Como as eleições nos EUA impactam o agronegócio brasileiro
nov, 05, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202443
O resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos deve influenciar o comércio agrícola global, com efeitos que afetarão direta ou indiretamente o Brasil. A disputa entre Kamala Harris e Donald Trump pelos eleitores rurais destaca questões como barreiras tarifárias, protecionismo agrícola, sustentabilidade, mudanças climáticas e o futuro do comércio e das exportações dos EUA.
Geopoliticamente, a demanda chinesa por produtos agrícolas americanos tem diminuído. Gerir as relações comerciais e as potenciais sanções ao mercado chinês representa um desafio para os candidatos, enquanto o Brasil continua a ganhar participação de mercado na Ásia e já é o maior fornecedor de soja e milho para a China.
A disputa comercial entre os EUA e a China, iniciada sob Trump, levou a tarifas sobre os produtos agrícolas americanos, o que fez com que a China buscasse fornecedores alternativos, especialmente na América do Sul. Essa mudança beneficiou o Brasil, que se tornou um parceiro chave para atender à demanda chinesa por soja e milho. Atualmente, o Brasil é o maior fornecedor de soja da China.
Mais de 70% da soja que entra no mercado asiático vem do Brasil. Segundo a consultoria Biond Agro, os prêmios da soja brasileira estão melhorando. A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC) informou que o Brasil enviou 63,9 milhões de toneladas de soja para a China entre janeiro e agosto deste ano, representando 76% das exportações de soja do Brasil.
A competitividade do Brasil também tem sido beneficiada pela desvalorização do real frente ao dólar e pelos investimentos em infraestrutura e logística.
O gráfico abaixo revela os produtos mais exportados em contêineres marítimos do Brasil para os Estados Unidos entre janeiro e agosto de 2024. Os dados, extraídos da plataforma DataLiner da Datamar, compreendem apenas embarques marítimos de longo curso.
Principais exportações em contêineres para os EUA | 2024 | TEUs
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Propostas políticas
Uma análise da S&P Global Commodities Insights revisou as principais propostas dos candidatos para o agronegócio.
A campanha de Harris tem se dirigido aos eleitores rurais em estados-chave, como Geórgia e Pensilvânia. Por outro lado, grupos do agronegócio e associações de produtores de grãos e pecuária, especialmente nos setores de soja e milho, estão em grande parte apoiando o retorno de Trump à Casa Branca.
A plataforma da candidata democrata enfatiza a diversificação das exportações e o combate a práticas comerciais “desleais”, com foco em políticas de transição energética semelhantes às do presidente Joe Biden. Harris visa atrair pequenos e médios eleitores rurais com um plano para “emissões líquidas zero até 2050”, agricultura inteligente em relação ao clima, expansão da produção de biocombustíveis com o apoio da Lei de Redução da Inflação (IRA) e investimentos para fortalecer a resiliência das cadeias de suprimento, de acordo com o relatório da S&P.
Enquanto isso, o candidato republicano Donald Trump promove a priorização da produção americana com foco em tarifas e sanções e na expansão das exportações agrícolas. Analistas entrevistados sugerem que essa postura pode atrair o agronegócio, que tem pressionado por tais políticas.
A plataforma de Trump também inclui planos para revisar e, potencialmente, reduzir as regulamentações da Agência de Proteção Ambiental (EPA), além de citar “alívio” nas restrições tarifárias, cortes de impostos e incentivos para restaurar as cadeias de suprimento.
Associações de produtores de grãos tendem a apoiar o candidato republicano. Tradicionalmente, o setor agrícola de commodities dos EUA é conservador, embora enfrente uma contradição entre o protecionismo econômico e a expansão das exportações.
Comércio global
A disputa apertada coloca o setor agrícola dos EUA em um “ponto de inflexão” entre expansão sustentável e competitividade por meio da desregulamentação, afirmam analistas de cooperativas e institutos de pesquisa agrícola dos EUA.
O Brasil pode se beneficiar ou ser prejudicado dependendo das decisões políticas dos EUA. Este ano, por exemplo, o Brasil ultrapassou os EUA como maior exportador mundial de algodão e lidera a produção e exportação de soja, posições que historicamente pertenciam aos EUA.
Com esses ganhos e desafios derivados de interrupções nas safras devido ao clima, representantes do setor agrícola brasileiro expressam preocupação com o futuro das políticas de preços, subsídios, crédito e aberturas ou sanções de mercados.
Segundo a S&P, dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostram que as projeções de exportação para o ano agrícola 2024/25 estão subindo em relação ao ano anterior. No entanto, fontes de mercado antecipam incertezas sobre o fornecimento para a China caso tarifas e políticas protecionistas sejam impostas. As exportações agrícolas dos EUA para a China caíram entre 2017/18 e 2018/19 antes de se recuperar em 2019/20 e 2020/21.
A China é um mercado crucial para os produtos agrícolas dos EUA, representando 4,83% do milho, 52,45% da soja e 10,98% das exportações de trigo na previsão para 2023/24.
Durante sua campanha, Trump defendeu tarifas mais rígidas e o Trump Reciprocal Trade Act, apelando para grandes produtores americanos preocupados com a concorrência estrangeira. “Fontes de mercado esperam que o retorno de Trump possa trazer de volta as tarifas e potencialmente levar a contra-tarifas chinesas, impactando significativamente o comércio agrícola EUA-China”, aponta o relatório.
A campanha de Harris, por sua vez, também defende a diversificação dos mercados de exportação dos EUA e o enfrentamento de “práticas comerciais desleais da China ou de qualquer concorrente”, levantando preocupações sobre as cadeias de suprimento para a China.
Pequim, por sua vez, tem buscado cada vez mais a América do Sul nos últimos anos para reduzir sua dependência das importações dos EUA, com o Brasil emergindo como o principal fornecedor de milho e soja na safra de 2023/24.
“Ambos os candidatos parecem alinhados no avanço dos biocombustíveis, o que é positivo para o mercado interno. No entanto, eles divergem nas práticas agrícolas sustentáveis e em relação ao clima, tanto em suas promessas quanto em seus históricos”, acrescenta a S&P.
Fonte: Valor Internacional
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