Commodities ditam rumos de balanços de empresas do agronegócio
jun, 25, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202426
Os preços das commodities agrícolas influenciaram as empresas do agronegócio de diferentes formas na última temporada de balanços. Se para os frigoríficos a queda da soja e do milho reduziu os custos da ração e melhorou as margens, para as companhias produtoras de grãos o efeito foi inverso. Nas usinas, o melhor momento decorrente da alta do açúcar pode ter ficado para trás. E, olhando para frente, a expectativa de analistas é que os mesmos efeitos apareçam nos próximos balanços.
Uma surpresa para os analistas que acompanham o setor foi a resiliência da demanda interna, que se mostrou forte e pode continuar nessa toada ao longo do ano.
“Quando fechamos a temporada, o que fica evidente é a descompressão de margens pela queda nos custos de grãos, o que era esperado, mas pode continuar mais para frente. A demanda no mercado doméstico não era esperada, isso surpreendeu”, disse Leonardo Alencar, head de Agro, Alimentos e Bebidas e sócio da XP.
Levantamento realizado pelo Valor Data compilou os balanços de 23 companhias do agronegócio, nas áreas de grãos, insumos, carnes, bioenergia, saúde animal, armazenagem, e propriedades rurais. O resultado líquido ficou positivo em 14 delas e as demais tiveram prejuízo.
Resguardadas as particularidades de cada companhia, no geral, os setores de grãos e insumos foram os que mais amargaram prejuízos ou queda no lucro. As usinas tiveram desempenhos mistos, enquanto os frigoríficos registraram os melhores resultados.
Na avaliação de Gustavo Troyano, analista do Itaú BBA, o destaque da temporada de balanços ficou para JBS e BRF, “principalmente derivado da forte melhoria de rentabilidade na indústria de frango do Brasil e dos Estados Unidos”.
O gráfico abaixo mostra as exportações brasileiras de carne de frango em contêineres entre janeiro de 2021 e abril de 2024.
Exportações Brasileiras de Frango | Janeiro de 2021 – abril de 2023 | TEUs
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
A JBS encerrou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 1,65 bilhão — havia registrado prejuízo de R$ 1,45 bilhão no mesmo período de 2023. Além do frango, a recuperação em quase todas as operações da empresa colocou em segundo plano a oferta ainda baixa de gado bovino no mercado americano. Na Seara, negócio de aves e suínos da JBS, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado cresceu expressivos 711% em comparação com o primeiro trimestre de 2023.
“A Seara era uma questão de foco de gestão, produtividade, rendimento. Esse processo não terminou e tem potencial para mais do que isso”, afirmou o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, em entrevista à reportagem, em maio. Na ocasião, o executivo ainda citou o benefício vindo da queda nos custos, com menores preços dos grãos usados na ração.
A BRF registrou um lucro líquido de R$ 594 milhões no primeiro trimestre deste ano. Apoiada por margens melhores e pela diversificação nas exportações, em meio a novas habilitações para vender seus produtos ao exterior, a empresa teve o melhor primeiro trimestre de sua história. No mesmo período do ano passado, registrara prejuízo de R$ 1,024 bilhão.
Para os próximos trimestres, Troyano ressaltou que a recuperação de preços de exportação da carne de frango também deve ajudar na continuidade da expansão de margens. Já para os frigoríficos de bovinos, apesar de a cotação da arroba estar controlada, o preço de exportação da carne para a China segue sem brilho, levando a cadeia a buscar o acesso a mercados mais rentáveis.
Assim como no primeiro trimestre, “preços de grãos mais baixos na comparação anual devem continuar impactando negativamente nomes como SLC, 3tentos e Vittia, por exemplo, ainda que de maneira mais ou menos direta, dependendo da empresa”, disse o analista.
O lucro da SLC caiu 60,2% no intervalo de janeiro a março, em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 228,9 milhões.
Na visão de Aurélio Pavinato, CEO da SLC, os números do primeiro trimestre refletem a situação do agronegócio brasileiro neste ano. “É um ano de maior pressão sobre as margens em função da quebra de safra e de preços mais baixos. Mas está dentro da evolução do negócio”, afirmou na divulgação do balanço.
Alencar, da XP, ressaltou que a cotação dos grãos para a safra 2024/25 teve um recente avanço e a alta do dólar ajuda nas exportações, mas os fundamentos continuam baixistas para o setor, com grande oferta global.
“As empresas de grãos vão continuar com margens apertadas, e consequentemente as de insumos também. A gente torce para que o produtor tenha vendido [no mercado futuro], aproveitando essa alta recente de grãos e câmbio”, comentou.
O segmento de insumos foi o mais prejudicado pelas margens menores dos agricultores. Todas as empresas do setor analisadas pelo Valor Data tiveram prejuízo ou queda de lucro nos balanços.
A AgroGalaxy teve prejuízo de R$ 249,7 milhões no primeiro trimestre deste ano, 158,3% maior do que no mesmo período de 2023.
No setor sucroenergético os resultados divergem. A Raízen saiu de lucro para prejuízo no quarto trimestre da safra 2023/24. A São Martinho aumentou em quatro vezes o lucro do período, mas assegurado por precatórios da ação da Copersucar contra o extinto Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA).
“Nas usinas, o melhor momento para açúcar já passou. O preço pode ter um pouco de volatilidade, mas de maneira geral o cenário é de baixa”, estimou o especialista da XP, que avalia que os próximos balanços estarão suscetíveis a outros fatores.
Fonte: Globo Rural
Clique aqui para ler o texto original: https://globorural.globo.com/negocios/noticia/2024/06/commodities-ditam-rumos-de-balancos-de-empresas-do-agronegocio.ghtml
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