
Leilão do túnel Santos-Guarujá atrai interesse de quatro grupos
abr, 11, 2025 Postado porDenise VileraSemana202516
O leilão da concessão do túnel Santos-Guarujá está marcado para agosto, mas empresas do setor privado já se movimentam em torno do que é considerado um projeto de complexidade excepcional. Segundo fontes familiarizadas com o assunto, pelo menos quatro grupos empresariais estão estudando ativamente a proposta: a chinesa CCCC, em parceria com a portuguesa Mota-Engil; a espanhola Acciona; a italiana WeBuild, associada à brasileira Andrade Gutierrez; e a OEC (Odebrecht Engenharia e Construção), que está finalizando uma joint venture com a EGTC, da Queiroz Galvão, e uma terceira empresa ainda não revelada, que deverá fornecer o aporte financeiro para o consórcio.
A Odebrecht teria mantido conversas com diversos gestores de ativos e empresas internacionais — incluindo a própria WeBuild e grupos chineses — em busca de uma parceria financeiramente viável. Uma fonte indicou que, com a entrada do terceiro investidor, cujas negociações estão avançadas, a estrutura financeira do consórcio estará definida. A empresa também teria contratado uma firma internacional especializada em projetos de túneis, considerando que o método construtivo proposto nunca foi utilizado antes no Brasil.
A Acciona já firmou parceria com a Ballast Nedam, empresa holandesa especializada em construção de túneis submersos. Fontes afirmam que o grupo espanhol estuda o projeto há mais de um ano e realiza reuniões quinzenais com representantes do governo. Teriam ocorrido negociações com a Vinci para formação de um consórcio, mas a empresa francesa acabou se retirando. Observadores notam, no entanto, que a Vinci continua interessada no leilão, embora sua prioridade atual sejam outros projetos de mobilidade de grande porte em São Paulo que exigem investimentos elevados.
A Acciona declarou ao Valor que “avalia constantemente oportunidades” e vê “valor significativo nos ativos de infraestrutura do Brasil”. CCCC, Odebrecht, EGTC e Andrade Gutierrez não quiseram comentar. Mota-Engil, WeBuild e Ballast Nedam não haviam respondido até o fechamento da edição.
O leilão é amplamente visto pelo mercado como altamente desafiador. A construção exigirá investimentos significativos, utilizará um método de engenharia inédito no país e poderá interferir nas operações do maior porto brasileiro. Por outro lado, o fato de o governo do estado de São Paulo e o governo federal estarem contribuindo com recursos e assumindo parte dos riscos é considerado um ponto forte para a viabilidade do projeto, segundo fontes do setor.
Um alerta importante levantado por analistas diz respeito à taxa de retorno estimada do projeto, que alguns consideram baseada em premissas defasadas de juros. Dada a complexidade e o risco da iniciativa, argumenta-se que é necessário rever a taxa, ajustando-a às condições financeiras atuais.
Também há dúvidas quanto à estimativa de investimentos. Os estudos preliminares do projeto estimam o CapEx em R$ 5,8 bilhões, mas fontes afirmam que esse valor pode estar subestimado, devido à falta de detalhamento técnico em certas áreas, o que gera incertezas. O custo final da obra, alertam, pode ser consideravelmente mais alto.
Analistas também demonstram preocupação com possíveis impactos no tráfego marítimo. “O desafio é executar um projeto dessa escala sem comprometer as operações portuárias em andamento”, afirmou Casemiro Tércio Carvalho, sócio da consultoria de infraestrutura 4 Infra. “É um desafio logístico tanto para a autoridade portuária quanto para a empreiteira.”
A engenheira civil e consultora de infraestrutura Jennyfer Tsai destacou complicações adicionais relacionadas às áreas de apoio onde os segmentos do túnel — que serão construídos fora do local e depois submersos — serão montados.
O edital do leilão identifica quatro possíveis locais dentro do Porto de Santos para essa atividade, mas Tsai observou que todos eles coincidem com áreas reservadas para projetos futuros de terminais pela autoridade portuária, o que levanta dúvidas sobre a disponibilidade de terrenos. “Se nenhum desses locais puder ser usado, os custos vão aumentar”, alertou.
Em nota, a Autoridade Portuária de Santos (APS) informou que está trabalhando para garantir “que qualquer local proposto esteja alinhado com o planejamento portuário atual e compatível com os projetos estratégicos em andamento”, acrescentando que a escolha final será responsabilidade da concessionária.
Sobre as preocupações com as operações marítimas, a APS afirmou que o túnel “é urgentemente necessário e será construído com o mais alto grau de responsabilidade, com eventuais suspensões de navegação planejadas com antecedência, em coordenação com os operadores dos terminais”.
A Secretaria de Parcerias em Investimentos do Estado de São Paulo destacou que o projeto do túnel foi concebido para minimizar impactos sobre a atividade portuária. “Prevê-se a suspensão da navegação pelo canal principal por apenas dois dias por módulo — estão planejados seis módulos, embora esse número possa ser reduzido”, declarou a pasta. A secretaria também defendeu os parâmetros atuais de retorno e CapEx, afirmando que foram “baseados em estudos robustos”.
Apesar das preocupações remanescentes, analistas e especialistas reconhecem que diversos riscos importantes — como incertezas de demanda, desafios de desapropriação e questões geotécnicas — foram adequadamente tratados. “Do ponto de vista regulatório, não vejo impeditivos. A matriz de riscos já contempla os principais pontos críticos”, afirmou Carvalho.
O leilão está marcado para o dia 1º de agosto. O contrato será concedido ao proponente que oferecer o maior desconto sobre os pagamentos anuais, que são limitados a R$ 304 milhões. Se o desconto máximo (100%) for atingido, os concorrentes poderão oferecer desconto sobre o valor da subvenção pública, que pode chegar a R$ 4,96 bilhões.
Fonte: Valor International
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