômico

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