Guerra afeta margens de moinhos de trigo no país
maio, 05, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202321
Os moinhos brasileiros de trigo encerraram 2022 com margem líquida (lucro líquido dividido pela receita), em média, 20% menor do que a do ano anterior. As empresas do segmento sofreram principalmente com o forte aumento dos custos de produção e dos preços do cereal, que bateram recorde logo depois do início da guerra na Ucrânia, e também com o aperto nos estoques. A perda financeira foi mais forte entre as empresas de porte médio, que faturam entre R$ 80 milhões e R$ 600 milhões, segundo a TCP Partners, butique de investimentos que mapeia mais de 40 setores da economia.
O país tinha 144 moinhos em operação no ano passado, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo); um ano antes, eram 193. Dos 144, cerca de 30% faturam mais de R$ 130 milhões ao ano.
Há dois anos, Ricardo Jacomassi, economista-chefe e responsável pela estratégia de mercado da TCP, elaborou um estudo em que projetava uma consolidação do setor e aumento médio da receita de 6,6% ao ano, para algo próximo a R$ 124 bilhões em 2025. No entanto, a covid-19 e a guerra alteraram o quadro. “Obviamente, não esperávamos essas intercorrências, e isso fez com que as consolidações não ocorressem na velocidade esperada”, afirma. “O faturamento cresceu com a elevação dos preços dos produtos, mas sem que isso elevasse o lucro”.
Mas, no momento, parece que o apetite comprador de grandes grupos voltou à tona. Jacomassi diz que há, por exemplo, um grande grupo europeu de aditivos alimentares em busca de moinhos de nicho, que fazem só panificação premium.
Veja abaixo o volume de trigo (hs 1001) exportado através dos portos brasileiros entre janeiro de 2022 e fevereiro de 2023. Os dados são do DataLiner.
Exportações de trigo do Brasil | jan 2022 – fev 2023 | WTMT
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Para 2023, a expectativa é de melhora nas margens, com os efeitos da guerra já conhecidos e estoques um pouco mais cheios. Apesar de a safra argentina ter ficado na metade do esperado, a estimativa é que a produção brasileira seja recorde e ultrapasse 11 milhões de toneladas. “Apenas duas questões incomodam agora: o clima seco nos EUA que pode reduzir a safra deles e aumentar os preços, e o alto custo do dinheiro no Brasil, com as taxas de juros”, resume o economista.
Do ponto de vista do produtor, a safra 2023, que está em início de plantio, tende a ser mais lucrativa. “Terminamos 2022/23 como a temporada mais cara da história devido aos elevados preços dos insumos. Agora, há uma normalização, mas é cedo para dizer como ficará o clima, qual será produtividade e, principalmente, se o preço de venda será remunerador”, afirma Hamiton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).
O custo médio de produção em 2022/23 foi de R$ 4,5 mil por hectare para lavouras de alta tecnologia no Estado. Neste ano, levando em conta os preços atuais dos insumos, ele deve ficar em R$ 3,8 mil. Ao levar o cálculo a valor presente, com o trigo no Rio Grande do Sul a R$ 74 a saca em média, o produtor tem que colher mais de 3,6 mil quilos por hectare para dar conta do desembolso. Na temporada passada, em que produtividade no Estado foi recorde, a média ficou em 3,9 mil quilos por hectare.
Fonte: Valor Econômico
Para ler a matéria original, acesse: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2023/05/05/guerra-afeta-margens-de-moinhos-de-trigo-no-pais.ghtml
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