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Investimento privado em infraestrutura sobe 63%

nov, 27, 2024 Postado porSylvia Schandert

Semana202445

Os investimentos privados em infraestrutura deverão somar R$ 372,3 bilhões nos próximos cinco anos, entre 2025 e 2029, segundo cálculo da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base). O valor é 63,4% maior do que a projeção realizada no ano passado, para o ciclo entre 2024 e 2028 – um reflexo do avanço das concessões no país. Os dados são do Livro Azul da Infraestrutura, publicação anual da entidade.

A conta inclui os investimentos já contratados ou em vias de serem contratados, nos setores de transporte, saneamento e infraestrutura social. Foram consideradas as concessões licitadas após 2020 e os projetos com edital publicado – o cálculo engloba apenas os valores previstos para os próximos cinco anos, e não o total dos contratos.

Entre os projetos que entram no levantamento estão, por exemplo, os leilões de rodovias marcados até o fim deste ano e as concessões da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro).

Um fator que pesou no resultado e inflou a comparação anual foi a privatização da Sabesp, realizada em julho deste ano, que adicionou R$ 66 bilhões à conta. Antes da desestatização, a empresa de saneamento já tinha um plano de investimentos, que não entrava na conta porque a companhia era estatal. Porém, mesmo excluindo o efeito Sabesp, os investimentos privados contratados até 2029 somariam R$ 305,9 bilhões, alta de 34,3% em relação à projeção do ano passado.

“Houve um avanço grande, e a tendência é que a contratação de projetos continue crescendo”, afirma Roberto Guimarães, diretor de planejamento e economia da Abdib. “Na projeção do ano que vem esperamos uma aceleração, porque vão entrar novos investimentos em ferrovias e haverá muitos leilões de saneamento e rodovias.”

Considerando todos os projetos em estudo, a Abdib mapeou 495 iniciativas, que somam um potencial de R$ 750,5 bilhões. O setor de rodovias tem a maior perspectiva de obras (R$ 288,6 bilhões), seguido por ferrovias (R$ 168,9 bilhões), mobilidade urbana (R$ 115,6 bilhões) e saneamento (R$ 112 bilhões). “Boa parte dos projetos se tornará investimento contratado nos próximos três anos”, diz ele.

O mercado de rodovias vive uma onda de licitações, que deve seguir em 2025. “O aumento de investimentos no setor é fruto de um aprendizado acumulado nos últimos anos. Os editais hoje são muito mais aderentes na relação risco-retorno, têm matriz de risco mais equilibrada”, afirma Guimarães.

Já em ferrovias, entre os investimentos que poderão ser contratados no próximo ano estão a renovação antecipada da concessão da FCA (Ferrovia Centro Atlântica), em consulta pública, e a repactuação dos aditivos de Vale e MRS, que devem incorporar novos valores.

Em saneamento, a perspectiva é de diversos novos leilões no próximo ano.Guimarães destaca as concessões em estudo pelo BNDES, com projetos no Pará, em Pernambuco, em Rondônia e em Goiás.

Apesar do otimismo, a Abdib também aponta desafios. Uma das preocupações é o corte de orçamento das agências reguladoras. “Entre maiores reduções de verba estão a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] e a ANTT [Agência Nacional deTransportes Terrestres]. É um contrassenso, há uma avalanche de concessões para ampliar investimentos, e o governo tira recursos dos órgãos, deixa lacunas na diretoria e aumenta o trabalho”, afirma Venilton Tadini, presidente-executivo da Abdib.

A alta do número de concessões deverá pressionar as agências, tanto federais quanto estaduais, diz Fernando Marcato, professor da FGV Direito. “É muito contrato.Com certeza vão surgir problemas de reequilíbrio econômico-financeiro, os Estados vão estar preparados? A própria ANTT vai ter um desafio, o corpo técnico é ótimo,mas o volume é muito grande.”

Para o ministro dos Transportes, Renan Filho, a regulação de infraestrutura hoje ajuda a atrair investimentos e não preocupa. “As agências são referência internacional, têm conhecimento técnico e capacidade de produzir mais”, diz.

Para o ministro, um fator que ajudaria a impulsionar os novos projetos é a redução de juros. “O ambiente macroeconômico pode ajudar, sobretudo se condições fiscais permitirem, com dólar mais baixo e menor taxa de juros, isso pode ajudar ainda mais os leilões.”

Para analistas, outro gargalo para a execução dos investimentos é o licenciamento ambiental, avalia Tadini. “O quadro o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] precisa ser fortalecido urgentemente”, diz ele.

Para Natália Marcassa, presidente da Moveinfra, que reúne grandes empresas de infraestrutura, a demora no processo de licenciamento é a maior preocupação hoje.“Teve greve do Ibama, o que gerou um ‘backlog’ enorme. Isso impactou muito, foi o principal estrangulamento neste ano”, diz.

Para os próximos projetos, ela avalia que é preciso fomentar outros segmentos. “O mercado está aquecido para saneamento e rodovias. Mas se fez pouco de novo em ferrovias, em arrendamentos portuários e aeroportos. A oportunidade é trazer mais setores ao jogo.”

Outro entrave será viabilizar concessões com demanda é insuficiente para garantir a viabilidade, afirma Marcato. “Os governos estão leiloando o ‘filé’. Mas vai começar a ter menos projeto superavitário. Há tendência de contratos que vão demandar aporte público.”

O avanço dos projetos privados é apontado como essencial para garantir a alta dos investimentos de infraestrutura no país, ainda abaixo do necessário. Em 2024, o Brasil deverá chegar a R$ 259,3 bilhões, aumento de 15,3% na comparação anual, segundo a Abdib, que considera transportes, energia elétrica, telecomunicações e saneamento.

Houve aumento do lado dos aportes públicos, mas a maior parte (76%) vem do setor privado, que neste ano deve atingir recorde de investimento.

“O papel do setor privado é relevante porque garante os investimentos onde há rentabilidade e, com isso, divide a responsabilidade com o poder público, sobra mais para investir em regiões menos rentáveis”, diz Renan Filho.

A publicação da Abdib será divulgada em evento virtual, na quinta (28) e na sexta-feira (29).

Fonte: Valor Econômico

Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/11/27/investimento-privado-em-infraestrutura-sobe-63.ghtml

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