Infraestrutura portuária: uma questão ainda pendente na Argentina
ago, 21, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202335
O fato de a Argentina continuar sem uma estratégia de crescimento como política de Estado continua gerando consequências negativas para o futuro, mas também impacta o aqui e agora em diversas áreas da atividade econômica, como o comércio exterior. Embora o país tenha os recursos que poderiam levá-lo a um desfecho bem-sucedido a esse imbróglio, claramente carece da infraestrutura necessária para isso.
Por exemplo, longe dos 14 metros de calado que requerem os grandes navios, o Porto de Buenos Aires ou Dock Sud não pode garantir a entrada de nenhuma embarcação que necessite 10,50 metros de profundidade. Se ainda a Argentina opera com portos base – a partir do qual se realizam as operações de despacho e comercialização de cargas, é porque o Brasil ou o Uruguai ainda não garantem 14 metros de calado, algo que, segundo especialistas, acontecerá em 2024.
Enquanto o Brasil planeja concluir diversas obras em múltiplos portos até lá, o Uruguai já aprovou obras de 600 milhões de dólares, permitindo a um operador privado renovar a infraestrutura do porto de Montevidéu para atrair os maiores navios, dotando-os do maior calado necessário.
Em contraste com os portos base, os chamados portos feeder são aqueles que prestam serviços aos mercados em sua própria área de influência, recebendo navios feeder de portos hub próximos. Em um curto prazo, poderíamos passar de portos base a vê-los se tornar portos alimentadores, algo que não é recomendado nem desejável. Se isso acontecer, haverá navios de pequeno porte que levam a mercadoria até um porto principal, em outro país, para depois escoar a carga com navios oceânicos. Isso se traduziria em maiores custos para a Argentina, além de agregar mais tempo de viagem e adicionar transbordos com suas respectivas esperas no porto.
Pelo contrário, a médio prazo a Argentina deve buscar progressivamente a captação das cargas que hoje são direcionadas para o Uruguai ou Paraguai.
Se a Argentina conseguisse que seus portos oferecessem acesso a uma profundidade de 12 ou 13 metros, esse perigo poderia ser revertido. Para isso, é preciso avançar garantindo a infraestrutura. Em primeiro lugar, devem ser realizados os estudos necessários para começar efetivamente os necessários processos de dragagem e lançar a licitação da Hidrovia Troncal para depois finalizar as licitações do Porto de Buenos Aires em 2024 e DockSud, em 2025. Também é urgente recuperar a capacidade instalada e ociosa de portos como o de La Plata, outro exemplo da falta de crescimento que a Argentina vive.
Os concursos pendentes para renovar as concessões caducadas dos diferentes terminais vão exigir pesados investimentos por prazos que podem chegar aos 30 anos e que vão pressupor que será possível operar com navios de grande calado.
O sistema logístico do país não pode estar sujeito a incertezas em licitações e obras-chave que também incluem redes de comunicação e transporte que a movimentação de cargas exige uma vez em terra. A falta de reação rápida aos conflitos sindicais que afetam o funcionamento normal dos navios não pode ser evidenciada ao resto do mundo, a que se soma a dificuldade das companhias marítimas de cobrar fretes devido ao câmbio estabelecido pelo Banco Central.
A Federação das Empresas de Navegação Argentina e o Centro de Navegação exigem a reversão do aumento do PAIS, o que agrava ainda mais a já complicada equação econômico-financeira. A sua competitividade é também afectada por uma taxa de 25% que no frete marítimo estrangeiro é de apenas 7,5%. Juntamente com os prazos de aprovação de pagamentos excessivamente demorados, esses fatores contribuem para a geração de custos mais altos em um contexto de instabilidade.
Com uma frota pequena e muita gente em terra, os sindicatos também pressionam o Governo a revogar uma resolução de 2003 e obrigar os comboios de barcaças estrangeiras que chegam aos nossos portos a não chegarem ao terminal mas sim a serem adentrados por capitânias nacionais. Os custos de logísticas excedentes podem ser da ordem de 15%.
A atividade dos portos é estratégica, essencial e uma das bases do desenvolvimento e crescimento de que o nosso país tanto necessita. Sacrificar o comércio exterior como uma mola de curto prazo sempre mostrou seu fracasso. Não entender dessa forma é desperdiçar mais uma oportunidade geopolítica de abertura ao mundo em nosso próprio benefício.
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