Logística brasileira é testada ao máximo com acúmulo de açúcar nos portos
nov, 01, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202343
Mais do que nunca, o mundo precisa do açúcar brasileiro para ajudar a aliviar a escassez global do produto. A congestão logística nos principais portos do país significa que este não consegue enviar o açúcar rápido o suficiente.
Mais de uma década depois de engarrafamentos em portos terem afetado a maior economia da América Latina, elevando os preços do açúcar, a logística está novamente sendo testada ao máximo. A agência de transporte SA Commodities informou que cerca de 70 embarcações estão aguardando já cerca de 20 dias para serem carregadas com aproximadamente 3 milhões de toneladas de açúcar. Isso equivale a um mês de exportações.
Para piorar a situação, um incêndio em Paranaguá, o segundo maior porto do Brasil, fechou um terminal e afetou as operações em outra instalação. E tudo isso está acontecendo enquanto uma seca na região amazônica está redirecionando o transporte de grãos dos portos do norte, aumentando a competição com o açúcar no sudeste.
“Esta é a primeira vez em anos que o Brasil está testando sua capacidade logística ao máximo”, disse Ricardo Carvalho, diretor comercial da BP Bunge Bioenergia SA, uma joint venture entre a gigante britânica do petróleo e um dos maiores negociantes de culturas agrícolas.
Colheitas recordes de soja e milho coincidiram com a uma produção também recorde de açúcar este ano. Embora a produção maior deva, em teoria, ajudar a aliviar as escassezes globais de açúcar, que já estão cotadas no preço mais alto desde 2011, a volta dos gargalos vistos na última década mantém o mundo em falta de suprimentos.
“A dependência que o mundo está criando em relação ao açúcar brasileiro é assustadora”, disse Mauro Angelo, CEO da Alvean, a maior trader de açúcar do mundo, em entrevista em São Paulo na semana passada. A empresa é controlada pela produtora brasileira Copersucar SA.
Para muitos traders de açúcar, parece que estamos revivendo o início dos anos 2010. Naquela época, o Brasil enfrentou sérios gargalos, seguidos por um incêndio no porto de Santos que interrompeu os carregamentos. A competição com as exportações de grãos também era forte, diminuindo apenas quando uma onda de investimentos logísticos no norte do país começou a surtir efeito.
Mas ao contrário de então, as condições agora apontam para um futuro incerto. Com as altas taxas de juros e os custos crescentes de construção, o alívio para os mercados de açúcar só virá com um novo terminal em Santos. A Cofco International Ltd. deve começar a operar a instalação em 2025, disse Marcelo de Andrade, diretor-geral de commodities moles.
“O mundo precisa de açúcar. O Brasil tem açúcar, mas não consegue enviá-lo, então os preços têm que subir”, disse de Andrade em São Paulo na semana passada. “Quanto tempo a festa vai durar? Até o terminal da Cofco começar a operar.”
Mesmo assim, a pressão só diminuirá por cerca de dois a três anos, antes que a produção agrícola total do Brasil cresça o suficiente para pressionar a capacidade novamente, disse Angelo, da Alvean.
Por enquanto, a logística apertada coloca os mercados de açúcar em modo de alerta.
O gráfico abaixo mostra as exportações brasileiras de açúcar em contêineres (HS 1701), medidas em TEUs, segundo o serviço de informações marítimas DataLiner.
Exportações brasileiras de açúcar | Jan 2019 – Set 2023 | TEU
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
A seca na Amazônia significa que cerca de 1 milhão de toneladas de grãos que normalmente viajariam em barcaças pela região estão sendo direcionados para portos no sudeste, segundo Carvalho, da BP Bunge. Embora os níveis de água tenham melhorado depois de atingirem mínimos históricos, a logística de açúcar deve permanecer sob pressão.
O Brasil começará a colher sua nova safra de soja ainda este ano, e muitos terminais que agora estão enviando açúcar concentrarão sua operação com oleaginosas no próximo ano. Outros pararão para manutenção anual.
Muitos já estão passando por dificuldades com chuvas intensas, o que impede que os terminais carreguem açúcar sob o risco de danificar o produto.
“A atual safra recorde de açúcar está testando os limites da já sobrecarregada logística portuária, especialmente em Santos,” disse Thierry Songeur, gerente geral da trader baseada em Paris Sucres et Denrees SA. “O mercado é vulnerável às notícias do tempo, com chuvas pesadas e duradouras provavelmente desencadeando um movimento de alta.”
O incêndio no sábado em uma esteira que atendia ao Terminal CAP em Paranaguá apenas acrescenta mais pressão a um mercado tenso. Embora a instalação da Bunge Ltd. nas proximidades deva retornar às operações completas nesta semana ou no início da próxima, no máximo, não está claro quanto tempo o CAP ficará offline.
Os terminais tinham principalmente grãos, que são tipicamente preferidos por terminais e operadores ferroviários devido à maior lucratividade. Isso provavelmente significa que a competição para o envio aumentará em outros portos.
Os gargalos dos portos já forçaram os usineiros de açúcar no Brasil a serem criativos, encontrando armazéns de terceiros para armazenar o açúcar. A Água Bonita foi uma das produtoras que alugou espaço extra.
“É um problema com certeza”, disse o diretor-gerente Flavio Ribeiro. “Mesmo tendo muito produto para vender, é o tipo de problema que gostamos de ter.”
Fonte: Bloomberg
Para ler a matéria original, acesse: https://www.bloomberg.com/news/articles/2023-11-01/a-world-desperate-for-sugar-sees-it-pile-up-in-brazilian-ports?utm_source=website&utm_medium=share&utm_campaign=copy
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