Eventos climáticos podem tirar mais de 12% do PIB da AL até 2050
out, 01, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202439
Inundações, furacões, calor extremo, secas e grandes incêndios – eventos que se tornaram mais recorrentes com as mudanças climáticas – afetaram ao mesmo tempo vários países da América Latina neste ano, que deve superar o recorde de 67 dessas ocorrências registradas na região em 2023. De janeiro a julho deste ano, só o Brasil já tinha passado por 12 eventos climáticos graves.
Analistas alertam que o aumento da recorrência de eventos climáticos catastróficos terão crescente impacto sobre as economias da região nas próximas décadas.
“Há vários anos que alertamos que esses fenômenos climáticos devem causar perdas pesadas, afetando as comunidades, a atividade de vários setores e a economia em termos progressivos”, disse Carlos De Miguel, chefe da Unidade de Economia da Mudança Climática da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal).
“Estudos da Cepal estimavam no ano passado que eventos causados pelo calor extremo gerariam perdas de vários pontos no Produto Interno Bruto (PIB) dos países da região”, disse De Miguel. “Inicialmente, essas perdas seriam de 3,3% do PIB [em relação a 2023] até 2030 e 12,5% até 2050. Mas o que vemos agora é que essas ocorrências estão se intensificando e aumentando a recorrência.”
Diante desse cenário, alguns analistas indicam que a perda estimada pela Cepal até 2050 pode, na verdade, ser alcançada pelo menos cinco anos antes.
Só no Brasil, as inundações do Rio Grande do Sul, em maio, que deixaram 182 mortos, devem ter um impacto de US$ 97 bilhões na economia do país e causar perda de 1% do PIB, segundo cálculos da Confederação Nacional do Comércio (CNC). No caso dos incêndios florestais da Amazônia e do Pantanal, ainda não há estimativas precisas sobre o impacto numérico no PIB, mas centros de estudos afirmam que há prejuízos com a destruição de plantações – reduzindo a produção de commodities como soja e carne bovina. Além disso, a perda de biodiversidade afeta setores como o farmacêutico e de biotecnologia, elevando os custos para a saúde.
Alguns países da região sofrem com as piores secas em vários anos. Desde 2022, 1.963 dos 2.469 – ou seja, 79,4% – dos municípios do México enfrentam uma seca que se intensificou neste ano, afetando significativamente as produções de feijão, trigo e milho. Os danos que a atual seca têm causado no território mexicano são imensos: represas e lagos em seus níveis mínimos históricos, enquanto muitas nascentes, rios e córregos simplesmente secaram. Além das perdas para a agricultura, a escassez de água prejudica sua qualidade para o consumo humano e compromete a geração de energia.
Na quinta-feira, a revista “Communications earth & environment” publicou um artigo com foco específico na América do Sul, onde a situação de clima extremo se agrava em três áreas específicas: a Amazônia brasileira, o Gran Chaco (em grande parte no Paraguai) e a região do Lago Maracaibo, na Venezuela. “Embora o aquecimento do subcontinente siga de perto a trajetória global, o aumento das temperaturas tem sido mais pronunciado em algumas regiões”, aponta a revista.
Segundo a publicação, as condições de forte calor, com secas, nestes três sistemas específicos ocorriam cerca de 20 dias por ano, entre 1971 e 2020. Mas, nas últimas décadas, essas condições aumentaram para até 70 dias por ano. O estudo abrange o período até 2022 – excluindo o calor recorde de 2023. “Os dados mostram a perspectiva de uma América do Sul mais quente, seca e inflamável.”
Os incêndios que alteram o fluxo de rios voadores – correntes de umidade que se originam na floresta amazônica e transportam vapor de água para outras regiões do Brasil e da América do Sul – pioram a crise hídrica em toda a região. O rio Paraguai atingiu nas últimas semanas seu mais baixo nível histórico, afetando o transporte fluvial – essencial para a economia do Paraguai, que não tem saída para o mar – e causando a morte de toneladas de peixes.
Na Bolívia, os efeitos da mudança climática são dramáticos para a economia do país. “O agronegócio foi severamente afetado pela seca e a redução na colheita de soja, milho e batata é significativa, com perdas estimadas em 800 mil toneladas de soja na safra de 2023-2024”, disse o economista Jaime Dunn, que presta consultoria a empresas bolivianas.
“Além disso, inundações danificaram gravemente as infraestruturas rodoviárias e os serviços públicos em muitos locais, exigindo investimentos significativos para reparar estradas, redes de distribuição de água potável e outros serviços essenciais”, disse Dunn.
No Equador, a seca histórica tem forte impacto na oferta de energia do país. O governo decretou racionamentos que interrompem o fornecimento de anergia por até oito horas durante o dia.
Colômbia e Peru também sofrem com escassez de energia em decorrência da seca. No sul do Peru, companhias mineradoras têm recorrido à geração de eletricidade própria para manter a produção.
“O problema é que essas geradoras são movidas a combustível fóssil, o que, na prática, agrava o problema da emissão de gases do efeito estufa”, disse um diplomata baseado em Lima, que pediu para manter-se anônimo.
Na Argentina, que ainda se recuperava da pior seca em 60 anos, o governo do presidente direitista Javier Milei busca tornar o setor de mineração o motor principal de sua economia, em vez do tradicional setor agrícola.
“Não há dúvida de que os eventos climáticos extremos afetam fortemente a possibilidade de gerar uma recuperação que nos permita pensar num caminho sustentável para o país. Vimos como a quebra sucessiva de safras afetou a grande fonte de divisas para a economia e de reservas estrangeiras para o Banco Central. E, num país com falta recorrente de dólares, isso prejudicou muito nossa economia”, diz o analista Agustino Fontevecchia.
“Isso também explica o esforço do governo de lançar projetos de mineração e energia, especialmente aqueles associados a Vaca Muerta e ao xisto, que deverão ser menos afetados por condições climáticas adversas.”
Fonte: Valor Econômico
Matéria original: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/09/30/eventos-climaticos-podem-tirar-mais-de-12-do-pib-da-al-ate-2050.ghtml
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