FT: Escalada no frete marítimo pressiona exportadores chineses
jul, 03, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202426
Na Golden Arts Gifts & Decor, uma fabricante de árvores de Natal do sul da China, o clima não é nada festivo. Com os custos do frete aumentando em razão dos ataques ao transporte marítimo no Mar Vermelho pelo grupo militante houthi do Iêmen, o gerente Richard Chan diz que este ano caminha para ser um dos piores para o setor em mais de duas décadas.
“Não estamos falando em ter lucro este ano. Só precisamos sobreviver”, diz Chan. “A crise no Mar Vermelho tem sido uma grande dor de cabeça.”
A fabricante, que tem o Walmart como cliente e exporta cerca de 80% de seus produtos para os Estados Unidos e Europa, diz que os ataques atrasaram os embarques. Como resultado, seus clientes solicitaram que os pedidos fossem enviados até um mês antes do normal.
Os desafios enfrentados pela fábrica de Chan espalham-se pela China, onde os fabricantes afirmam estar tendo problemas para cumprir prazos reduzidos, uma vez que os compradores americanos e europeus exigiram que os pedidos fossem antecipados para garantir a entrega a tempo para o pico das vendas de fim de ano.
O custo médio do transporte de um contêiner de 12 metros entre a Ásia e o norte da Europa em curto prazo atingiu US$ 6.855 no fim de junho, um aumento de mais de 110% em dois meses e de cerca de cinco vezes comparado ao mesmo período do ano passado, segundo a Xeneta, uma empresa que monitora o mercado de fretes.
“Importadores do mundo todo, inclusive dos EUA, estão nervosos devido às incertezas e perturbações que estão ocorrendo com a crise no Mar Vermelho”, diz Simon Heaney, gerente sênior de pesquisa de contêineres da consultoria Drewry. “Ela parece estar se prolongando e não há um fim à vista.”
Cerca de 19% dos clientes dos EUA e 26% dos clientes europeus consultados pela Drewry em maio disseram que estavam adiantando os cronogramas de envio por temerem interrupções na cadeia de abastecimento, diz Heaney.
Alguns temem que os aumentos tarifários planejados pelos EUA possam elevar ainda mais os custos dos fretes e portanto os exportadores estão correndo para antecipar os embarques antes da implementação das taxas, diz Thomas Eisenblätter, vice-presidente-executivo de frete marítimo global da transportadora Forto, com sede em Berlim. Os produtos visados pelos EUA incluem materiais relacionados a veículos elétricos, peças de baterias e células solares.
Com os ataques houthis – iniciados em resposta à guerra de Israel em Gaza, após os ataques do Hamas em 7 de outubro – entrando em seu nono mês, os navios estão seguindo por rotas mais longas para evitar o Mar Vermelho. Nas últimas semanas, grandes armadores acrescentaram embarcações e lançaram novos serviços a partir da China. Mas esses esforços não aliviaram completamente a pressão sobre os fabricantes chineses.
Michael Lu, presidente da fabricante chinesa de caixas para presentes, que exporta para clientes como a Marks and Spencer e tem uma fábrica em Dongguan, diz que em alguns casos está pagando 40% mais do que no ano passado para embarcar produtos para o Ocidente. Nem todos esses custos podem ser repassados para os clientes.
A fábrica começou a operar nos fins de semana para atender a demanda de alguns clientes ocidentais por remessas duas semanas antes do planejado. A companhia teve que “recalcular e reavaliar nossos cronogramas de produção”, diz Lu.
Danny Lau, presidente honorário da Associação das Pequenas e Médias Empresas de Hong Kong, que inclui exportadores com fábricas na China continental, diz que muitos fabricantes foram “prejudicados” pelos prazos mais apertados.
“O pagamento de horas extras na China continental poderá ser de 1,5 a 2 vezes maior” , diz Lau. “Será uma surpresa se os fabricantes ainda conseguirem lucrar alguma coisa este ano.”
Anny Cheung, diretora sênior da Wah Lung Toys de Hong Kong, que fabrica na China continental, diz que os custos mais altos do frete e os prazos de entrega mais longos também “deverão levar ao aumento dos preços dos produtos importados e a possíveis atrasos na disponibilização de produtos nos EUA e Europa” este ano.
No entanto, a capacidade das transportadoras de lucrar com os preços altos no mercado à vista é limitada, uma vez que os custos de muitos carregamentos estão vinculados a acordos de longo prazo. Isso, combinado com o aumento da capacidade na indústria naval e os custos mais altos associados às rotas de exportação mais longas, limitou o aumento potencial dos lucros em transportadoras como a Maersk e a CMA CGM.
Algumas empresas de transporte marítimo estão quebrando contratos de longo prazo para aproveitar as altas taxas no mercado à vista, segundo uma fonte do setor.
Com a perspectiva de imposição de novas tarifas pelos EUA, enquanto Joe Biden e Donald Trump promovem uma retórica protecionista, não está claro quanto tempo o “ciclo vicioso” vai durar, diz Heaney da Drewry.
Chan, da Golden Arts & Decor, diz que a companhia teve que contrair empréstimos para comprar novas máquinas e acelerar a produção para cumprir os prazos mais curtos.
Mas isso pressionou os lucros no momento em que ela reduz os preços para manter os compradores americanos e europeus, muitos dos quais tentam obter produtos fora da China. “As coisas estão muito difíceis”, diz ele.
Fonte: Valor Econômico
Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/07/02/ft-exportadores-chineses-levantam-temores-sobre-crise-de-frete-no-natal.ghtml
-
Economia
set, 18, 2023
0
Crédito à exportação via BNDES volta ao debate
-
Petróleo e Gás
maio, 20, 2019
0
Argentina pronta para exportar a primeira carga de GNL
-
Gráficos de Tradelanes
dez, 04, 2018
0
Gráficos DataLiner Tradelane | janeiro a agosto de 2018
-
Fruta
out, 22, 2024
0
Exportações de suco de laranja continuam em queda na safra 2024/25