Indústria tem cenário de maior capacidade em mais de uma década e estoques baixos
ago, 21, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202434
A indústria da transformação mostrou, em julho, o maior uso de capacidade em mais de dez anos, com menor patamar de estoques em mais de dois anos. É o que mostrou levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) feito a pedido do Valor, com base em dados da Sondagem da Indústria, elaborada pela fundação. No estudo, o Nível de Utilização de Capacidade Instalada (Nuci) ficou em 83,40% no mês passado, o maior desde maio de 2011 (83,60%). O nível de estoques, por sua vez, atingiu pontuação de 96,2 pontos na pesquisa – o mais baixo desde março de 2022 (95,5 pontos). Estoques reduzidos, na média industrial, levaram ao uso acelerado de capacidade em julho, explicou Stefano Pacini, economista da FGV responsável pela sondagem e pelo levantamento, divulgado ao Valor.
“E isso em um contexto de demanda em alta [por produtos industriais]”, acrescentou o técnico. “Se o nível de estoque está baixo, é porque a prateleira está vazia. Se a prateleira está vazia, a gente vai produzir [mais] para encher a prateleira. Nunca falha isso”, resumiu o pesquisador.
Os dados da FGV vão ao encontro de dados oficiais mais recentes. A produção da indústria brasileira cresceu 4,1% em junho ante maio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento foi o mais forte desde julho de 2020 (9,1%) e interrompeu dois meses seguidos de taxas negativas, período em que acumulou perda de 1,8%. Pacini lembrou que esse desempenho também foi influenciado por efeito “rebote” de retomada da indústria do Rio Grande do Sul, que sofreu perdas, em maio, devido às fortes chuvas.
No acumulado de janeiro a junho, a indústria sobe 2,6% em relação a igual período do ano passado, com destaque para os bens de capital, cuja produção cresceu 5% nessa base de comparação.
Mesmo com produção em alta, Nuci elevado e estoques baixos, a indústria, nos resultados de junho anunciados pelo IBGE, ainda se encontrava 14,3% abaixo do nível recorde, em maio de 2011 – sendo que o uso de capacidade em julho, de 83,40%, só perdeu para o de 83,60%, em maio de 2011.
Ao ser questionado por que a indústria está ainda distante do nível recorde, mesmo com bons desempenhos em uso de capacidade e em estoques, Pacini comentou que 2011 e 2024 são anos com contextos bem diferentes. Há 13 anos, a indústria estava bem menos estocada do que em julho deste ano. Em maio de 2011, o nível de estoques estava em 92,2 pontos, conforme estudo elaborado pelo economista.
Havia, também em 2011, muita alocação de investimento, por parte dos empresários industriais; além de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido, o que favorecia produção, lembrou ele. O especialista não descartou a
hipótese de que a indústria possa ter perdido capacidade de produção no período.
Mas os resultados oficiais do setor, delineados pelo IBGE, também evidenciam outra conclusão de Pacini: a de que os estoques não estão baixos por causa de escassez de insumos para produção. Isso ocorreu nos anos de 2021 e de 2022, com movimento de “escalada” em preços e em custos, com alcance mundial, lembrou. No período, o começo da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2021, causou desorganização na cadeia global de fornecimento de insumos. “[Estoques baixos] podem significar que as empresas não estão conseguindo produzir. Já ocorreu no passado, uma escassez de oferta. Não é o que temos hoje, não temos problemas de [falta de] insumo”, disse.
Pacini mapeou os patamares de estocagem por segmentos da indústria da transformação. De 17 segmentos usados na Sondagem, 10 apresentaram nível de estoques abaixo de 100 pontos [patamar de equilíbrio]. Ele citou alguns setores que contribuíram para menor estocagem na média total industrial e, por consequência, por maior uso de capacidade. Caso das indústrias de máquinas e equipamentos e de material plástico.
“Mas creio que essa melhora [de redução dos estoques] foi difusa. São poucos os segmentos que se mantiveram em patamar elevado [de estocagem, até julho]” disse. “A maioria melhorou muito o nível de estoque. Isso foi graças a uma melhora da demanda. Até setembro do ano passado, outubro, a indústria estava andando de lado, só enchendo a prateleira”, lembrou. “Foi uma melhora gradual e bem consistente na demanda e no nível de estoques”, resumiu.
Pacini acrescentou que o contexto macroeconômico até julho foi fundamental para o cenário mais favorável na demanda por produtos industriais. “Os fatores macroeconômicos de melhora da renda, melhora do nível de emprego, melhora da confiança dos demais segmentos também. Isso é um ponto que contribui muito para essa melhora na demanda.”
O técnico lembrou que, no caso de fatores macroeconômicos, a evolução da taxa básica de juros (Selic) influenciou. O Banco Central começou a cortar a Selic em agosto de 2023 e, embora o ciclo de queda tenha sido interrompido este ano, as reduções tiveram efeito na economia real. A Selic norteia tanto os juros do crédito tomado pelos industriais, quanto os usados pelo consumidor para comprar produtos industrializados.
Pacini diz que o patamar de estoques em julho não está em subestocamento, que seria abaixo de 94 pontos. O nível de estoques está próximo de 100 pontos – padrão de equilíbrio, quando o nível de estoque equivale ao da demanda.
Os sinais de bom desempenho da indústria não foram percebidos somente pela FGV. A MB Associados prevê alta de 2% na produção industrial neste ano, informou Sergio Vale, economista-chefe da consultoria. Em 2023, houve expansão de apenas 0,2% ante 2022. Porém, o especialista salientou que, mesmo com bons resultados, isso na prática não significa que a indústria ensaia retomada sustentável a partir de julho. “Esse é setor que está sofrendo, literalmente pelo menos, quatro décadas com questões estruturais” disse. “Para se reerguer isso passa, em parte, pela reforma tributária que estamos vendo agora, que vai ter um papel importante ao longo dos próximos anos para ‘reengatar’ a indústria”, disse. O Bradesco estima uma alta de 3% na produção industrial este ano.
Outro ponto a se olhar com cuidado na trajetória da indústria esse ano é o impacto do câmbio, acrescentou o economista chefe do Banco BV, Roberto Padovani, que também projeta alta de 2% na produção industrial em 2024. Embora tenha classificado como bons os recentes resultados do setor industrial, o técnico salientou que as frequentes oscilações da moeda americana afetam custos na indústria. “O dólar subindo acaba pressionando o custo das empresas e com um ambiente de crescimento, elas repassam esse custo”, notou. Isso, na prática, também pode afetar a inflação – acompanhada pelo BC na hora de definir a Selic.
Fonte: Valor Econômico
Clique aqui para acessar a matéria original: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/08/21/industria-tem-cenario-de-maior-capacidade-em-mais-de-uma-decada-e-estoques-baixos.ghtml
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