“Navegação em tempos de incerteza: Desafios, riscos e oportunidades no setor marítimo global”

Em uma era marcada por crescente incerteza, o conhecimento e as fontes confiáveis são mais poderosos do que nunca. A pesquisa anual Barômetro da Câmara Internacional de Navegação (ICS), cuja quarta edição foi recentemente lançada, oferece informações críticas sobre os riscos e desafios em evolução que afetam a liderança marítima global. Com dados acumulados ao longo de vários anos, agora é possível identificar tendências, compreendendo onde a indústria se sente confiante, onde estão as vulnerabilidades e como essas dinâmicas moldam as decisões operacionais.

Alguns riscos permanecem constantes. Os ciberataques, por exemplo, têm sido destacados como uma das principais preocupações ano após ano, refletindo a crescente dependência da digitalização e as vulnerabilidades associadas. Da mesma forma, a instabilidade política continua a ser identificada como um risco significativo, especialmente com a escalada das tensões geopolíticas. No entanto, a edição de 2023-24 do Barômetro revelou uma nova preocupação urgente: os ataques físicos maliciosos a navios e tripulações, impulsionados pelo aumento de conflitos globais.

Esses riscos não são hipotéticos; estão impactando as decisões diárias de armadores, operadores e todas as partes interessadas na cadeia de suprimentos. A ameaça crescente de instabilidade política e ataques físicos em regiões estratégicas, como o Mar Vermelho, levou os proprietários de navios a tomar decisões difíceis, mas necessárias. Redirecionar as embarcações pelo Cabo da Boa Esperança, a fim de evitar águas perigosas, tornou-se uma prática cada vez mais comum. Embora esses desvios sejam fundamentais para proteger tripulações e cargas, eles acarretam tempos de trânsito mais longos, custos aumentados e interrupções operacionais. Em resposta, portos no Mediterrâneo Ocidental e na África têm aumentado os investimentos para atender à crescente demanda, enquanto os navios evitam regiões voláteis.

Outro ponto destacado pela pesquisa Barômetro 2023-24 foi a escassez de tripulação treinada e pessoal qualificado, uma das principais preocupações dos líderes da indústria. Esse desafio está alinhado com as discussões levantadas no Summit Shaping the Future of Shipping, realizado em Manila, que abordou os crescentes obstáculos para garantir um fornecimento adequado de marinheiros qualificados. Em um mercado de trabalho global restrito, a indústria de navegação competirá por talentos cada vez mais escassos. Para atrair e reter esses profissionais, será necessário tornar o setor mais atraente para a próxima geração de trabalhadores, demonstrando um compromisso sólido com valores como diversidade, equidade e inclusão – princípios que estão se tornando cada vez mais essenciais em vários setores.

Além disso, as pressões regulatórias continuam a ser um fator preponderante na definição das operações. Isso não é surpresa, considerando os avanços nas regulamentações de gases de efeito estufa (GEE) de médio prazo, com a expectativa de adoção em 2025. Essas regulamentações são fundamentais para alcançar os objetivos de descarbonização da indústria, mas também exigem investimentos significativos e inovação. Para portos, armadores e outros envolvidos na cadeia de valor marítima, o caminho para a descarbonização depende de clareza regulatória e confiança. Diretrizes claras dos formuladores de políticas permitirão que as empresas tomem decisões de investimento de longo prazo necessárias para a transição para combustíveis verdes e operações sustentáveis.

À medida que enfrentamos esses desafios, está claro que a indústria de navegação desempenha um papel crucial, não apenas em manter os $14 trilhões do comércio global em movimento, mas também em abordar questões sociais mais amplas, como descarbonização e digitalização. Para ter sucesso, devemos garantir que o setor funcione de maneira a alcançar as metas de sustentabilidade, aproveitar os benefícios dos avanços tecnológicos e manter o comércio global fluindo sem interrupções – mesmo em águas turbulentas.

Esses riscos exigem respostas coordenadas que priorizem a segurança, a estabilidade e a continuidade do comércio global. A melhor maneira de enfrentar esses desafios é por meio de um esforço coletivo. Como voz representativa da indústria internacional de navegação, a ICS articula e defende esses fatores cruciais para o nosso sucesso, criando regulamentações de apoio e com visão de futuro para os reguladores internacionais, como a Organização Marítima Internacional (OMI) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), além de outras partes interessadas relevantes.

É aqui que o Barômetro desempenha um papel indispensável. Ao identificar preocupações comuns, medir onde as prioridades estão alinhadas e destacar áreas de divergência, o Barômetro ajuda a moldar uma abordagem coesa e informada para enfrentar os desafios mais urgentes da indústria. Ele fornece as percepções necessárias para semear as bases de um futuro no qual a navegação – e o comércio global – possam prosperar.

À medida que navegamos pelas águas turbulentas do cenário atual, é essencial entender os desafios enfrentados pelos setores individuais, pela indústria como um todo e pelas forças econômicas e geopolíticas que estão em jogo. O conhecimento, como o Barômetro demonstra, é realmente um poder. Com as informações certas, colaboração e apoio, o setor marítimo não apenas pode superar seus desafios, mas também emergir mais forte, mais resiliente e melhor preparado para o futuro.

Para participar da pesquisa Barômetro Marítimo deste ano, clique aqui.

Texto de Emanuele Grimaldi, Presidente da Câmara Internacional de Navegação

Fonte: Splash 247

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