Portos e Terminais

Nitrato de amônio: produto que causou explosão no Líbano corresponde a 0,4% das importações do Brasil

ago, 11, 2020 Postado porSylvia Schandert

Semana202033

A explosão no Porto de Beirute, no Líbano, no último dia 04 de agosto, provavelmente causada devido ao armazenamento incorreto do nitrato de amônio acendeu uma preocupação sobre as condições de transporte e estocagem do produto – usado na fabricação de fertilizantes – no Brasil.
O nitrato de amônio é matéria-prima de um fertilizante comum na agricultura brasileira, utilizado há pelo menos 50 anos, especialmente na produção de cana-de-açúcar, frutas e hortaliças. Grande parte dessa matéria-prima utilizada no Brasil é importada da Estônia – cerca de 80%, segundo o DataLiner.

Dados do DataLiner apontam que no primeiro semestre de 2020, os adubos e fertilizantes corresponderam a 24,1% das importações brasileiras. Destas, o grupo 3102, NCM no qual o nitrato de amônio está inserido, corresponde a cerca de 7% das importações. O nitrato de amônio em si, representa 0,4% do total importado pelo Brasil no primeiro semestre de 2020.

Fonte: DataLiner
A maior parte do nitrato de amônio importado pelo Brasil chega a granel, 98%. São certa de uma a três atracações mensais de navios carregados com o produto. Cada atracação representa cerca de seis vezes o volume de carga que causou a explosão no Líbano.
Porcentagem de nitrato de amônia importada em contêiners vs. a granel
Fonte: DataLiner
Principais portos brasileiros que recebem o nitrato de amônio 
Fonte: DataLiner
Apesar do grande volume de nitrato de amônio importado, o risco de explosões não é tão comum. O nitrato de amônio, em pequenas quantidades e bem armazenado, não é perigoso. Ele pode causar uma grande explosão quando exposto a altas temperaturas. Em Beirute, por exemplo, o nitrato ficou guardado em um armazém por seis anos, sem a segurança necessária. No Brasil, o produto é fiscalizado pela Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC), ligada ao Exército Brasileiro.
Cuidados nos portos 
Responsável por receber o maior volume de nitrato de amônio do Brasil, o Porto de Paranaguá afirma que o produto  representa apenas 3,5% do total dos fertilizantes importados recebidos no local.

“Nunca tivemos problemas relacionado a essa substância. A autoridade portuária, assim como os terminais, operadores e armazéns, atuam com os devidos planos de segurança atualizados”, afirma o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia. “Especificamente em relação ao nitrato de amônio, quem trabalha com o produto segue uma rígida rotina de fiscalização e prestação de contas impostas pela Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC)”.

Garcia ainda lembra que a mão de obra utilizada, tanto na faixa portuária quanto nos terminais e armazéns, nas operações dos granéis de importação é extremamente qualificada. “As empresas, assim como o Órgão Gestor da Mão de obra avulsa (OGMO), sempre oferecem curso e capacitação”, diz.

Operam o produto, nos portos do Paraná, quatro empresas. Segundo a Diretoria de Operações, são 11 armazéns credenciados (pela autoridade portuária e pelo Exército) para receber nitrato de amônio.

“É um produto controlado pelo Exército, que inspeciona os armazéns, e apenas com esta liberação é que credenciamos os armazéns para receber o produto”, afirma o diretor de Operações da Portos do Paraná, Luiz Teixeira da Silva Júnior.

Segundo os operadores de fertilizantes do Porto de Paranaguá, para trabalhar com o nitrato de amônio as empresas devem solicitar à DFPC um certificado especial de registro (CR). Para fornecê-lo, a instituição orienta ajustes e adequações que vão desde a construção dos armazéns, segurança do produto (para impedir desvio ou roubo), armazenagem até o treinamento do pessoal.

São inúmeros os itens verificados, antes de aprovar a concessão. Mesmo com o registro, a cada importação, o Exército é notificado e emite uma licença específica, após avaliar a situação documental. Antes mesmo da atracação do navio, o Exército deve ser notificado sobre o local para onde a carga que chega será levada e armazenada.

Mesmo para um curto trajeto, do cais até o armazém, o caminhão que transporta o produto também deve ser certificado. No Porto de Paranaguá, estes veículos e os respectivos motoristas são capacitados especificamente para esse transporte e recebem, também do Exército, um selo de identificação.

“Para cada nota fiscal que emitimos para esse transporte, é emitido uma guia de tráfego que também leva um selo, que é controlado via sistema pelo DFPC”, explicam os representantes do setor. O rastreamento de cada lote que chega é conferido pelos representantes do Exército, no próprio armazém, ao final da descarga.

“Seguimos rigorosamente todas as exigências do Exército e da autoridade portuária. Trabalhamos, nos mínimos detalhes, pensando em prevenção e redução de todos os riscos”, garantem os operadores. Além disso, no cais, os equipamentos que operam o nitrato de amônio passam por checagem (elétrica e mecânica) a cada duas horas; nas demais operações, isso ocorre a cada turnos de seis horas.

Enquanto estão nos armazéns, o produto é acomodado entre paredes de concretos, em boxes iluminados com lâmpadas frias, devidamente identificados, com controle de acesso, avisos de segurança e pessoal devidamente treinado.

A Autoridade Portuária de Santos (SPA) também garante que todas as medidas de segurança são atendidas.“A movimentação ocorre no Terminal Marítimo do Guarujá (Termag), localizado na margem esquerda do Porto (Guarujá). O produto armazenado nesse terminal é o nitrato de amônio Classe 5 (oxidante), destinado ao uso agrícola, com o monitoramento rigoroso da temperatura e umidade, rotatividade dos volumes armazenados e misturado a calcário, para dar maior estabilidade ao produto. Não é estocado por longos períodos, sendo basicamente uma operação de transbordo direto dos navios para caminhões”, disse, em nota, a SPA.

“O que se sabe até o momento sobre o acidente no Porto de Beirute é que as cargas estariam armazenadas sem o atendimento de normas de segurança, não havendo qualquer informação sobre o que de fato ocasionou o acidente em questão. No Porto de Santos, a SPA ressalta que a segurança é prioridade, assim, todos os procedimentos operacionais são seguidos criteriosamente pelos responsáveis pelas operações e acompanhados por intensiva fiscalização, propiciando total segurança à população”, completou a autoridade portuária.

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