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Café

Comércio Global de Café Afetado por Aumento Brutal dos Preços

mar, 07, 2025 Postado porSylvia Schandert

Semana202510

Comerciantes e torrefadores de café ao redor do mundo afirmam que reduziram suas compras ao mínimo, enquanto a indústria lida com um aumento acentuado nos preços que os fornecedores ainda não conseguiram repassar para os varejistas.

Durante a convenção anual da National Coffee Association dos EUA, realizada em Houston nesta semana, participantes disseram estar em choque com a alta de 70% nos contratos futuros de café arábica na ICE Exchange desde novembro – o principal referencial para negócios de café globalmente.

Renan Chueiri, diretor-geral da ELCAFE C.A., no Equador, afirmou que este ano é a primeira vez que a empresa não vendeu toda a sua produção anual prevista até março.

“Normalmente, já estaríamos com tudo vendido, mas até agora comercializamos menos de 30% da produção”, disse ele. “O grande aumento nos preços reduz o fluxo de caixa dos clientes, eles não têm dinheiro suficiente para comprar o que precisam.”

A disparada nos preços do café se deve à menor produção em importantes regiões produtoras, especialmente no Brasil, o maior produtor mundial, reduzindo a oferta de grãos.

O gráfico abaixo revela a tendência das exportações de grãos de café do Brasil entre janeiro de 2021 e janeiro de 2024. Essas informações foram derivadas do DataLiner.

Exportações de grãos de café | Jan 2021 – Jan 2025 | TEUs

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

“Ninguém quer se expor, ninguém está comprando para entrega futura, tudo está sendo feito no esquema ‘mão para boca’”, disse um corretor de café, que pediu anonimato devido à sensibilidade do tema.

Por “mão para boca”, ele se referia à prática de comprar apenas o necessário para o momento, evitando estoques.

Segundo ele, muitos negócios recentes no Brasil estão sendo fechados de maneira extremamente cautelosa.

“Você fecha um contrato e tem sete dias para ir à fazenda ou armazém buscar o café. Verifica a qualidade e, se estiver tudo certo, faz o pagamento na hora e sai com o café.”

Uma recente pesquisa da Reuters previu que os preços do café arábica podem cair 30% até o final do ano, à medida que os preços elevados reduzem a demanda e surgem sinais iniciais de uma safra recorde no Brasil no próximo ano.

Mas até que os preços caiam significativamente, grande parte da indústria cafeeira pode enfrentar grandes dificuldades.

O CEO de uma grande torrefadora dos EUA – o maior mercado consumidor de café do mundo – afirmou que alguns de seus clientes não sabem se conseguirão continuar no negócio.

“Eles não sabem se conseguirão vender seus produtos pelos novos preços”, disse ele, também sob condição de anonimato. “Algumas empresas estão fechando.”

O executivo acrescentou que supermercados e mercearias têm resistido ao aumento dos preços exigido pelos torrefadores. As negociações estão demorando, e algumas lojas já começam a enfrentar escassez de café nas prateleiras.

“Tem sido um pesadelo”, desabafou.

Armazéns de café próximos aos portos dos EUA – que recebem grãos da América Central e do Sul – estão operando com metade do volume normal, disse um executivo de uma das maiores empresas do setor de armazenagem.

“Algumas empresas de estocagem estão devolvendo silos aos proprietários, cancelando contratos de locação antecipadamente”, afirmou.

Michael Von Luehrte, proprietário da corretora MVLcoffee, disse que o mercado de café, especialmente no setor de trading, pode passar por um processo de consolidação.

Empresas com mais capital poderão aumentar seus volumes de negociação, enquanto outras sofrerão com a redução do financiamento, acrescentou.

A Louis Dreyfus, gigante do comércio de commodities, afirmou em uma apresentação na conferência que a área plantada com café tem se expandido em resposta aos preços elevados.

A expansão tem ocorrido em países como Índia, Uganda, Etiópia e Brasil. A empresa acredita que, se o Brasil conseguir produzir uma grande safra, a combinação dessa oferta com as novas áreas plantadas pode levar a um colapso nos preços.

Reportagem de Marcelo Teixeira; Edição de Edwina Gibbs

Fonte: Reuters

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