Fragmentação dos mercados de commodities ameaça segurança alimentar e transição energética
out, 04, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202340
A invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro 2022 levou à fragmentação dos principais mercados de matérias-primas, elevando a insegurança alimentar em países de baixa renda e mais vulneráveis e trazendo obstáculos à transição energética global, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A guerra na Ucrânia levou a um aumento nas restrições dos países ao comércio de mercadorias, com o uso de commodities como petróleo, gás natural e grãos agrícolas como instrumento de pressão em um grande conflito, aponta o Capítulo 3 do relatório Panorama Econômico Mundial (WEO) do FMI, que trata da fragmentação dos mercados de commodities, divulgado nesta terça-feira (03).
“As matérias-primas, especialmente os minerais essenciais para a transição verde e alguns produtos agrícolas altamente comercializados, são especialmente vulneráveis em caso de fragmentação geoeconômica”, observam os economistas Jorge Alvarez, Mehdi Benatiya Andaloussi e Martin Stuermer, em artigo publicado no Blog do FMI.
Segundo os autores, essa maior fragmentação poderá levar a turbulências nos mercados de matérias-primas, causando grandes oscilações de preços. Em termos econômicos globais, o FMI estima perdas a longo prazo relativamente modestas, de cerca de 0,3% devido aos efeitos compensatórios na produção e no consumo dos países.
Contudo, os países de renda baixa e outros mais vulneráveis vão sofrer um impacto maior, segundo as simulações do Fundo, que apontam “para perdas de produção a longo prazo superiores a 2%”.
Eles atribuem esses efeitos adversos em parte à produção altamente concentrada de produtos básicos — uma consequência das vantagens regionais em termos de recursos naturais. Os três maiores fornecedores de minerais, por exemplo, respondem por cerca de 70% da produção global em média. Isso deixa muitos países altamente dependentes da importação de alimentos, energia e minerais de alguns poucos fornecedores.
Essa fragmentação dos mercados também poderá dificultar a transição energética global. Para alcançar as metas de emissão líquida zero de carbono, a demanda por minerais deverá aumentar várias vezes nos próximos anos. Uma vez que a oferta desses insumos está concentrada em alguns países, o comércio é essencial para garantir o acesso a esses recursos.
“No nosso cenário hipotético, onde o comércio de minerais críticos entre blocos é interrompido, o investimento em energias renováveis e em veículos elétricos poderá ser reduzido em até 30% até 2030, em comparação com um mundo não fragmentado”, escreveram os economistas do Fundo.
Eventos climáticos e desastres naturais
Eles defendem a necessidade de esforços urgentes para garantir o fluxo desimpedido de alimentos e minimizar a ameaça de insegurança alimentar em países de baixa renda. “Especialmente tendo em conta a crescente frequência e intensidade de eventos climáticos e desastres naturais”, acrescentaram.
O FMI também recomenda aos governos que trabalhem para reduzir os riscos decorrentes de uma fragmentação dos mercados de commodities, com medidas como buscar a diversificação de fornecedores, aumentar investimento em mineração, exploração e reciclagem de minerais críticos.
Fonte: Valor Econômico
Para ler a matéria original, acesse: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/10/03/fragmentacao-dos-mercados-de-commodities-ameaca-seguranca-alimentar-e-transicao-energetica.ghtml
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