DatamarNews entrevista com exclusividade Emma Cobos, Diretora de Inovação do Porto de Barcelona
dez, 09, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202447
Na última semana, foi realizado, na cidade de Niterói, o Tomorrow Blue Economy, evento global dedicado ao futuro sustentável dos oceanos. O congresso internacional, organizado pelo iCities – empresa pioneira em cidades inteligentes no país – com a chancela da FIRA Barcelona e em parceria com a Prefeitura de Niterói, ocorreu pela primeira vez no Brasil.
Uma das Key Speaker do evento foi a Diretora de Inovação do Porto de Barcelona, Emma Cobos, que concedeu uma entrevista exclusiva à equipe do DatamarNews sobre Inovação e Logística Inteligente nos Portos. Confira a seguir:
1) Quais as principais mudanças esperadas em termos de inovação e aplicação de soluções inteligentes para o setor portuário nos próximos anos?
Emma Cobos: As maiores mudanças serão relacionadas à transição energética. Sabemos que os portos consomem muita energia. Por exemplo, o porto de Barcelona precisa de energia equivalente à de uma cidade de 200 mil pessoas. Não podemos continuar utilizando energias não verdes e insustentáveis. Portanto, os portos estão pensando em seus planos estratégicos de transição energética, buscando fontes de energia mais sustentáveis, como a energia solar. Alguns portos estão investindo em energia eólica, mas essa não é uma opção viável para todos, como no nosso caso, onde temos que focar no sol. Além disso, há novos combustíveis surgindo, e a eletrificação de cais e navios. A transição energética exigirá inovação não apenas para gerar essa energia, mas para adaptar os portos a novos modelos de negócio e tecnologias. A inteligência artificial, o digital twins e o 5G também estão causando uma revolução, porém falta mão de obra qualificada. O setor portuário não costuma ser uma área atrativa para os jovens. Outros avanços são a economia circular.
2) Como a inovação e a logística inteligente podem apresentar soluções para os desafios de capacidade e armazenamento nos portos do Brasil?
Emma Cobos: A tecnologia será fundamental para superar os desafios de capacidade nos portos. Não acredito em um grande aumento no volume de contêineres nos próximos anos como houve nos últimos 50 anos. Acredito em uma logística mais eficiente, com menos produtos, e em produtos cada vez mais compactos. A miniaturização da economia e o foco em serviços são tendências importantes. Para melhorar a logística, é essencial o uso da tecnologia e a integração com sistemas de transporte ferroviário. O trem é um grande aliado do transporte marítimo, e a conexão eficaz entre os dois ajudará a reduzir gargalos. Além disso, precisamos estar preparados para lidar com disrupções logísticas, como as que ocorreram no Canal de Suez e no Mar Vermelho durante a pandemia. A tecnologia e a formação de profissionais para gerenciar essas disrupções serão cruciais.
3) Quais barreiras podem dificultar o avanço da logística inteligente nos portos?
Emma Cobos: Barreiras também podem ser grandes oportunidades. Uma das principais barreiras é que o setor portuário é muito tradicional e exige grandes investimentos. Muitas empresas fazem investimentos de longo prazo, como em terminais portuários que duram 50 anos ou mais, o que cria uma mentalidade conservadora. Isso pode dificultar a implementação de novas soluções e ideias. No entanto, isso também representa uma grande oportunidade, pois há muito espaço para a inovação, principalmente no que diz respeito à cadeia de suprimentos, rastreabilidade e eficiência logística. A resistência à mudança pode ser um obstáculo, mas ao mesmo tempo, a adoção de novas tecnologias pode transformar significativamente o setor.
4) Estamos no caminho certo para alcançar os objetivos de redução de emissões de CO2 de 40% até 2030 e 70% até 2050?
Emma Cobos: Acredito que o caminho está bem traçado, especialmente na União Europeia, que está fazendo um esforço significativo para atingir essas metas. A União Europeia tem objetivos claros e está investindo em tecnologias como eletrificação de barcos, energia solar e sistemas mais eficientes para gerenciar os portos. A taxação é uma parte fundamental desse processo, pois torna os negócios mais sustentáveis ao impor a redução de emissões de CO2. Organizações como a Organização Marítima Internacional (OMI) estão legislando para reduzir os contaminantes dos combustíveis dos navios. Embora a União Europeia esteja mais avançada, acredito que esse caminho será seguido por outras regiões, já que a conscientização da população sobre as emissões é crescente. A mudança não será fácil, mas é inevitável.
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