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‘Não vai voltar’: Agricultores da Argentina enfrentam seca e colheita encolhendo
fev, 05, 2025 Postado porDenise VileraSemana202506
Em meio às suas plantações, rodeado por altas plantas de milho secas, o agricultor Dario Sabini inspeciona as espigas de milho menores do que o normal, antes de pegar as folhas amareladas da cultura que deveriam estar verdes nesta época do ano, para amassá-las entre seus dedos.
“Aqui estamos vendo milho que já foi. A planta já está amarela, não vai voltar”, disse o agricultor da cidade de Veinticinco de Mayo, a cerca de 200 quilômetros a oeste de Buenos Aires. A cidade foi atingida pela recente seca.
O clima seco forçou as bolsas de grãos da Argentina, maior exportadora mundial de óleo e farelo de soja e a terceira maior exportadora de milho, a cortar suas previsões para a colheita atual, embora agricultores como Sabini digam que a realidade provavelmente seja pior.
“A matemática deles não bate”, afirmou.
Sabini, que produz soja, milho e carne bovina em uma fazenda de mais de 3.000 hectares, é um dos milhares de produtores rurais na Argentina afetados pelo clima seco e quente desde janeiro, no contexto do fenômeno climático La Niña.
O clima árido resultou em sucessivas reduções nas previsões de colheita. A Bolsa de Grãos de Buenos Aires estima atualmente 49,6 milhões de toneladas de soja e 49 milhões de toneladas de milho para a colheita 2024/25 – embora esse número possa cair ainda mais.
“Tem que chover. Tomara que chova logo e a gente consiga melhorar para rendimentos de 2.000 quilos (por hectare). Com menos do que isso, é muito complicado”, disse o agricultor Juan Gardey, em pé ao lado de plantas de soja murchando no calor seco em Veinticinco de Mayo.
“Você vê muitas flores abortadas e percebe que o desenvolvimento delas parou.”
A queda na colheita pode se tornar um grande problema para a Argentina, que depende fortemente das exportações de grãos para gerar a moeda estrangeira tão necessária para sustentar sua economia combalida. Esses dólares ajudam a aumentar os cofres do estado e sustentam a moeda local, o peso.
No entanto, o agroclimatologista Eduardo Sierra, que assessora a Bolsa de Grãos de Buenos Aires, disse que as colheitas de soja e milho provavelmente terminarão bem abaixo das previsões atuais, dependendo de quando as chuvas chegarem.
“Se começasse a chover agora, você poderia ter 45 milhões de toneladas de cada cultura. A cada semana de fevereiro que passar sem chuva, você perde mais 5 milhões de toneladas”, afirmou, estimando que tanto a soja quanto o milho acabarão mais próximas de 40 milhões de toneladas.
A colheita anterior produziu cerca de 50,2 milhões de toneladas de soja e 49,5 milhões de toneladas de milho.
A maioria dos especialistas prevê que a chuva chegue nas próximas semanas, mas a quantidade e a área de cobertura são grandes incógnitas.
Após uma recente onda de calor, a Bolsa de Buenos Aires prevê chuvas irregulares à frente que podem melhorar a situação das colheitas em grande parte das terras agrícolas da Argentina, mas alertou que as chuvas “deixarão algumas áreas sem alívio.”
MENOS IMPOSTOS, MAIS VENDAS?
Com os altos custos de insumos e aluguel, agravados pelos preços internacionais mais baixos do que nos anos anteriores, a situação se tornou crítica para alguns agricultores.
“O cenário é bastante incerto, os rendimentos vão ser baixos tanto para o milho quanto para a soja. Basicamente, tudo está complicado”, disse o agricultor José Cozzi, da região de Lobos, na província de Buenos Aires, à Reuters.
Preocupado com a situação, o governo do presidente libertário Javier Milei cortou no mês passado os impostos sobre exportações agrícolas, pelo menos até o final de junho, para acelerar as vendas de grãos que geram a moeda estrangeira de que o país precisa.
No entanto, os agricultores afirmaram que o benefício que estavam vendo com os preços locais mais altos não refletiu completamente os cortes de impostos de 33% para 26% para a soja, de 31% para 24,5% para a soja processada e de 12% para 9,5% para o milho e o trigo.
Dados da Bolsa de Grãos de Rosario mostram que o preço da soja subiu de 295.500 pesos antes dos cortes de impostos para cerca de 315.000 pesos no final da semana passada, mas com volume de negociação limitado.
“O preço da soja não mudou muito, houve um aumento, mas não foi realmente significativo”, disse Gardey. “Imagino que, assim como nós, muitos produtores também tenham muito pouco estoque para vender hoje.”
Javier Domínguez, que cultiva nas cidades de Suipacha e Mercedes, na província de Buenos Aires, disse que o impacto da seca, somado ao benefício limitado dos cortes de impostos, irá reduzir o impacto nas exportações.
“Com colheitas deficitárias como essas, acho que a redução de impostos não vai ter o efeito desejado”, afirmou.
Fonte: Reuters
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