Mercado de trigo aguarda novo acordo entre Rússia e Ucrânia sobre transporte

O trigo foi uma das commodities que mais se balizaram pelos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Após o preço na bolsa de Chicago atingir o recorde de US$ 12 por bushel no início do conflito, o mercado viu no acordo de exportação de grãos pelo Mar Negro uma saída para redução das volatilidades.

Assinado em julho do ano passado entre Rússia e Ucrânia, com intermediação da Turquia e da Organização das Nações Unidas (ONU), o acordo permitiu à Ucrânia exportar grãos pelo Mar Negro, via marítima que até então estava tomada por minas russas. O prazo, que já foi renovado uma vez, expira em 18 de março. A expectativa é que haja uma nova extensão.

“O acordo conseguiu amenizar as preocupações com uma possível falta de trigo no mundo. Além disso, permitiu ao mercado adaptar-se à continuidade da guerra, pois os preços não estão mais seguindo as tensões do conflito, e o escoamento pelo Mar Negro não foi interrompido”, destaca Jonathan Pinheiro, gestor de risco de trigo da StoneX.

Negociações difíceis

Embora muitos analistas esperem mais uma renovação do acordo, as críticas do presidente russo, Vladimir Putin, ao pacto tornam difíceis previsões certeiras. A Rússia vem alegando que a Ucrânia estaria destinando seus grãos principalmente para países do Ocidente, ao invés de mandá-los para nações mais pobres.

A Ucrânia, por sua vez, alega atrasos nas inspeções de embarques de navios no Centro de Coordenação Conjunta (JCC, na sigla em inglês), responsável pelo acordo. Segundo a Associação de Grãos da Ucrânia, a Rússia estaria atrasando deliberadamente a saída dos navios nos portos ucranianos.

“Caso não seja renovado, o prêmio pelo risco de guerra vai voltar a impactar os preços internacionais, em um momento em que já temos um aperto na oferta global de trigo”, diz Pinheiro.

“Veremos um estresse nos preços em Chicago. Talvez não nos patamares recordes no início da guerra. De qualquer modo, o fim do corredor de exportação gera uma grande incerteza no mercado, já que 30% da oferta global de trigo vem de Rússia e Ucrânia”, complementa Roberto Sandoli, gerente de grãos da Hedgepoint Global Markets.

Especialistas avaliam que a Rússia tem interesse na renovação. “Até o momento, a Rússia exportou 24 milhões de toneladas de trigo das 43,5 milhões estimadas para a temporada 2022/23. Os embarques mensais estão acima do esperado, com 3,7 milhões de toneladas em janeiro, enquanto a média é de 2,1 milhões. A Rússia precisa de um cenário perfeito para conseguir escoar toda sua produção de trigo esperada para esta safra, e, sem o acordo, isso fica impossível”, afirma Pinheiro.

Neste momento, o que se vê é um ritmo lento nos embarques de grãos da Ucrânia, diante da incerteza sobre o corredor de grãos.

Fonte: Valor Econômico

Para ler a reportagem original, acesse: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2023/02/24/mercado-de-trigo-aguarda-novo-acordo-entre-russia-e-ucrania-sobre-transporte.ghtml

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