Crise no Mar Vermelho gera atrasos nas cadeias de suprimentos europeias
fev, 02, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202405
Fabricantes na Europa disseram que suas cadeias de fornecimento se deterioraram pela primeira vez em um ano, um sinal dos transtornos generalizados que os ataques dos militantes houthis no Mar Vermelho têm causado ao comércio, apontam pesquisas de atividade divulgadas ontem.
O índice de prazos de entrega dos fornecedores, que faz parte da pesquisa de janeiro do índice de atividade (PMI) da S&P Global ficou abaixo de 50 na zona do euro, com a maioria das empresas informando que os prazos para entrega de suprimentos em suas fábricas estão mais longos.
Os atrasos nas entregas se somam aos temores de que os distúrbios no Mar Vermelho criarão uma pressão inflacionária sobre a economia europeia e dificuldades aos fabricantes europeus, que já sofrem com uma fraca demanda.
Para George Moran, economista da Nomura, a pesquisa é “sem dúvida nenhuma um sinal de que começamos a ver o impacto de fato do Mar Vermelho sobre as empresas na Europa e, na verdade, muito antes do que esperávamos”.
O resultado, a primeira vez que o índice caiu abaixo de 50 desde janeiro de 2023, para o seu nível mais baixo em 14 meses, reflete a decisão da maioria dos navios porta-contêineres de evitar o Estreito de Bab el-Mandeb, um ponto de estrangulamento que liga o Mar Vermelho ao Oceano Índico.
Os militantes houthis, que têm apoio do Irã, intensificaram os ataques aos navios que atravessam o estreito a caminho da Europa via Canal de Suez desde outubro.
Normalmente, a rota do Mar Vermelho responde por 15% do total do comércio marítimo mundial, inclusive 8% das remessas de grãos, 12% do petróleo e 8% do gás natural liquefeito.
Empresas na maioria dos países da Europa registraram uma deterioração de suas cadeias de fornecimento, entre elas as de grandes economias como Alemanha, França e Itália. Segundo a pesquisa, os fabricantes da Grécia, um dos países da União Europeia mais próximos do Canal de Suez, estão entre os mais afetados pela situação.
Algumas montadoras de automóveis que dependem de navios que alteraram suas rotas para a obtenção de componentes já sentiram o impacto. A Tesla na Alemanha, a Volvo Cars na Bélgica e a Suzuki na Hungria paralisaram certas linhas de produção de veículos.
As empresas também enfrentam custos de transporte marítimo de carga mais elevados como resultado dos ataques houthis. As taxas de frete do leste da Ásia para o Mar Mediterrâneo subiram 290% em comparação com o início de novembro, de acordo com o índice Freightos Baltic, e houve um aumento semelhante na rota da Ásia para o norte da Europa.
“Os ataques no Mar Vermelho estão deixando sua marca”, disse Norman Liebke, economista do Hamburg Commercial Bank. Ele acrescentou, porém, que os níveis de queda do índice estavam “muito longe” dos observados durante a pandemia de covid-19, quando os transtornos generalizados nas cadeias de fornecimento geraram escassez prolongada de materiais para fábricas em todo o mundo.
Desde o primeiro ataque houthi, em 19 de outubro, o tráfego no Mar Vermelho caiu de forma drástica. Nos sete dias até 28 de janeiro, os volumes de comércio no Estreito de Bab el-Mandeb, estiveram 65% abaixo dos níveis do fim de outubro, segundo o PortWatch do Fundo Monetário Internacional (FMI), que fornece indicadores em tempo real da atividade portuária e comercial em todo o mundo.
Em alguns países, como o Reino Unido, os transtornos contribuíram para o aumento dos custos dos insumos em janeiro.
Rob Dobson, diretor da S&P Global Market Intelligence, disse que as empresas do Reino Unido que participaram da pesquisa estimaram que um mínimo de 12 a 18 dias poderia ser adicionado a algumas entregas, o que “atrapalha os cronogramas de produção e aumenta as pressões inflacionárias em um momento em que os fabricantes já enfrentam dificuldades por causa da fraca demanda tanto interna quanto externa”.
Muitos economistas levantaram preocupações sobre o impacto da crise no Mar Vermelho sobre as perspectivas de inflação mundial.
Oliver Rakau, da consultoria Oxford Economics, disse que “hoje parece provável que a interrupção do transporte marítimo de carga pelo Mar Vermelho vai manter os custos de transporte elevados nos próximos meses”. Ele estimou que isso acrescentaria 0,3 a 0,4 ponto porcentual à medida de inflação geral da zona do euro e a “maior parte desse impacto ocorreria no segundo semestre do ano”.
Moran, da Nomura, afirmou que os riscos inflacionários como um todo “não serão massivos” porque existem rotas de entrega alternativas e os distúrbios não estão ocorrendo em um período de demanda intensa.
O impacto dos eventos recentes sobre os preços no Médio Oriente “tem sido até agora limitado”, disse Andrew Bailey, governador do Banco de Inglaterra, na quinta-feira, “mas isso pode mudar se as perturbações comerciais continuarem e isto representa um risco ascendente para nossa projeção de inflação”.
Fonte: Financial Times; tradução de Valor Econômico
Clique aqui para acessar a matéria original: https://www.ft.com/content/6c114551-9689-4a3c-b1cc-71790853c636
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