Desvalorização do real impulsiona vendas de soja e milho
nov, 12, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202443
A recente desvalorização do real em relação ao dólar impulsionou as vendas de soja e milho no Brasil, uma vez que a valorização da moeda americana deve continuar até 2025, tornando os preços das commodities em reais favoráveis às exportações.
A Brandalizze Consulting informa que 33% da safra de soja 2024/25 já foi negociada, superando a média habitual de 30% para esse período. “O real enfraquecido favoreceu os negócios, e os produtores aproveitaram a oportunidade”, disse Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Para a safra 2023/24, 78% da soja já foi vendida, restando 32 milhões de toneladas no mercado. “Hoje, os negócios na indústria estão sendo fechados a R$150 a saca. Para a nova safra, o valor é de R$144 a saca para entrega em julho de 2025, e o mercado continua firme”, comentou.
No milho safrinha, 86 milhões de toneladas já foram vendidas, com 29 milhões de toneladas restantes até a colheita do verão, em fevereiro. “Os preços do milho também se fortaleceram. Os preços em Paranaguá estão entre R$73 e R$75 por saca, contra R$60 a R$62 em outubro. As indústrias estão pagando R$75 a saca internamente, contra R$65 no mês passado”, observou.
Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, atribui o aumento dos preços do milho principalmente à alta demanda. “Indústrias internas e exportadores estão ambos em busca de oferta, e a depreciação da taxa de câmbio apoia os preços.”
Molinari espera que os preços do milho se mantenham firmes até o primeiro semestre de 2025, devido à oferta limitada após uma colheita de verão mais baixa. “O mercado interno de milho ficará altamente ativo até a safrinha do ano que vem”, acrescentou.
Quanto à soja, Luiz Fernando Roque, da Safras, observa que o fornecimento global dos principais produtores—Estados Unidos, Brasil e Argentina—influenciará os preços mais do que as taxas de câmbio até a colheita sul-americana no início de 2025. Ele antecipa que os preços da soja em Chicago fiquem em torno de US$10 por bushel, com prêmios brasileiros de soja caindo até 50 pontos-base por saca. “No Brasil, os preços podem cair de R$15 a R$20, talvez mais”, afirmou.
Com a taxa de câmbio acima de R$5,50 por dólar, os exportadores devem se beneficiar. O boletim Focus do Banco Central projeta uma taxa média de R$5,43 em 2025 e R$5,50 até o final de 2024. “Para que a taxa de câmbio caia abaixo de R$5,40 por dólar, o panorama fiscal do Brasil precisaria melhorar, com base nas promessas de cortes de gastos do governo”, afirma o analista.
O produtor de soja de Sinop, Marcos Feldhaus, que já havia vendido 60% de sua produção antes do recente aumento da taxa de câmbio, diz que a valorização da moeda teve impacto mínimo em sua estratégia. “Aprendi há muito tempo a não travar os preços da soja em reais. Não se pode controlar o prêmio, então eu calculo melhor em dólares. Só quem tem margens substanciais é que vende em reais”, explicou.
Feldhaus diz que irá monitorar as condições climáticas antes de decidir sobre novas vendas. “Embora eu tenha estrutura de armazenagem, raramente guardo soja, pois o mercado de exportação do Brasil é muito dinâmico. Dado o clima macroeconômico, qualquer mudança pode tornar a negociação imediata mais atraente do que o armazenamento”, explicou.
Enquanto isso, o produtor de soja Márcio Sechele, de Mormaço, no Rio Grande do Sul, plantou 20% da sua área para o ciclo 2024/25, mas ainda não começou a vender sua futura colheita. Ele planeja negociar cerca de 10% da produção até o final do mês, após concluir o plantio. Até lá, ele está adiando o fechamento dos preços.
“Adotei essa abordagem há anos como parte da minha estratégia de gestão de risco. O ano passado foi desafiador, com chuvas excessivas, e ainda estamos incertos quanto ao clima até a colheita. Como estou comprometido com a entrega física, prefiro não ficar exposto às incertezas do mercado”, disse Sechele.
No cenário internacional, os olhos estão voltados para um possível novo conflito comercial entre os EUA e a China. O presidente eleito Donald Trump se comprometeu a impor impostos sobre as importações durante sua campanha. No seu primeiro mandato, a administração republicana aumentou as tarifas sobre produtos chineses, o que beneficiou as exportações brasileiras de soja para a China. “Naquela época, o Brasil exportou de 10 a 15 milhões de toneladas adicionais de soja para a China”, observa Roque. Para a safra 2024/25, a Safras projeta as exportações brasileiras de soja em 107 milhões de toneladas, que podem aumentar se uma nova guerra comercial EUA-China se concretizar.
O analista Luiz Carlos Pacheco, da TF Consultoria, acrescenta que novas sanções dos EUA sobre produtos chineses podem favorecer as exportações brasileiras para a Ásia. “Isso, claro, se o Brasil não for atingido por sanções, já que seu setor agrícola compete diretamente com os EUA”, afirmou Pacheco.
Tradução: Todd Harkin
Source: Valor Internacional
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