Economia

Governo cogita frear exportação de alimentos, mas recua

fev, 26, 2025 Postado porGabriel Malheiros

Semana202509

Diante da persistente inflação de alimentos e da queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo federal discutiu medidas para limitar exportações e conter a alta dos preços do setor agropecuário no curto prazo, mas, depois da repercussão negativa, sinalizou ao setor privado que elas não seriam implementadas.

Iniciativas contra a inflação de alimentos foram avaliadas por ministros e Lula em reunião nesta terça-feira (25/2). Houve recuo na sugestão de interferir nas exportações do agronegócio após o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ameaçar deixar o governo caso a proposta avance.

Segundo o Valor apurou, foram colocadas sobre a mesa a limitação das exportações de produtos agropecuários com a imposição de cotas e a cobrança de impostos sobre parte da produção direcionada ao exterior, para manter o mercado interno abastecido e pressionar as cotações da comida para baixo. É avaliada também a redução de tarifas de importação de alguns itens.

No Executivo, a iniciativa foi cunhada de “comércio administrado”, mas não houve consenso sobre o assunto. Uma ala considera as medidas “heterodoxas e intervencionistas” e cita os setores de carnes e açúcar como preocupações centrais. A avaliação é de que no curto prazo a medida pode trazer algum alívio, mas no médio e longo prazos é um risco econômico.

Outro grupo argumenta que há pouca margem de manobra para o governo responder a uma das maiores preocupações da população, em meio ao aumento do consumo interno e mais interessados em exportar, após o governo abrir uma série de mercados no exterior e o câmbio estar favorável.

Não há confirmação de que escalão participou das discussões iniciais sobre o tema na segunda-feira (24/2), mas fontes garantem que a ideia poderia ser levada para validação de Lula. A proposta de taxar exportações circula no PT e no governo desde o fim do ano passado, mas não avançou. O tema voltou à tona, com reuniões na Casa Civil, com a alta da inflação recentemente.

Nesta terça-feira, os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o vice-presidente Geraldo Alckmin, se reuniram com Lula, mas não houve anúncio de medidas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) também participou.

Fávaro avisou o Planalto mais cedo que, se o tema avançar, ele pode deixar o cargo. O ministro e assessores avaliam que a medida é descabida e pode surtir efeitos danosos à economia nacional, a exemplo do que ocorreu na Argentina, com as “retenciones”, com perda de mercado internacional.

O ministro da Agricultura vai levar representantes dos produtores de carnes, açúcar, etanol e biodiesel para novas reuniões na Casa Civil nesta quinta-feira (27/2). O anúncio de medidas para combater a inflação de alimentos deve ocorrer somente após o Carnaval.

Pessoas próximas ao ministro afirmam que ele está descontente com a atuação da cúpula do governo e de alas mais radicais do PT em algumas pautas. Também incomoda a posição mais dura desses grupos contra o agronegócio, o que o deixa isolado no Executivo na defesa da agropecuária empresarial. Nos últimos dias, o governo enfrentou desgaste ao precisar editar uma medida provisória para garantir recursos ao Plano Safra.

Um integrante do grupo em que a proposta surgiu disse que essa é “mais uma das eventuais ações” que podem ser tomadas para minimizar o efeito da inflação. Segundo fontes, a sugestão teria partido do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) com apoio da Casa Civil. A Pasta nega. Uma fonte disse que não há “embasamento legal” e que o tema já foi vetado por Lula. Demais ministérios participantes são contra a medida ou não foram chamados para as discussões.

Procurados, os ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Agricultura, Fazenda e do Desenvolvimento Agrário não comentaram.

Por Rafael Walendorff, Fabio Murakawa, Andrea Jubé, Renan Truffi e Estevão Taiar

Fonte: Globo Rural

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