Navio de grãos da Ucrânia chega à Turquia apesar das ameaças russas

A chegada de um navio de grãos da Ucrânia para a Turquia nesta semana confirmou a hipótese de Kiev de que a Rússia não chegaria a atacar navios comerciais no Mar Negro.

No entanto, a jogada bem-sucedida deixa uma questão maior para a Ucrânia: algum outro navio comercial seguirá os passos do Joseph Schulte e confirmará em definitivo o blefe da Rússia?

O cargueiro de propriedade alemã/chinesa foi a primeira embarcação a sair das águas ucranianas desde julho, quando a Rússia alertou que consideraria qualquer embarcação civil que deixasse os portos da Ucrânia como alvo militar.

Sua ousada jornada foi uma tentativa de mostrar que a Ucrânia poderia criar um corredor seguro através do Mar Negro que fosse resiliente o suficiente para manter suas exportações fluindo apesar da beligerância russa.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, descreveu a viagem do navio como um “passo importante para restaurar a liberdade de navegação no Mar Negro”. Na semana passada, Kiev anunciou que estava tentando criar um corredor “humanitário” no Mar Negro, permitindo que navios de carga deixassem seus portos com segurança. No entanto, analistas disseram que o transporte comercial, em escala significativa, provavelmente não será restaurado sem o acordo da Rússia.

A chegada do Joseph Schulte a Istambul na sexta-feira, após uma viagem de dois dias vindo de Odesa, onde estava atracado desde fevereiro de 2022, ocorreu após semanas de crescente tensão nas rotas marítimas. A Ucrânia ameaçou a atingir navios que se dirigiam a portos russos – e alvejou um petroleiro russo em agosto – enquanto a Rússia disparou tiros de advertência contra um navio turco que se dirigia a um porto ucraniano no rio Danúbio.

Mesmo assim, a Ucrânia prosseguiu com seu experimento, confiante de que seus sistemas de defesa terrestre – com alcance de cerca de 100 milhas náuticas – poderiam impedir a marinha russa de montar um ataque.

Durante sua viagem pelas águas ucranianas, o Joseph Schulte manteve-se dentro deste corredor, que a Ucrânia chama de “zona de destruição” [para navios russos hostis], de acordo com Dmytro Pletenchuk, porta-voz da marinha ucraniana. Os lançadores de foguetes navais ucranianos estão alinhados ao longo da costa para se defender contra qualquer ataque naval dentro de seu alcance.

A embarcação transportava 30.000 toneladas de carga, incluindo alimentos. Seus proprietários se recusaram a comentar detalhes sobre a viagem e enfatizaram que o porta-contêineres “não é um transportador de grãos”.

Os preços do trigo caíram depois que ele deixou as águas da Ucrânia, mas Carlos Mera, chefe de pesquisa de mercado de commodities agrícolas do Rabobank em Londres, disse que é improvável que seja o único fator no mercado “extremamente volátil”.

Evidências de outros navios pegando cargas da Ucrânia com sucesso, em vez de apenas deixar suas águas, podem reduzir os preços, disse Mera. No entanto, isso permanece “muito improvável” sem o acordo da Rússia.

Fonte: Financial Times

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