Cresce pressão de investidores globais sobre empresas do agro brasileiro
maio, 13, 2021 Postado porandrew_lorimerSemana202120
As principais empresas brasileiras do agronegócio começarão a ser avaliadas até 2023, com base em diversos indicadores sociais, pela World Benchmarking Alliance (WBA), uma entidade com participação de investidores que não hesitam em questionar o comportamento das companhias-alvo de suas aplicações financeiras.
Em mais um sinal desse crescente monitoramento, esta semana um grupo de investidores que representam US$ 5,8 trilhões em ativos sob gestão enviou uma carta de alerta a 106 empresas de 18 países que tiveram pontuação zero em uma avaliação sobre desempenho na área de direitos humanos pelo “Corporate Human Rights Benchmark (CHRB)”.
Organizado pela Aliança de Investidores para os Direitos Humanos, o CHRB escrutina as empresas com base em parâmetros dos “Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Negócios e Direitos Humanos” e da “Orientação de Due Diligence para Conduta Empresarial Responsável da OCDE”, que o grupo diz serem os principais padrões globais para medir as melhores práticas corporativas de direitos humanos.
Das 230 empresas globais monitoradas, apenas duas, no momento, são brasileiras: Petrobras e BRF, que têm grande parte de seu capital negociado em bolsa. Para o último ranking CHRB, as 106 com pontuação zero receberam carta do grupo de 208 investidores — firmas de gestão de ativos, fundos públicos de pensão, fundos sindicais, instituições baseadas na fé, fundos familiares — e foram cobradas a demonstrar respeito pelos direitos humanos em suas operações e cadeias de valor, com a divulgação de fortes compromissos públicos sobre direitos humanos; explicações sobre rigorosos processos de due diligence em matéria de direitos humanos; e mecanismos transparentes que permitam a remediação de impacto.
“Acreditamos que essas ações podem amenizar riscos para os negócios, incluindo atrasos operacionais, danos à reputação, perdas financeiras e responsabilidades legais”, afirma o grupo na carta às companhias. “Comunicamos claramente nossas expectativas na carta conjunta dos investidores. As companhias precisam levar isso a sério. É tempo de agir”, diz Anna Pot, da APG Asset Management, em comunicado. Magdalena Kettis, do Nordea Asset Management, acrescenta que, se as empresas não melhorarem o desempenho, os investidores estão preparados para “motivar” as recalcitantes.
No último ranking CHRB, a BRF foi uma das 106 companhias que tiveram pontuação zero, ao lado de Starbucks, General Motors, Honda, PetroChinaentre outras. Para várias empresas, é a quarta vez em que aparecem com pontuação zero nos indicadores de due diligence de direitos humanos no relatório. A BRF já estava na lista de 2020.
Procurada, a companhia confirmou que foi notificada pela CHRB, e informou que respondeu à instituição e entrou em contato para compreender os critérios da lista, bem como cada item analisado e possíveis pontos de melhoria. Nesse sentido, disse a empresa, há uma reunião agendada com a entidade para a próxima segunda-feira.
“Diferentemente do que consta no estudo, com o qual discordamos, a companhia já atua em vários quesitos, tais como: análise reputacional, com bloqueio de parceiros que violem os direitos humanos; risk assessment — com metodologia baseada nas melhores práticas internacionais de gestão de riscos (ISO 31000:2018 e COSO ERM 2017); e atuação direta com os gestores e pontos focais em várias regiões, áreas e unidades de negócio, para mitigação, reforço da cultura de riscos e captura de oportunidades de melhoria”, afirmou a BRF.
A empresa reiterou, ainda, que conta com uma Política de Sustentabilidade, que é pública, e que segue todas as diretrizes da Declaração Universal dos Direitos Humanos e os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos, além de ser signatária do Pacto Global da ONU desde 2007. E que realiza uma série de ações de apoio por meio do Instituto BRF e reporta anualmente a evolução de seus compromissos por meio de relatório disponível em seu site.
“A companhia rechaça qualquer avaliação parcial e superficial sobre suas práticas com relação aos Direitos Humanos — tema extremamente relevante para a BRF — e reforça que possui um programa global que define as diretrizes, normas e processos, incluindo Governança, Compliance e Sustentabilidade, atuando sempre de forma transparente, de acordo com as normas e legislações nacionais e internacionais, bem como operando nos mais altos níveis de governança do mercado”, disse.
Indagada sobre a seleção das companhias, Camille Le Pors, da World Benchmarking Alliance, explicou que o mecanismo avalias as maiores companhias globais dos setores considerados de alto risco em termos de impactos dos direitos humanos. Para ser incluída, uma empresa precisa estar entre as maiores de seu setor conforme capitalização no mercado. A lista leva em conta também um critério de equilíbrio geográfico, para garantir que empresas de todas as regiões do mundo estejam representadas.
Camille antecipou que outras 40 empresas brasileiras, além de Petrobras e BRF, incluídas em uma lista de 2 mil companhias, passarão a ser avaliadas pela WBA até 2023. Dessas, 12 são do agro: Amaggi, um dos maiores produtores mundiais de soja; JBS, líder global em proteínas animais; Citrosuco, que tem 20% do mercado mundial de suco de laranja; além de Cutrale, Copersucar, Cosan, Marfrig, Minerva, Aurora Alimentos, Coamo e M. Dias Branco.
Fonte: Valor
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