Japão promete abrir mercado, e Lula defende acordo comercial com Mercosul

Após décadas de demandas que acabavam sem respostas, o governo japonês finalmente deu o primeiro passo para que produtos brasileiros competitivos no mercado internacional, como a carne bovina e o biodiesel, entrem no mercado da segunda maior economia asiática (atrás da China) e a quarta maior do mundo.

A decisão aconteceu depois da visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão, que começou na segunda-feira, acompanhado por cerca de cem empresários e executivos, e resultou na assinatura de quase 90 acordos entre memorandos, acordos e contratos.

Além do avanço na questão comercial, os chefes do executivo do Brasil e do Japão concordaram em realizar reunião de cúpula a cada dois anos, e o presidente Lula sugeriu a criação defendeu a criação de um acordo comercial entre o Japão e os países do Mercosul (Brasil, Bolívia, Argentina, Paraguai e Uruguai).

“Saio [do país] para dizer aos brasileiros que a relação entre o Japão e o Brasil mudou de patamar”, disse Lula ao fim da declaração para a imprensa em Tóquio.

O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, afirmou que vai manter contato com o Lula para que os investimentos japoneses mantenham o fluxo para o Brasil. Segundo ele, as empresas do país realizaram investimentos diretos no Brasil de R$ 44 bilhões desde 2020.

A surpresa do encontro foi a menção do envio de equipes de técnicos japoneses para colher informações sobre a carne bovina no Brasil. A análise é o primeiro e maior passo para a entrada do produto brasileiro no Japão. A iniciativa seria colocada no texto dos memorandos de intenções firmados entre os dois países, mas apareceu com ênfase no discurso do premiê, que indica postura muito franca de Tóquio.

O Japão também indicou que vai avançar na utilização do biodiesel, uma negociação de mais de dez anos. O combustível tem grande potencial na aviação.

Os chefes do executivo do Brasil e do Japão concordaram em realizar reunião de cúpula a cada dois anos, com o objetivo de buscar um alinhamento estratégico nos campos político, econômico e ecológico. Os países pretendem adotar um plano de ação quinquenal e criar um novo diálogo diplomático e de defesa.

A decisão acontece num momento em que o comércio mundial encontra-se num momento difícil por causa da política protecionista dos EUA, com o aumento das taxas de importação adotadas pelo presidente Donald Trump.

Sobre o acordo do Japão com o Mercosul, Lula disse que, “em um mundo cada vez mais complexo, é fundamental que parceiros históricos se unam para enfrentar as incertezas e instabilidades da economia global”.

O Mercosul concluiu, em dezembro do ano passado, um acordo com a União Europeia, após 25 anos de negociação. Ele ainda não foi implementado, pois o texto precisa ser aprovado pelos Legislativos dos países do Mercosul, pelo Conselho Europeu e pelo parlamento europeu.

Durante o discurso, o presidente pediu pela manutenção da isenção recíproca de visto de negócios e turismo entre Brasil e Japão, o que afirmou ser “um passo essencial” para a integração entre os dois países.

Ele também lamentou a queda na relação comercial com o Japão, que foi de US$ 17 bilhões em 2011 para US$ 11 bilhões no ano passado, e defendeu o multilateralismo. “Nós queremos o comércio livre para que a gente possa definitivamente fazer com que nossos países se estabeleçam no movimento da democracia, no crescimento econômico e na distribuição de riqueza.”

Confira abaixo os principais produtos exportados em contêiner pelo Brasil para o Japão em janeiro de 2025. Os dados são do DataLiner:

Principais produtos brasileiros exportados ao Japão | Jan 2025  | TEU

2025

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

Na lista de propostas assinadas entre os chefes de Estado também foi incluída a análise da adoção de visto de trabalho temporário, normalmente utilizado por jovens estudantes conhecido como “working holidays”.

O acordo permitirá que brasileiros trabalhem como aprendizes por certo período no Japão, país que necessita cada vez mais de trabalhadores por causa da queda da taxa de natalidade.

(Com Agência O Globo)

Fonte: Valor Econômico

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