Gargalos nas cadeias de suprimentos devem piorar nos próximos meses
abr, 26, 2022 Postado porSylvia SchandertSemana202218
As regras rígidas da China para coibir a covid-19 estão prestes a desencadear mais uma onda de caos neste verão no hemisfério Norte (de junho a setembro) e piorar os gargalos vistos nas cadeias de suprimentos entre a Ásia, os EUA e a Europa.
A política de tolerância zero em meio à escalada de novos casos na China, traz a pandemia de volta ao seu ponto de partida, mais de dois anos após seu surgimento em Wuhan ter provocado um choque na economia global. O congestionamento do transporte marítimo nos portos chineses, associado à guerra da Rússia na Ucrânia, pode provocar um duplo choque à economia global e sabotar a recuperação, já comprometida pelas pressões inflacionárias.
Mesmo se os surtos forem contidos, as rupturas serão sentidas globalmente – e se prorrogarão até o fim do ano. “Prevemos uma confusão maior que a do ano passado”, disse Jacques Vandermeiren, CEO do porto de Antuérpia, o segundo mais movimentado de transporte marítimo europeu por volume de contêineres. “Isso terá um impacto negativo e um impacto negativo grande, por todo [o ano de] 2022.”
A China responde por cerca de 12% do comércio global, e as restrições impostas devido à covid deixaram fábricas e armazéns ociosos, atrasaram as entregas por caminhão e pioraram o acúmulo de contêineres. Os portos dos EUA e da Europa já estão cheios, o que os torna vulneráveis a novos choques. “Assim que as atividades de exportação de produtos forem retomadas e que um grande número de navios partir para os portos da costa oeste dos EUA, prevemos que os tempos de espera aumentarão significativamente”, disse Julie Gerdeman, CEO da empresa de análise de risco Everstream Analytics.
No curto prazo, esses acúmulos provocarão mais dores de cabeça no comércio global de mercadorias, de US$ 22 trilhões, que despencou em 2020 e se recuperou no ano passado. No mais longo prazo, esse caos está redesenhando a economia globalizada mutuamente interligada pelo comércio transfronteiras. Para alguns executivos de empresas, atrair redes de produção distantes deixou de ser um mote político patriótico – passou a ser uma necessidade comercial, em vista de toda a incerteza.
“Isso acelerou a necessidade, que já era premente, de as cadeias de fornecimento se tornarem mais regionais”, disse Lorenzo Berho, CEO da Vesta, desenvolvedora mexicana de instalações industriais e centros de distribuição, em uma teleconferência na semana passada. Está ocorrendo uma mudança para cadeias de fornecimento mais curtas para lugares, como o México, para reduzir a exposição à Ásia. “A globalização como a conhecemos pode estar chegando ao fim.”
A realocação das cadeias de fornecimento “pode custar mais, mas se for possível produzir quantidades menores, que seriam então vendidas a valores mais próximos do preço cheio, isso poderá mesmo mudar o jogo completamente”, disse Brian Ehrig, sócio da consultoria Kearney e coautor de um relatório divulgado neste mês que constatou que 78% dos CEOs de empresas estudam mudar instalações para seus países de origem ou já o fizeram. “Minha aposta é que a globalização não morrerá nunca, mas evoluirá para um formato diferente”, acrescentou Shay Luo, diretor de Kearney.
As empresas aguentaram os gargalos nas cadeias de suprimentos ao longo do ano passado graças, parcialmente, a aumentos de preços – e os consumidores absorveram grande parte do impacto. Mas, no curto prazo, os suprimentos da China representam uma questão mais preocupante do que as dúvidas sobre a demanda das famílias.
A Tesla perdeu cerca de um mês de produção com o lockdown de Xangai. No início do mês, a varejista Bed Bath & Beyond informou que um nível “mais alto do que o normal” de seu estoque estava em trânsito, indisponível ou retido nos portos neste início de trimestre. Na semana passada, a gigante do alumínio Alcoa, que costuma ser um termômetro da economia mundial, atribuiu os estoques mais altos aos problemas com transporte. A Continental, segunda maior fabricante de autopeças da Europa, reduziu sua previsão de crescimento na produção mundial de automóveis de uma faixa de 6% a 9% para uma de 4% a 6%.
Wang Xin, chefe da Associação de Comércio Eletrônico Transfronteiriço de Shenzhen, que representa cerca de 3.000 exportadores, informou que, apesar do lockdown naquele centro de tecnologia tenha durado apenas uma semana, “muitos vendedores sofrem com atrasos de entrega de um mês”.
Ainda leva em média 111 dias para que as mercadorias cheguem a um armazém nos EUA, a partir do momento em que elas estão prontas para deixar uma fábrica da Ásia. Isso fica perto do recorde de 113 dias registrado em janeiro e é mais que o dobro do tempo que a viagem demorava em 2019, segundo a Flexport, uma transportadora de San Francisco. A jornada em direção à Europa demora 118 dias, quase um recorde.
Economistas do Goldman Sachs disseram em uma nota de análise na semana passada, que os problemas nas cadeias de abastecimentos “foram um pouco piores do que prevíamos e tivemos que ajustar um pouco nossas previsões de crescimento e inflação em resposta às últimas semanas”. Quando os gargalos nas cadeias de suprimentos na Ásia começarem a se dissipar, isso provavelmente trará uma enxurrada de contêineres, bem no momento em que tem início um aumento sazonal das importações.
Fonte: Valor Econômico
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