Laticínios miram oportunidades no mercado chinês
nov, 29, 2022 Postado porSylvia SchandertSemana202248
Um ano depois de realizar sua primeira exportação de laticínios para a China, a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL) recebeu neste mês uma visita de seus parceiros comerciais no país asiático. Por condições mercadológicas – o preço do produto brasileiro não é competitivo agora -, novos negócios não foram fechados. Mas, de olho no futuro, o contato foi constante em 2022.
É compreensível. Mesmo que a China esteja do outro lado do globo, e perto do maior exportador de lácteos do mundo (a Nova Zelândia), tende a ampliar suas importações de derivados em 80% entre 2021 e 2031, ano em que as compras poderão alcançar 35,8 milhões de toneladas (equivalente leite). Os dados são do próprio governo chinês e foram reunidos pela InvestSP, agência que contribui para o fomento de negócios entre os dois países.
Os exportadores brasileiros acreditam que os países latino-americanos poderão se beneficiar de janelas de negócios nesta década à medida que a demanda chinesa for maior, já que há um limite para que os neozelandeses possam atendê-la.
Segundo José Mário Antunes, COO da InvestSP, o aumento do consumo de laticínios na China resulta não apenas do crescimento populacional, mas de um ajuste das recomendações nutricionais que vêm sendo feitas por Pequim.
Como se trata de um mercado difícil de conquistar, porque exige investimento e paciência, a CCGL está empenhada desde já. “Quando o mercado virou neste ano [os preços no Brasil subiram], chegamos a cancelar um embarque de 20 contêineres para lá. Fizemos isso de comum acordo, para manter o bom relacionamento”, disse Caio Vianna, presidente da CCGL.
A cooperativa brasileira enviou dois lotes “pequenos” de leite em pó para o mercado chinês há um ano. Volume e valor não foram informados. O produto foi usado por processadores que fabricam derivados em geral, como queijos, iogurtes e até salsicharia.
Segundo Vianna, os compradores ainda não conheciam os laticínios brasileiros. “Gostaram muito”, disse. “Mas vender para a China exige não pensar só em lucro imediato”. A CCGL sabe que terá de investir dinheiro, tempo e, às vezes, “até perder algo” (lucro). “Dá trabalho, mas para abrir um mercado é preciso investir”.
Na visão dos exportadores gaúchos será possível para o Brasil e seus vizinhos Argentina e Uruguai – dois fornecedores de leite já mais consolidados no mercado internacional – ganharem espaço na China no decorrer da década, porque a alta do consumo chinês não será totalmente suprida pela Nova Zelândia.
Vianna acredita que os neozelandeses têm um limite para ampliar sua oferta, visto que o país tem produção a pasto e não é produtor de grãos, usados na alimentação dos rebanhos. Observadas essas características, para ele dificilmente as fazendas conseguirão aumentar volumes em “30%, ou até mesmo dobrar”, para atender uma demanda muito maior do que a atual.
Porém, depois da Nova Zelândia, os maiores fornecedores de lácteos para a China são União Europeia e Austrália, importantes fornecedores globais do setor que também deverão brigar por espaço. Assim, as oportunidades para os brasileiros ocorrerão em “janelas” à medida que a demanda asiática – somados Vietnã e Indonésia – for maior, elevando os preços internacionais.
Mas os lácteos brasileiros pagam 10% de taxa para entrar na China, bem como os europeus e americanos. Exportadores da Austrália e Nova Zelândia têm vantagens nesse capítulo. Os produtos neozelandeses, por exemplo, têm isenção de pagamento dessa taxa para 300 mil toneladas, e a partir de 2024 a cota cairá e os lácteos do país entrarão na China sem a cobrança. Esse tipo de barreira será vencida apenas por meio de acordos bilaterais.
Já sobre o custo logístico, devido à distância a partir do Brasil, não é considerado um problema. “Negociar com os chineses mostrou que, diferentemente do que eu pensava, o frete não é um fator que afeta nossa competitividade”, disse Vianna.
Considerado o cenário de desafios, talvez o leite vá ser o último, entre todos os produtos do agro brasileiro, a ganhar status de exportador, admite Vianna. Mas ele acredita, ainda assim, ser possível não só que o país se torne exportador, como se consolide como fornecedor para a China. “Há uma década o Brasil não exportava um quilo de carne bovina para os chineses, e hoje aquele país é o maior destino para os frigoríficos”, cita.
Fonte: Valor Econômico
Para ler a matéria original completa, acesse: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/11/29/laticinios-miram-oportunidades-no-mercado-chines.ghtml
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