Mesmo fora de sanções, empresas russas de fertilizantes encaram ‘estrangulamento’
abr, 22, 2022 Postado porSylvia SchandertSemana202217
As sanções econômicas impostas à Rússia por causa da guerra na Ucrânia não incluem veto às exportações de fertilizantes. Ainda assim, grandes fornecedores russos desses insumos, como Acron, PhosAgro, Uralkali e EuroChem, têm enfrentado uma série de obstáculos decorrentes dos embargos que, na prática, afetam o comércio do segmento.
Os problemas para pagar dívidas, obter classificação de crédito — um pré-requisito essencial na busca por empréstimos no mercado externo — e receber investimentos, por exemplo, são reflexo das restrições dos Estados Unidos e aliados ocidentais ao sistema bancário russo, mas não se restringem a elas: as sanções têm impactos sobre as regras de conformidade (ou “compliance”) dos bancos ocidentais — os quais, a partir dos embargos, acabam redesenhando suas próprias normas, que podem ser até mais rigorosas do que as dos governos.
Ainda que haja particularidades em cada caso, as empresas de fertilizantes têm enfrentado situações similares, de acordo com as notas à imprensa que divulgaram entre março e abril. Um dos entraves é com as agências de classificação de risco, que deixaram de informar as notas de crédito de algumas dessas companhias.
A PhosAgro, uma importante fornecedora de adubos fosfatados, informou que Moody’s, Fitch e S&P retiraram as classificações de crédito da empresa. A exclusão baseou-se em uma decisão da União Europeia, anunciada em 15 de março de 2022, que “impede que as agências sediadas no bloco atribuam classificações de crédito a empresas russas e forneçam serviços de classificação a clientes russos”, diz comunicado da companhia de 4 de abril. O grupo Acron publicou informação similar, mas citou Moody’s e Fitch.
Sem publicação de balanço
Com o estrangulamento das empresas de fertilizantes imposto pelas sanções, a PhosAgro informou ainda que não vai publicar seus resultados operacionais e financeiros referentes ao primeiro trimestre. Segundo a companhia, a decisão deveu-se à suspensão das negociações de seus Global Depositary Receipts (GDRs), certificados bancários que permitem que investidores estrangeiros negociem as ações de uma empresa fora do país de origem da emissora dos papéis.
“[…] A PhosAgro sempre publicou simultaneamente os relatórios para acionistas e para investidores que possuem Global Depositary Receipts. Tendo em vista a suspensão da negociação dos GDRs da companhia, a divulgação dos resultados operacionais e financeiros beneficiaria alguns investidores em detrimento de outros”, diz a nota.
EuroChem e Uralkali, por sua vez, já relataram que têm tido dificuldade para arcar com pagamentos de compromissos de dívida. Em meados de março, a EuroChem informou que enfrentava problemas para pagar os juros de uma operação envolvendo eurobonds (títulos de dívida).
Também no mês passado, a Uralkali não conseguiu fazer o pagamento de uma parcela de empréstimo sindicalizado pré-exportação para o Credit Agricole Corporate & Investment Bank. A companhia, que produz potássio, tenta agora evitar um problema similar ao da EuroChem.
Em nota do último dia 14, a Uralkali disse que, “à luz das incertezas relacionadas aos processamentos de pagamentos transfronteiriços, restrições regulatórias e atrasos experimentados por empresas russas”, está buscando meios alternativos para conseguir pagar os juros de eurobonds que vencem no próximo dia 22. No comunicado, a companhia sugere que os investidores entrem em contato com sua tesouraria para receber orientações.
Fonte: Valor Econômico
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