Como a importação de pneus pressiona cadeia da borracha natural
ago, 19, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202434
Entre 2017 e 2023, as importações brasileiras de pneus de carga e de passeio cresceram 117%, passando de 16,9 milhões para 36,8 milhões de unidades. Esse forte aumento desencadeou uma crise na indústria nacional de pneus, o que tem pressionado a cadeia de produção de borracha natural, matéria-prima em que o Brasil tem tradição e do qual o país já foi o maior produtor e exportador global.
Produtores têm abandonado seringais e, em alguns casos, até arrancado as árvores para abrir espaço para outras culturas, como a cana-de-açúcar em São Paulo, Estado que lidera a produção de borracha natural no país. Segundo estimativas do segmento, na safra 2023/24, a colheita nacional caiu de 15% a 20%.
Em São Paulo, a área de colheita, que havia sido de 115,2 mil hectares em 2022/23, caiu para 113,3 mil hectares em 2023/24, estima o Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura do Estado (IEA-SP). A queda no Estado, que responde por mais de 60% da produção nacional, é inédita. No mesmo intervalo, a colheita paulista passou de 282,1 mil toneladas para 273,5 mil toneladas.
“Desde a instalação da cultura no Estado, isso nunca tinha ocorrido. É consequência do preço baixo e da falta de capitalização do produtor para reinvestir no seringal”, diz Marli Mascarenhas, pesquisadora do IEA-SP.
Segundo ela, o crescimento das importações nos últimos anos fez com que os estoques das usinas ficassem lotados. Com isso, as indústrias deixaram de comprar cerca de 120 mil toneladas de borracha no campo, o que acentuou o declínio das cotações do produto.
Como consequência dos preços achatados, pela primeira vez na história, os heveicultores não conseguiram escoar a safra. Eles precisaram de apoio governamental para amenizar parte do prejuízo.
“Alguns produtores estão cortando os seringais para erradicar as plantas e sair da cultura”, lamentou José Fernando Canuto Benesi, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Borracha Natural (Abrabor). “É uma situação de caos para a cadeia. As medidas necessárias para salvar o setor são governamentais”.
Hoje, os seringais ocupam 257 mil hectares no Brasil, dos quais 163 mil hectares estão em produção. Os dados oficiais da colheita nas últimas duas safras ainda não estão disponíveis. Em 2022, o país produziu 416,9 mil toneladas de borracha natural, e o valor dessa produção foi de R$ 1,8 bilhão, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Agosto é o período da entressafra da cultura. O trabalho dos “sangradores” nos seringais começa em setembro, mês que marca o início da colheita. Em outubro, a borracha começa a chegar às usinas beneficiadoras.
Segundo os integrantes da cadeia, os produtos chegam ao país com preços abaixo do custo de produção local e menores também que os valores praticados no mercado internacional. Esse quadro, afirmam, derrubou as vendas das empresas nacionais, que estão com estoques abarrotados nas fábricas e ao menos 2,5 mil funcionários de licença.
A indústria de pneus, que consome 80% da borracha que o Brasil produz, pediu ajuda ao governo. A cadeia quer a elevação, de 16% para 35%, por 24 meses, da alíquota de importação dos pneus, medida que pode entrar em votação na Câmara de Comércio Exterior (Camex) na próxima semana.
Os fabricantes também cobram reforço nas medidas antidumping que já existem e ações em três outras frentes: uma contra os subsídios dos países exportadores; uma para evitar a falsificação de origem e triangulação dos produtos; e a terceira, para restringir a entrada no país de pneus com preços abaixo do custo de produção, com a verificação do preço de referência na entrada das importações.
No intervalo entre 2017 e 2023, quando as importações cresceram 117%, as vendas de pneus da indústria nacional caíram 18%. A quantidade de borracha natural nos itens importados mais do que dobrou nesse período, passando de 55,9 mil toneladas para 125,1 mil toneladas. Esse é o volume de matéria-prima estrangeira que competiu diretamente com a borracha brasileira.
Na primeira metade deste ano, a participação de mercado dos itens importados já foi maior (54%) que a produção local (46%). A fabricação dos pneus de carga e de passeio não diminuiu no Brasil no período, já que o custo de uma indústria parada é mais alto.
O gráfico abaixo usa dados do DataLiner para se aprofundar nas importações de pneus registradas nos portos brasileiros entre janeiro de 2021 e junho de 2024.
Importações de Pneus | Jan 2021 – Jun 2024 | TEUs
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Estudo da LCA Consultoria Econômica encomendado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) mostra que, em 2023, os pneus de carga importados entraram no Brasil ao custo médio de US$ 2,9 por quilo, valor bem menor do que a média internacional, de US$ 4,2. No Brasil, os valores foram 69% inferiores à média global.
“Essa variação absurda mostra que os países asiáticos aproveitam a falta de proteção tarifária no Brasil para exportar seus produtos a preços desleais”, afirma Klaus Curt Müller, presidente executivo da Anip. “O mercado mundial cresceu e as empresas nacionais encolheram”.
Países como Estados Unidos e México elevaram significativamente as alíquotas nos últimos anos para proteger as indústrias nacionais. No Brasil, a taxa estava zerada e passou a 16% em 2023, o que não surtiu efeito. “Se essa indústria morrer, morreremos junto”, disse Fernando do Val Guerra, diretor-executivo da Abrabor.
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